Developer: Protocol Games, Raiser Games
Plataforma: PlayStation 4, Xbox One e PC
Data de Lançamento: 28 de Maio de 2021
O género dos survival horrors tem crescido bastante ao longo dos tempos. Um estilo que sempre apelou um nicho de jogadores, e que parece conhecer agora um dos seus melhores períodos, com cada vez mais exemplares a serem lançados.
É um género que se mantém vivo muito graças aos estúdios independentes, que veem aqui uma oportunidade não só de amadurecer, como de seguirem uma visão artística mais livre. E é sempre fascinante notar como cada proposta nos tenta conduzir para as armadilhas do suspense.
Ora, é exactamente o caso do estúdio espanhol Protocol Games, que mais uma vez recorreu à abordagem Lovecraftiana que é tão comum neste tipo de jogos. Song of Horror foi lançado inicialmente no Steam, numa série de cinco episódios entre Outubro de 2019 e Maio de 2020, com o total dos episódios a chegar agora também às consolas PlayStation 4 e Xbox One com uma Complete Edition.
Song of Horror foi muito bem recebido aquando do seu lançamento no PC, reunindo críticas muito favoráveis e sendo praticamente um jogo obrigatório para quem é fã do género. E com razão, porque embora se inspire em mecânicas que podemos encontrar em jogos como Until Dawn, consegue, ainda assim, levar o jogador a participar na narrativa de uma forma muito original.
https://www.youtube.com/watch?v=XcICh3Lrd8g
Tudo começa com Sebastien P. Husher, um autor de ficção que desaparece com a sua família sem deixar rasto. Preocupado, o seu editor envia um assistente para descobrir informações, começando por procurar na mansão do escritor.
Infelizmente para ele, será surpreendido com o que está na origem do desaparecimento da família Husher, e que provavelmente se relaciona com uma caixa de música que entoa uma composição sinistra, e contém uma entidade do mal à qual chamam de “The Presence”.
Isto fecha a breve abertura e transporta-nos para o começo do jogo propriamente dito, onde conhecemos as primeiras personagens. No primeiro episódio podemos escolher entre quatro personagens (outras ficarão disponíveis nos episódios seguintes), e cada uma tem uma pequena introdução sobre o seu passado, além do valor de cada característica (Speed, Stealth, Strength e Serenity) – qualidades essas que terão depois influência na jogabilidade.
Uma curiosidade é que os níveis de dificuldade estão divididos por nomes de escritores com um enorme peso na literatura, como E.T.A. Hoffman, M. R. James, Edgar Allan Poe e H.P. Lovecraft. Para quem não sabe, os dois últimos são conhecidos pelas obras de suspense e terror, e equivalem aos dois níveis mais altos de dificuldade.
Um dos principais elementos de Song of Horror, está na particularidade das personagens terem morte permanente. Algo que abrange todos os níveis de dificuldade à excepção do mais baixo.
É-nos recomendado que joguemos na dificuldade Edgar Allan Poe, já que o jogo foi especialmente desenhado para ser experienciado deste modo, onde a inteligência artificial, ou melhor – The Presence –, tem uma vertente adaptável que vai criando eventos que se ajustam ao nosso próprio ritmo e decisões.
À semelhança de jogos como Silent Hill e Resident Evil, explora a atmosfera macabra de investigação, em que vamos desvendando os detalhes do enredo através de notas e outros documentos que vamos encontrando. Há também uma forte componente de puzzles, em que vamos interagindo e combinando objectos de maneira a podermos progredir na história.
A lanterna com a qual estamos equipados ajuda a criar alguma tensão, e é preciosa do ponto de vista psicológico, uma vez que é a única coisa que nos separa da escuridão. Os sustos estão incrivelmente bem preparados, e acontecem quando menos esperamos, o que a dado momento nos deixa em constante sobressalto.
São precisamente essas emoções que vão condicionar as nossas reacções nas alturas dos quick-time events, cujo pânico para pressionarmos os botões certos causam óptimos momentos de terror. No entanto, não é perfeito, visto que a perspectiva da fixed-cam, tem os seus problemas e causa alguma frustração, atrapalhando demasiadas vezes.
É uma perspectiva que costuma funcionar nestes jogos, basta nos lembrarmos dos títulos da Supermassive Games e mesmo nos primeiros Resident Evil, porém, não está afinado da melhor maneira em Song of Horror. O mesmo acontece na interacção com os objectos, que obriga a alguma insistência quando nos queremos direcionar para um local específico.
Apesar de não impressionar graficamente, também não desilude, e tem várias qualidades. É incrível a dedicação dada aos detalhes das decorações, sempre sinistras e sombrias, o que cria uma fantástica ambientação de ansiedade e paranoia. A manifestação da The Presence é normalmente assustadora e acompanhada de construções visuais espetaculares.
Como a música tem aqui uma importância basilar, não podia ser menosprezada, e todo o trabalho que a suporta está muito bem conseguido. Seja nas melodias que se entrelaçam nas alturas de suspense, como nos efeitos sonoros responsáveis por nos assustar.
Song of Horror é uma excelente produção do terror. A entrada nas consolas faz todo o sentido, e certamente deixará os apaixonados pelo género muitíssimo satisfeitos. Um conjunto de ideias inteligentes e bem elaboradas que fazem deste título da Protocol Games absolutamente obrigatório para quem gosta de um bom survival horror.