Developer: Longterm Games
Plataforma: PC e Nintendo Switch
Data de Lançamento:3 de Novembro de 2022

Vou começar esta análise contando-vos uma pequena história. Era uma vez três primos que passavam a vida juntos na brincadeira quando eram pequenos, com a sua avó a enfiar-lhes torradas e chá-preto enquanto víamos desenhos animados. Um dia entra-nos pela casa uma pequena cadelinha preta e branca, muito pequenita e cheia de vida. A nossa primeira missão foi dar-lhe um nome e alguém lembrou-se que o nome ideal seria Laika, o mesmo nome da primeira cadela a ir ao espaço e a orbitar a Terra.

Laika, era uma vira-lata das ruas de Moscovo, que foi selecionada para ser a ocupante da nave espacial soviética Sputnik 2, lançada ao espaço sideral a 3 de novembro de 1957 e, Laika foi o meu primeiro cão, neste caso cadela.

Não é de espantar que por isso mesmo este Space Tail tenha sido um dos jogos que me despertou logo a atenção. A Longterm Games lança assim, precisamente 65 anos após o primeiro cão ter ido ao espaço, este jogo que conta a aventura canina desta astronauta chamada Bea num belíssimo jogo de plataformas e puzzles super tocante.

O jogo começa com uma sessão de treino de Bea, antes de se aventurar pelo espaço. Nessa sessão aprendemos os conceitos básicos da movimentação da nossa personagem canina, o agachar, o saltar e a utilização dos sentidos apurados de Bea. Ao longe, no pano de fundo vemos uma sombra de um rapaz, o dono de Bea.

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Nos primeiros momentos vemos a relação de amor entre ambos, onde o pequeno rapaz dá um urso de peluche a Bea para levar consigo na aventura espacial. Os dois são separados e Bea vê-se sozinha, perdida no espaço onde o único companheiro que vai encontrar é 8088Y, um pequeno robot, também ele perdido.

Bea vai comunicar com o mundo como só ela sabe, isto é, a ladrar, a pular, a dar a pata, a rebolar no chão, a rosnar, etc. Com isso vai conseguir mudar o humor de alguns alienígenas que vai encontrando pelo caminho de forma a recolher alguns objectos ou a passagem para um elevador, ou uma nova plataforma. Por exemplo, podem ter que ladrar para um alienígena ficar tão zangado que nos atire uma lança, para depois pegar nessa mesma lança e conseguirmos rebentar uma espécie de nenúfares que emitem gases nocivos, e assim conseguirmos ultrapassá-los. Por outro lado, podemos ter que animar um outro ser para baixar um elevador e o suba para conseguirmos passar para uma nova localização. Estes são apenas dois exemplos básicos do jogo.

Depois temos a ajuda de 8088Y que pode hackear portas e também robots inimigos que vamos encontrar pelo caminho, paralisando-os durante um determinado período de tempo. Ainda vamos ter a ajuda de mais uma personagem cósmica, neste caso Rose, um cometa com a habilidade de ir contra inimigos e objectos.

Se, em termos de um side-scroller 2.5D tudo é muito semelhante ao que já estamos habituados a ver num jogo de plataformas, em termos de mecânicas, Space Tail, diferencia-se dos demais. Primeiro pela personagem que apresenta e como as suas fragilidades, mas também os seus pontos fortes dão-nos uma perspectiva diferente do habitual. Bea não fala, portanto, a comunicação é feito através do ladrar e dos movimentos que já referimos antes, no entanto, os seus sentidos são o elemento diferenciador em todas as mecânicas, activadas através botão esquerdo do mouse e selecionadas com o ponteiro.

Temos o olfacto, onde Bea pode sentir o cheiro de objectos para tentar ir atrás deles pelo caminho certo, tal como pode também sentir que gases podem ser nocivos ou não. A sua visão apurada permite-lhe ver os cones de visão dos inimigos ou das câmaras de vigilância, por exemplo, e, por fim, a audição, onde consegue distinguir os vários sons que a rodeiam, podendo assim determinar que mecanismos podem ser usados e até algumas das suas sequências.

Outro dos elementos diferenciadores são os puzzles de ambiente que o jogo apresenta. Para além destes mais simples que referi de Bea usar as suas habilidades caninas, temos aqueles que nos desafiam intensamente, obrigando-nos a conciliar o timing de activação de botões, com a destreza nas teclas para fugir do raio de acção dos inimigos e a própria lógica. Aquelas que são as habituais lutas contra os Bosses, neste jogo não temos uma personagem maléfica para derrotar, mas sim um enorme quebra-cabeça. Uma área circunscrita onde Bea tem um mapa, geralmente mais vertical do que as restantes fases, onde tem que superar vários obstáculos para conseguir cumprir um objectivo. E devo dizer que alguns são bem “duros”.

Apesar de Space Tail se focar muito na sua narrativa e nas suas mecânicas, a questão visual não foi descurada. Temos cenários desenhados à mão, com um estilo que equilibra o realismo e o desenho animado, fazendo lembrar os livros de contos juvenis. É difícil não criar empatia com a personagem central, Bea, que facilmente nos faz lembrar uma personagem da Disney, nomeadamente o filme de animação “Dama e Vagabundo”. Para além disso, e da magnífica recriação de todos os movimentos característicos de uma cão, temos ainda personagens que dificilmente vamos esquecer, como, por exemplo, o “Winged Piglet” ou o “Tinkerer”.

Em termos de banda sonora, o jogo também encontrou o ambiente certo através das composições de Jan Sanejko e Bartosz Chajdecki, trazendo aquela vibe espacial das grandes orquestrações das séries ou dos filmes mais sci-fi. A música acompanha a acção e está sempre certeira perante os vários ambientes que vamos encontrando nesta aventura de Bea.

A narrativa acertou em cheio, criando uma ligação emocional ao longo de todo o jogo, onde queremos que Bea encontre de novo o seu dono e seja feliz. O narrador faz um óptimo trabalho de voice acting e conta-nos a história de forma afectiva, como se fosse o nosso pai a contar-nos uma fábula ao deitar. 

Space Tail: Every Journey Leads Home é mais um exemplo de que os jogos independentes podem ser memoráveis. Tem uma ótima construção em termos de narrativa e de level design, assim como as mecânicas são simples, mas desafiadoras, especialmente quando aliadas com os puzzles levados da breca que vamos encontrar. É difícil ficar indiferente a este jogo, e isso, é o melhor que se pode dizer neste caso.

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Pedro Moreira Dias
Fundador do Site - Salão de Jogos, o Commodore Amiga 500 foi o seu melhor amigo durante décadas e ainda hoje sabe de cor a equipa principal do Benfica do Sensible Soccer 94/95. Nos tempos vagos ainda edita as botas dos jogadores do FIFA e do PES.
analise-space-tail-every-journey-leads-home<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Narrativa apaixonante</li> <li style="text-align: justify;">Mecânicas fora do comum e puzzles desafiadores</li> <li style="text-align: justify;">Uma boa arte gráfica, memorável</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Pequenos bugs e um UI demasiado básico</li> </ul>