Developer: SEGA, Sonic Team
Plataforma: PlayStation 5, Xbox Series X|S, Nintendo Switch PC, PS4, Xbox One
Data de Lançamento: 25 de outubro de 2024
A Sonic Team tem nos habituado nos últimos tempos a pelo menos um jogo de Sonic por ano e 2024 não é exceção. A melhor notícia é que desta vez optaram por lançar dois jogos num só, isto porque Sonic x Shadow Generations tem duas faces. Por um lado temos uma versão remasterizada de Sonic Generations, original de 2011 e, por outro, temos Shadow Generations, uma nova aventura, onde o protagonista é exatamente Shadow, em jeito de comemoração de um ano dedicado ao personagem que será destaque também no filme Sonic 3, que chega no próximo mês de dezembro.
A estratégia da SEGA parece ter sido colocar no mesmo saco várias gerações de jogadores, desde os mais antigos que cresceram com Sonic em 2D, àqueles já mais habituados a jogos tridimensionais e com um formato diferente, à moda de Sonic Frontiers. Esta ideia funciona e faz sentido por dois motivos, primeiro porque lançar um jogo que fosse só um remaster de outro deixaria a desejar e segundo, era um risco lançar uma aventura só de Shadow, sem lá ter o “verdadeiro” Sonic. Assim, a Sonic Team mata dois coelhos de uma cajadada só: consegue fazer com que Sonic Generations seja relembrado como um bom jogo, e introduz Shadow Generations que pode vir a ser importante para o futuro da franquia em vários aspetos.
Comecemos então pelo remaster de Sonic Generations, que nem eu, enorme fã de Sonic, me lembrava que tinha existido. Talvez por ter sido lançado em 2011 e fazer parte de uma vasta lista de jogos do ouriço que preferi esquecer. Reconheço agora que posso ter sido injusto com alguns deles, mas olhar para o que foi feito depois do ano 2000 em comparação com o que tinha sido construído nos primeiros anos de vida de Sonic é uma brincadeira. Felizmente a SEGA trouxe de volta o ouriço para a ribalta e nos últimos cinco anos tem apresentado jogos muito bons, sejam eles, novos, remasterizados ou coleções antigas.
Nesta aventura, Sonic assume o papel principal com duas formas distintas e com jogabilidades diferentes. Cada nível está exatamente dividido em dois atos: um dedicado ao chamado Sonic “Clássico”, onde teremos de passar por níveis 2D side-scrolling e o outro que fica batizado como Sonic “Moderno”, com versões tridimensionais dessas mesas fases. A nostalgia é um ponto fundamental nestes jogos e em 2011, Sonic Generations foi visto como uma homenagem aos 20 anos da franquia e por isso mesmo, os designs dos níveis são réplicas melhoradas de outros jogos. Desde as selvas verdejantes de Green Hill, a lembrar o primeiro Sonic The Hedgehog, passando por Sky Sanctuary de Sonic & Knuckles ou até mesmo Rooftop Run, de Sonic Unleashed. Escusado será dizer que agora, graças à evolução geracional de consolas, estas réplicas estão graficamente melhoradas e representadas da melhor forma possível.
A história do jogo é relativamente simples e claro que engloba portais, diferentes gerações de Dr. Eggman e da família Sonic. A novidade é que surge uma nova entidade, ou monstro/máquina se lhe quisermos chamar assim, designada de Time Eater, capaz de nos fazer viajar entre espaços temporais. Preso num desses espaços, o nosso arqui-rival na forma moderna usa essa máquina para se unir com a sua forma clássica, fazendo com que a junção dos dois Dr. Eggman apaguem totalmente as derrotas do passado. A máquina tenta apanhar Sonic e ataca os vários amigos Tails, Knuckles, Amy e companhia no meio de uma festa de aniversário. Todos são espalhados por diferentes espaços temporais e o nosso objetivo será resgatá-los um a um.
Para quem nunca jogou o original, o progresso não é tão imediato como os jogos tradicionais em que bastava ir passando de nível. Aqui existe um lugar central denominado de White Space, onde Sonic acorda depois do ataque à festa e terá de ir dando cor ao espaço à medida que vai passando os níveis. Além de termos de concluir os níveis normais, existem desafios em cada um deles que vamos ter de cumprir para desbloquear chaves. Chaves essas que dão acesso a portais para lutar com os bosses antigos até chegar ao derradeiro Time Eater e restabelecer a normalidade.
Com tudo bem desenhado destaco os desafios que cada nível apresenta já depois de ter sido ultrapassado pela primeira vez. Desde corridas contra outro Sonic mais rápido, amealhar um certo número de anéis, eliminar uma data de inimigos ou até subir o mais alto possível através de balões, são só algumas das coisas que teremos de jogar em Sonic Generations. Isto vai fazendo com que o tal White Space se vá desenvolvendo e acrescentando novos caminhos para irmos diretamente para outros níveis. Tudo isso enquanto colecionamos músicas clássicas ou outros objetos que qualquer fã de Sonic reconhece facilmente.
Virando a página e voltando ao menu inicial, entramos em Shadow Generations, uma aventura totalmente nova com uma personagem que ainda não tinha sido explorada em grande escala nos jogos, embora em Sonic Superstars que analisei o ano passado ele aparecesse como personagem jogável depois de terminar o jogo pela primeira vez. Shadow tem um formato igual ao de Sonic, mas tem um ar mais adulto, capaz de fazer coisas que o outro não é capaz e de se adaptar a poderes que nunca tínhamos visto antes em jogos do Sonic.
A nível de história, esta passa-se paralelamente à de Sonic Generations, porque também vimos a tal festa de aniversário a ser interrompida, mas pelos vistos, noutro espaço temporal em que Shadow viajava para analisar uma força estranha vinda de outro planeta. Durante essa viagem, percebe que afinal Black Doom, o seu rival, ainda está vivo, mesmo depois de ter sido alegadamente derrotado por ele noutro lugar. Os destinos de Sonic e Shadow cruzam-se e entre outros acontecimentos, Sonic leva consigo uma esmeralda importante para derrotar Time Eater, mas o que ele não sabe é que essa é uma esmeralda falsa e é Shadow que fica com a verdadeira o que nos leva à missão de a devolver ao Sonic, mas para isso é necessário passar por diversos, níveis, bosses e não ser corrompido pelos seus próprios poderes que ele vai despertando pelo caminho.
Apesar de ser este um jogo novo, Shadow Generations recupera níveis conhecidos de outras andanças, desde Space Colony ARK de Sonic Adventure 2 até ao recente Chaos Island de Sonic Frontiers. Aqui também existe o White Space, mas representado de uma forma tridimensional. Quem jogou Sonic Frontiers vai estar habituado ao estilo com uma data de slides e mini portais possíveis de se fazer combos e chegar o mais rápido a outro lugar. Infelizmente, este espaço não tem um mapa sempre presente enquanto nos movimentamos. Se quisermos ver onde estamos é necessário recorrer ao menu, o que quebra algumas vezes o ritmo de jogo. A forma como progredimos é idêntica à outra, com desafios para desbloquear chaves que depois dão acesso aos bosses. Bosses esses que passam pelas formas estranhas de Biolizard e Metal Overlord até chegarmos ao temível Devil Doom e a sua outra transformação que depois terão de ver para eu não vos contar tudo.
Para ultrapassar todos estes obstáculos, Shadow conta com os tais poderes graças à esmeralda do “Chaos”, acabando por mudar a jogabilidade e a tornar diferente do tradicional Sonic. À medida que vamos concluindo objetivos e derrotando os bosses, desbloqueamos habilidades para ir usando. Entre elas, está o poder de parar o tempo em alguns momentos dos níveis, importante muitas vezes para evitar a morte certa numa plataforma que nos encurrala. Podemos atacar os adversários com ataques enrolados ou até andar sobre as águas com um dos poderes que coloca uma sombra em jeito de prancha e se desloca com movimentos giratórios para esquerda ou para a direita, fazendo até lembrar, em certos momentos, Venom em Spider-Man 2. Este poder permite explorar o White Space de forma mais livre e rápida porque a água deixa de ser um obstáculo. Há ainda outro poder que nos coloca a andar mais rápido do que o costume, mas a velocidade é tanta que a possibilidade de fazer asneiras é também maior.
A aventura de Shadow não é gigante, mas se quiserem descobrir todos os tesouros escondidos com músicas de outras alturas e fazer a melhor pontuação nos níveis todos têm aqui muitas horas pela frente. Nesse aspecto, Sonic Generations é um jogo maior, com mais níveis e mais objetivos que Shadow. A boa notícia é que os dois estão incluídos nesta “coleção”. A nível sonoro, o jogo está muito bem servido com uma vasta lista de músicas. Sejam sons mais tradicionais ou os rockeiros de Shadow, tudo parece estar em perfeita sintonia com os ambientes que encontramos. Como fã do ouriço, é fácil reconhecer várias trilhas de outros jogos e isso acaba sempre por despertar o fator que a SEGA gosta tanto de usar nos seus jogos: a nostalgia.
Na parte negativa do jogo está a maneira como a câmera é gerida e nos dificulta a vida sem razão aparente. Se nos níveis em 2D está tudo bem, quando estamos em fases de três dimensões ou em lutas com os bosses há partes em que a câmera nos custa uma vida porque nos mostra uma perspectiva sem dar a hipótese de a rodar. Podia compreender isto há uns anos, mas nesta altura do campeonato já não é muito admissível. Também o acesso a áreas que parecem acessíveis podia estar melhor, porque às vezes há espaço e caminho livre para andar, mas não nos deixam lá chegar porque, na verdade, estão bloqueados. É estranho “ver” paredes invisíveis na imagem que acabam por estragar um pouco a sensação de exploração que o jogo tem.
É por tudo isto que vos contei que sinto que é capaz de haver dois tipos de jogadores para estes dois jogos. Por um lado, percebo que quem já tenha jogado Sonic Generations não o volte a fazer só por esta remasterização e também não será uma nova aventura de Shadow, que andou perdido e esquecido durante tantos anos, que os vai fazer comprar este jogo. Por outro, aqueles que, como eu, não jogaram Sonic Generations, têm agora uma oportunidade fantástica de o fazer e ainda vem com um bónus, se olharmos para Shadow. Talvez tenha sido feito aqui um ensaio para ver o que resulta no futuro, com a possibilidade de incluir Shadow noutras aventuras. Considero que é importante que assim seja, mas nunca se poderão esquecer do clássico. Adorava ver um Sonic Frontiers 2 com ambos, à boa maneira de Spider-Man 2 ou então, quem sabe, um co-op. Ideias não devem, nem podem faltar, depois do que nos apresentam aqui, resta-nos esperar para ver o que nos entregam nos próximos anos.
Sonic X Shadow Generations é um bom bolo que melhora graficamente um dos jogos que podia ficar esquecido e aproveita para dar mais vida a Shadow que andava desaparecido e afinal é capaz de elevar os jogos de Sonic para campos que ainda não conhecíamos. A mistura entre o tradicional e o moderno é a imagem de marca de Generations e aqui funciona às mil maravilhas neste formato de ter dois jogos num só.