Developer: Full Circle
Plataforma: PS5, PS4, Xbox One, Xbox Series S|X e PC
Data de Lançamento: 16 de setembro de 2025
Quinze anos depois de Skate 3, a espera terminou. O anúncio do regresso da série foi recebido quase como um mito tornado realidade, e com ele vieram expectativas altíssimas. A EA e o estúdio Full Circle decidiram trazer de volta uma das franquias mais queridas do género, mas em vez de olhar para trás, apostaram num modelo atual: um jogo free-to-play, live service e em constante evolução. A convite da editora, tivemos acesso a uma apresentação exclusiva de skate., oportunidade de conversar com developers e, claro, experimentar o jogo em acesso antecipado, e agora fazemos uma análise mais completa.
O resultado é um título ambicioso, que respira cultura urbana, mas que ainda se encontra a meio caminho entre promessa e realidade. Desde logo, o coração da experiência mostra se intacto: o icónico sistema de controlo Flick-It. A sua reinvenção é convincente, mantendo a dificuldade e a precisão que definiram a série, mas adicionando fluidez e acessibilidade para novos jogadores. Aterrar um truque perfeito continua a ser recompensador como poucos videojogos conseguem transmitir, e agora há novos movimentos — como wallies, slappies e firecrackers — que expandem as possibilidades criativas. Aqui, não tenho dúvidas: a sensação de andar de skate virtual está de volta e continua a ser insubstituível.
O palco para essa experiência é San Vansterdam, uma cidade viva concebida como um enorme parque de diversões urbano. Dividida em quatro bairros distintos — Hedgemont, Gullcrest, Market Mile e Brickswich —, cada zona tem a sua própria identidade, terreno e estilo. Do interior de catedrais a telhados e canais, quase todo o mapa é skateável. O arranque faz-se na Isle of Grom, uma área introdutória que ensina as bases antes de o jogador mergulhar na cidade. O design incentiva a exploração e a improvisação, recriando a forma como os skaters veem potencial em qualquer esquina ou escadaria. E, ao contrário de jogos que se fecham em circuitos pré-definidos, skate. aposta na imaginação e no espírito comunitário, com a promessa de temporadas e atualizações moldadas pelo feedback dos jogadores.

Os quatro bairros de San Vansterdam
A metrópole divide-se em quatro zonas distintas, cada uma com a sua identidade própria:
- Hedgemont: o ponto de partida da vossa jornada. Aqui, com a ajuda da vossa companheira digital Vee e do Conselho da Cidade de San Van, vão aprender sobre Missões, Desafios, lojas Slappy’s e o conceito de skater eyes — a forma como os skaters vêem oportunidades de manobra em qualquer canto da cidade. Entre linhas criativas e desafios de acrobacias, Hedgemont está cheio de spots icónicos, incluindo um skatepark debaixo da ponte, a zona ribeirinha e até o Skateway, uma via elevada que liga os bairros de toda a cidade.
- Gullcrest Village: desbloqueado após completarem um número suficiente de desafios, este bairro expande a verticalidade da experiência com novos espaços para explorar.
- Market Mile: arranha-céus, passadiços elevados e a costa urbana de San Vansterdam definem esta área. Aqui, um skatepark central e um community park oferecem terreno fértil para sessões intensas. Apesar do brilho moderno, o bairro esconde segredos à espera de serem descobertos.
- Brickswich: talvez o bairro mais radical, cheio de linhas curvas, estádios imponentes e um skatepark junto ao passeio marítimo. O destaque, porém, vai para a verticalidade: torres entre as quais os jogadores podem literalmente voar, rampas, quarter pipes e piscinas vazias prontas a serem exploradas. É a zona perfeita para quem procura sessões aéreas e arriscadas.

Missões e desafios estruturam o progresso. As missões introduzem skaters locais, servem de guias e desbloqueiam novos espaços. Já os desafios trazem variedade — desde percursos onde é preciso acertar linhas criativas até competições pelo controlo de spots icónicos, passando por objetivos que envolvem falhar com estilo em quedas propositadas. Apesar da diversidade, senti por vezes que a repetição se instala cedo demais, transformando a experiência num grind que pode desgastar os mais persistentes. O roadmap que a Full Circle delineou para o primeiro ano será decisivo: sem novidade constante, a faísca pode apagar-se rapidamente.
Tipos de desafios
A EA também revelou alguns dos principais formatos de desafios:
- Line: seguir um percurso definido, recolhendo bearings e realizando truques enquanto se persegue uma pontuação mínima.
- Stunt: aqui, a queda faz parte do jogo — o objetivo é falhar com estilo, atingindo alvos específicos durante wipeouts.
- Own the Spot: competir pelo maior número de pontos nos melhores locais da cidade, com bónus por completar tudo numa única sequência.
- Session: um modo clássico em que os jogadores têm de executar truques específicos, completar objetivos de pontuação e desafios dentro de uma área delimitada.
Mas skate. não é apenas sobre truques. A dimensão social é talvez a maior aposta do estúdio. Os Community Parks, renovados a cada temporada, trazem colaborações com eventos reais como o Dime Glory Challenge. As ferramentas Throwdown permitem criar competições improvisadas em qualquer esquina da cidade. E o modo Spectate transforma San Vansterdam numa rede social viva, onde é possível assistir às sessões de outros jogadores, alternar como quem faz zapping e até teletransportar-se para se juntar à ação. É uma visão ousada: fazer do skate digital não só um jogo, mas um espaço de partilha.

Um mundo social sempre ativo
Para além das sessões de skate em grupo, skate. traz várias funcionalidades sociais pensadas para aproximar os jogadores:
- Spectating: através do menu social, é possível entrar como espectador e assistir às manobras de qualquer jogador online.
- Teleport to Friends: se alguém encontrou um novo spot ou construiu algo criativo, basta teletransportar-se até lá para participar.
- Party Up: convites para grupos e interações com outros jogadores podem ser feitos facilmente através dos menus sociais, ou diretamente ao interagir com skaters próximos.

Nem sempre apetece estar no centro da ação. Às vezes, basta assistir a outros jogadores, descobrir novos spots ou inspirar-se em linhas criativas. Foi precisamente a pensar nisso que skate. vai incluir um modo Spectate completo e interativo, com a opção de Spectaport para mergulhar instantaneamente na sessão de outro jogador.
Com o Spectate, qualquer utilizador pode:
- Ver qualquer skater do servidor e acompanhar as suas manobras em tempo real;
- Descobrir hotspots, desde spots criativos até sessões de grupo com dezenas de jogadores;
- Alternar entre jogadores como quem muda de canal, trazendo uma verdadeira experiência de “zapping” dentro do jogo;
- E, graças ao Spectaport, teleportar-se diretamente para a sessão que está a assistir e juntar-se à ação de imediato.

De facto a Full Circle quer manter os jogadores sempre ocupados, mas para isso, terá que desenvolver um roadmap robusto para que exista sempre algum factor de novidade, algum desafio, uma nova recompensa, ou apenas um novo objectivo para os skaters pegarem na sua prancha. Quando questionados sobre esta questão, a equipa de desenvolvimento liderada nesta apresentação por Mike Mccarttney, Excutive Producer e Jeff Seamster, Head of Creative, explicaram-nos que já existem temporadas delineadas para aquele que será o primeiro ano de Acesso Antecipado do jogo e que, se tudo correr da melhor forma, culminará com o lançamento do jogo “completo”. Esse mesmo roadmap vai também introduzir mecânicas novas, novos locais que serão desbloqueados ou mesmo zonas do mapa que poderão ser expansionadas, segundo os mesmos.

Algo que os developers refiram com alguma vivacidade é o facto de finalmente terem a oportunidade de desenvolver o Skate que sempre quiseram, em constante evolução, em expansão e com o mesmo motor de jogo, neste caso o Frostbite, não olhando para um jogo que ficava fechado na sua própria edição e cujos fãs precisam de esperar mais 3 ou 4 anos para ver novidades e actualizações e melhorias.
Em termos técnicos, em termos de mecânicas e em termos de level design, a equipa demonstrou-se sempre entusiasmada com esta implementação de GaaS, para ser jogado de forma gratuita, em que apesar de existirem microtransações no jogo, estas não passaram de opções cosméticas e nunca no formato pay for win. Aliás, até em termos de banda sonora, algo que já me parece de senso comum nos jogos de skate, é fundamental, porque sempre esteve interligada com a cultura skater, também poderá ser agora actualizada com novas bandas e novas músicas. Bastava olhar para as prateleiras atrás de Deran Chung, Senior Creative Director do jogo, para ver as carradas de vinis que tinha na sua casa, e para a forma entusiasmada com que falava da banda sonora, que contém nomes como Turnstile, Earth, Wind & Fire, Panda Bear, Car Seat Headrest, Civic ou Little Simz, para perceber como é parte fulcral de skate.
Todos os locais foram criados para serem efectivamente um parque de diversões, mas o variado tipo de desafios e missões, dá-nos um guia para aprendermos e construirmos o nosso estilo e partilha-lo com os amigos. A escolha de um visual mais cartoonesco dá-lhe um ar mais social, deixando-o voar em acções e desafios menos “realistas” e foi uma clara aposta da Full Circle para conseguir ter servidores com até 150 jogadores no mapa e sem perder a performance.
No campo da monetização, a promessa é clara: microtransações apenas cosméticas. Até agora, isso tem sido cumprido, mas a sombra do histórico da EA obriga a prudência. Pelo menos, o facto de o jogo ser gratuito quebra barreiras de entrada e permite que qualquer pessoa experimente. A Full Circle garante que este é apenas o começo de um projeto em constante crescimento, e acredito no potencial.

A verdade é que skate. pareceu-me preparado para se tornar o jogo de referência de skate do futuro, vai depender muito do conteúdo que vai trazer ao longo do tempo, das tais temporadas, e da participação da comunidade, porque por mais desafios que possam surgir, o jogo ganha uma outra dimensão no formato comunitário. Porque não podemos esquecer que é um jogo free to play e que a sua manutenção se baseia na quantidade de pessoas a jogar e a permanecerem no mesmo, mas que tem todos os ingredientes para apaixonar os fãs de skate, não tenho dúvidas nenhumas.



