Developer: SEGA / Lizard Cube
Plataforma: Xbox Series S|X, Xbox One, PS5, PS4, Nintendo Switch e PC
Data de Lançamento: 29 de agosto de 2025

Para quem, como eu, nasceu na década de 80, é difícil não ouvir a palavra Shinobi e não se lembrar da mítica série de videojogos da SEGA. Aliás, Shinobi é, ao lado de Sonic e de Alex Kidd, as mascotes da marca japonesa da altura e, ainda hoje, das mais reconhecíveis de sempre. As cores das vestimentas de Joe Musashi podem ter mudado ao longo dos vários jogos e das plataformas da SEGA onde apareceu, mas foi sempre imagem de marca.

Os números da franquia Shinobi são bastante impressionantes, foram mais de 4,6 milhões de cópias vendidas em todo o mundo, divididas pelos 13 títulos lançados para 35 plataformas ao longo de 39 anos de existência. Como dizia, foi um ícone da SEGA, mas não saiu apenas para as suas plataformas, no caso, a Master System, a Mega Drive ou a SEGA Saturn, mas todas as outras, mais tarde ou mais cedo através de remasters ou reedições.

No entanto, a verdade é que um novo jogo Shinobi já não aparecia no mercado deste o Shinobi 3DS, para a Nintendo 3DS lançado em 2011. Nesse recuávamos no tempo para controlar Jiro Musashi, pai de Joe Musashi, em 1256, na Era Kencho no Japão. O jogo era em formato tridimensional, mas mantinha a fórmula de um scroller com alguns mini-jogos à mistura e com um arte gráfica, especialmente nas cutscenes e em poderes utilizados muito próximos, ou melhor dizendo, talvez inspiradores para este novo jogo que nos chegou agora.

SHINOBI: Art of Vengeance é uma homenagem a todos os jogos da franquia, onde as cores do fato ninja de Joe Musashi estão lá todas, umas desbloqueáveis, é claro, mas a arte do jogo é quase que como um tributo à imagem que hoje pode ser criada devido à tecnologia presente e que esteve sempre no horizonte de Yutaka Sagano quando o imaginou na década de 80. Da jogabilidade à banda sonora, tudo exulta neste jogo aquilo que sempre foi e que podia ser feito com o reviver da série e da sua personagem central. De facto, a ideia da SEGA, apresentada há algum tempo de que iria revitalizar jogos como o Jet Set Radio, Crazy Taxi e Golden Axe, e que teve neste SHINOBI: Art of Vengeance o seu primeiro passo, só confirma que foi uma jogada de mestre.

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Na campanha de SHINOBI: Art of Vengeance, acompanhamos o regresso de Joe Musashi, líder do clã Oboro, que vê a sua aldeia ser devastada logo na introdução. Movido pelo desejo de vingança, Joe parte numa missão contra o vilão Lord Ruse, líder da organização paramilitar ENE Corp. Ao longo da narrativa, surgem figuras centrais como a sua esposa Naoko e a aprendiz Tomoe, que enriquecem o enredo e servem de pano de fundo para combates intensos contra soldados futuristas, demónios e ninjas rivais.

O jogo está dividido em 12 fases, que são desbloqueadas em blocos à medida que o jogador progride. Por exemplo, após concluir o primeiro estágio, três novas fases ficam disponíveis e podem ser completadas em qualquer ordem. Há ainda Bonus Stages que têm uma jogabilidade própria, quer seja a perseguir um inimigo em cima de Okami, quer seja em cima de uma prancha sob o mar, é um tónico depois de um ciclo de batalhas. Cada cenário procura explorar diferentes aspetos da jogabilidade. Algumas fases são mais lineares, centradas em combates diretos e intensos, enquanto outras oferecem maior liberdade, com múltiplos objetivos espalhados, caminhos secretos e colecionáveis escondidos. Muitos destes segredos exigem o regresso a áreas já visitadas, apenas acessíveis quando Joe desbloqueia novas habilidades – inserindo-se no género metroidvania. No final de cada fase, os jogadores enfrentam um Boss poderoso, cuja derrota garante sempre uma melhoria significativa para Joe, expandindo assim o leque de movimentos e possibilidades estratégicas.

A diversidade de oponentes em SHINOBI: Art of Vengeance é um dos elementos que mantém o ritmo sempre fresco. Cada inimigo apresenta padrões de ataque distintos: há os que lançam shurikens à distância, os que avançam para o combate corpo a corpo com golpes amplos e pesados, além de inimigos ágeis, arqueiros, utilizadores de magia e muitos outros. Essa variedade obriga o jogador a ajustar constantemente a sua abordagem, testando diferentes combinações de movimentos, ninjutsu e amuletos.

O destaque, no entanto, vai para os Bosses, que oferecem verdadeiros duelos de habilidade e espetáculo visual. Cada encontro é construído em torno de mecânicas exclusivas, garantindo batalhas memoráveis que exigem leitura dos padrões, paciência e criatividade. Entre as surpresas, está ainda o regresso de um Boss clássico do primeiro jogo da série, que aqui surge como uma homenagem bem humorada — mesmo não sendo o mais complexo em termos de design, cumpre o papel de acenar ao legado da franquia.

O sistema de combate é altamente viciante. Começamos com um conjunto básico de ataques a curta distância com a Katana (ataque leve e pesado) e com ataques de média/longa distância com Kunais e dive-kick, o que pode parecer pouco e algo repetitivo na teoria, mas rapidamente percebemos que esse não vai ser o caso. É que à medida que avançamos no jogo, e de forma sempre equilibrada, vamos expandindo os nossos movimentos com os ataques básicos a tornarem-se combos e com o desbloquear de novos movimentos na loja do jogo, os combos podem mesmo tornar-se um festim visual de puro chacina. Com movimentos aéreos, variações de combos com os dois ataques e posteriormente também encaixando os movimentos de dash, o jogo desafia-te a dominar o sistema de combate para superar os desafios mais complicados e a dar um sentimento de recompensa muito grande.

Para apimentar as coisas um pouco mais temos ainda os Ninpo, que são técnicas ofensivas que só podem ser utilizadas quando carregamos a sua barra ao fazermos execuções, e que nos dá a oportunidade de escolher 4 ataques específicos. Obviamente que como vão desbloquear vários vão poder escolher-los a qualquer altura no menu do jogo, mas passam por cuspir fogo, lançar um shuriken gigante, um ataque relâmpago, lançar uma bomba, entre outros.

Por outro lado e, com uma animação muito especial, temos os Ninjutsu que só podemos utilizar quando enchermos a barra de Rage, barra essa que só é aumentada com dano sofrido ou execuções feitas aos adversários. Quando o despoletamos e também há vários tipos de Ninjutsu, vemos uma animação especial, por exemplo com os dragões a cuspirem fogo nos adversários. Por fim, referir que falei de execuções e explicar apenas que o lançar kunais nos inimigos ou alguns ataques rápidos fazem com que fiquem desprotegidos e isso faz com que apareça um símbolo em cima da sua cabeça que identifica que podemos fazer uma execução, também ela com uma animação especial, que nos dára mais moedas, vida, kunais ou rage.

A exploração desempenha um papel crucial. O mapa destaca os caminhos secundários a roxo, convidando o jogador a regressar para desbloquear recompensas extra, habilidades inéditas e itens raros. Muitos desses percursos alternativos escondem inimigos especiais, desafios opcionais ou atalhos que recompensam a persistência e a curiosidade.

Entre os colecionáveis mais importantes estão as Oboro Relics, relíquias essenciais que permitem desbloquear novos itens na loja. A sua gestão inteligente é parte integrante da progressão, encorajando o jogador a explorar cada canto dos cenários para tirar o máximo proveito do arsenal e das habilidades de Joe Musashi. Destaque ainda para os amuletos que podem ser passivos ou activos e que dão também a oportunidade de criarmos quase a nossa build juntamente com as habilidades, os Ninpo e os Ninjutsu. Os amuletos podem fazer com que o nosso dano se superior quão mais elevado for o valor de combo, pode fazer com que recebamos vida por derrotar inimigos, ou as kunais perfurarem os inimigos e assim atingir mais de seguida, entre outros.

Dado que certas fases podem ter uma duração surpreendentemente longa, o jogo integra estátuas de serpente distribuídas ao longo dos mapas. Estas funcionam tanto como pontos de restauração de vida, como de salvamento e teletransporte. O sistema de gravação automática nesses locais permite que o jogador interrompa a sessão a meio de um nível sem perder o progresso, garantindo maior flexibilidade e respeito pelo tempo de jogo de cada um.

Os jogadores vão atravessar uma grande variedade de ambientes: cadeias de montanhas, campos ondulantes de capim, laboratórios secretos, desertos abrasadores, cidades iluminadas a néon e festivais de luzes. Cada cenário é composto com detalhe e personalidade, reforçando o tom cinematográfico da jornada de Joe Musashi. É impossível não embasbacar em vários momentos do jogo onde até nos esquecemos que estamos a controlar a personagem e que há inimigos para derrotar, de tão bonito que o jogo é.

A equipa da Lizardcube manteve a essência clássica em 2D, mas revestiu-a com técnicas modernas que conferem nova vida ao legado da série. Efeitos de impacto vibrantes, iluminação dinâmica e cenários ricamente detalhados transmitem a sensação de estar a assistir a um anime energético a ganhar vida diante dos olhos.

O design dos níveis merece destaque à parte: cada fase não se limita a oferecer variedade de jogabilidade, mas apresenta também uma identidade estética própria e memorável. Desde becos sombrios iluminados por lanternas até templos carmesim banhados pelo pôr do sol, passando por distritos urbanos futuristas pulsando de néon, tudo impressiona pela atenção ao detalhe e pela atmosfera inconfundível. A inspiração nas artes marciais orientais está presente em cada quadro, reforçando o peso cultural e visual da obra.

A banda sonora também não é um mero detalhe, com o trabalho de Yuzo Koshiro (The Revenge of Shinobi, Streets of Rage, Shenmue) e Tee Lopes (Sonic Mania, Streets of Rage 4, TMNT: Shredder’s Revenge). Tiago ‘Tee’ Lopes é um compositor luso-americano que trabalhou nas trilhas sonoras de vários jogos do Sonic the Hedgehog, tendo ganhado notoriedade pela suas remisturas de músicas clássicas do Sonic no YouTube. Yuzo Koshiro, é uma lenda da música de videojogos, tendo criado a fantástica trilha sonora para os jogos Streets of Rage e vários outros títulos, incluindo o clássico SEGA Mega Drive/Genesis de 1989, The Revenge of Shinobi. O trabalho de homenagear a franquia com pequenos apontamentos dos tempos dos 16 bits com a modernidade, encaixa na perfeição nos vários andamentos que impõem na música dando uma maior imersão do jogador.

SHINOBI: Art of Vengeance apareceu que nem um ninja neste ano de 2025, mas facilmente será considerado um dos jogos do ano. Não é apenas um regresso triunfante de uma das séries mais icónicas da SEGA, é também uma prova de que clássicos podem renascer sem perder a sua identidade. A Lizardcube conseguiu captar a essência do que tornou Joe Musashi memorável nos anos 80 e 90, ao mesmo tempo que elevou a experiência com mecânicas modernas, visuais impressionantes e uma banda sonora de luxo. O resultado é um título que honra o legado da franquia e, ao mesmo tempo, abre portas para uma nova geração de jogadores descobrir o fascínio do clã Oboro. Para os veteranos, é um reencontro emocionante; para os novatos, uma porta de entrada para um mundo de ninjas, honra e vingança que se mantém tão vibrante como há quase quatro décadas.

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Pedro Moreira Dias
Fundador do Site - Salão de Jogos, o Commodore Amiga 500 foi o seu melhor amigo durante décadas e ainda hoje sabe de cor a equipa principal do Benfica do Sensible Soccer 94/95. Nos tempos vagos ainda edita as botas dos jogadores do FIFA e do PES.
analise-shinobi-art-of-vengeance<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Regresso icónico com Joe Musashi a voltar em grande estilo</li> <li style="text-align: justify;">Combate viciante e um sistema fluido com combos, execuções, Ninpo e Ninjutsu</li> <li style="text-align: justify;">Exploração metroidvania com fases com segredos, caminhos alternativos e progressão estratégica</li> <li style="text-align: justify;">Visual deslumbrante com arte moderna em 2D que mistura anime e tradição japonesa</li> <li style="text-align: justify;">Banda sonora composta por Yuzo Koshiro e Tee Lopes</li> </ul>