Developer: Dramatic Labs, Bruner House
Plataforma: Xbox Series, Xbox One, PlayStation 5, PlayStation 4 e PC
Data de Lançamento: 23 de Maio de 2023

São incontáveis os jogos que já foram inspirados no universo de Star Trek. E quem é apaixonado pelas séries, conhece bem o potencial das suas histórias para poderem ser adaptadas a títulos de ficção cientifica. Contudo, é a primeira vez que temos um jogo estritamente de narrativa em moldes mais modernos, e que fosse capaz de aproveitar a riqueza do seu lore.

Sabendo como os trekkies são exigentes, era um grande desafio para os developers da Dramatic Labs, que com a ajuda da publisher Bruner House trabalharam arduamente para nos trazer Star Trek: Resurgence. Mas como fãs, estávamos bem entregues, em virtude de este novo estúdio ser composto por veteranos da Telltale Games, o que significa que têm uma larga experiência e muito talento para desenvolverem jogos com esta proposta.

Comprometeram-se a entregar uma experiência bastante ambiciosa, e, em certos aspectos, também mais complexa quando comparamos a outros exemplares do mesmo género. Seja do ponto de vista gráfico, no estilo de interacção com os jogadores, ou na própria estrutura da história, há algumas diferenças em realção ao que estávamos habituados, e que tornam a experiência ainda mais intensa – até inovadora para o género.

Já tínhamos assistido a algumas dessas mudanças nos jogos mais recentes da SuperMassive Games, e vemos agora com Star Trek: Resurgence o que parece ser mais um passo no sentido da evolução no estilo das aventuras gráficas. O objectivo é levar o jogador a sentir-se cada vez mais parte da história, equilibrando entre o tempo em que passamos entre cutscenes, e as vezes em que somos chamados a intervir. Em todo o caso, seria impossível de funcionar sem uma boa narrativa, e foi precisamente aqui que o estúdio Dramatic Labs acertou em cheio.

Em Star Trek: Resurgence iremos acompanhar o percurso da Primeira Imediata Jara Rydek e do promissor e dedicado engenheiro Carter Diaz. Ambos têm muito a provar a bordo da imponente U.S.S Resolute, oferecendo simultaneamente perspectivas muito diferentes dos desafios que terão pela frente. Seja a liderar e a tomar decisões difíceis a partir da Bridge com Jara Rydek, como no importante e invisível trabalho no Lower Deck através de Carter Diaz, vamos conhecer os dois lados da tripulação de uma Starship da Federation.

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A história coloca-nos no meio de uma missão de diplomacia encabeçada pelo agora embaixador Spock, que tenta mediar um conflito entre duas civilizações que têm uma relação de negócios e minério. Acontece que os Hotari vivem do que conseguem extrair das minas de Deuterium, e os Alydians oferecem a tecnologia e a logística para poderem depois vender esta preciosa e rentável comodidade.

Este vinculo comercial não é propriamente justo, sendo que os Alydians são muito mais avançados do que os Hotari, resultando em séculos de exploração e trabalho quase escravo. Porém, a sorte destes últimos muda quando descobrem uma misteriosa peça de tecnologia de uma civilização perdida e até mais avançada do que qualquer coisa que a Federation já tenha visto, deixando a comitiva imediatamente em alerta.

Como nem os Hotari, nem os Alydians pertencem à Federation, o nosso papel terá de ser neutral. No entanto, algum tipo de intervenção terá de ser inevitável, não só porque a guerra entre estas duas espécies está iminente, mas igualmente o perigo desta arma agora em poder dos Hotari revelar-se-á como um verdadeiro perigo para toda a galáxia, escondendo uma conspiração muito maior do que imaginávamos.

Paga-nos o café hoje!As histórias de Star Trek sempre nos ensinaram sobre integridade, compreensão e coragem, e aqui não será diferente, com todos os ingredientes essenciais para oferecerem uma narrativa fantástica. O argumento está muitíssimo bem escrito, tanto em termos de desenvolvimento, como de diálogos, e tem diversos momentos de acção, drama, e algum humor; conseguindo conceder as mesmas questões morais que sempre foram tão ricas na série de ficção cientifica mais popular de sempre.

As nossas decisões, assim como a selecção dos diálogos, como é comum neste tipo de jogos, terá um impacto na história, mas igualmente nas relações com as outras personagens. Nesse sentido, teremos uma área exclusiva onde vamos poder consultar como Jara e Carter são vistos pelas outras personagens, um pouco à semelhança dos jogos da SuperMassive Games.

É algo que funciona especialmente bem, tendo em conta as diferentes naturezas das personagens que vamos encontrando ao longo do jogo, sendo interessante ver de que maneira as nossas escolhas irão condicionar as suas personalidades. Ainda assim, o mais interessante é que ambos os protagonistas buscam a aprovação dos colegas de maneiras opostas. Por um lado, Jara Rydek tenta ganhar o respeito dos seus subordinados, e do outro, Carter Diaz está determinado em mostrar o seu valor aos seus colegas e aos seus superiores hierárquicos.

Esta dinâmica da narrativa é muito bem acompanhada pelas mecânicas de jogabilidade, que segue um sistema que é bastante habitual no género. Vai alternando entre momentos de investigação, quick time events, mini-jogos e puzzles, todavia, com uma intervenção muito mais frequente do que é costume neste estilo de jogos, que deixa o jogador constantemente ligado à narrativa e sentindo-se parte do todo.

É notável como no caso de Carter, retratam bem o que é lidar com as adversidades que um engenheiro da Starfleet tem de enfrentar, colocando mãos à obra e resolvendo problemas em contra-relógio. Isso é conseguido muito por causa de como os comandos estão estabelecidos, exigindo de nós o máximo de detalhe no manuseamento das ferramentas e na forma como interagimos com o hardware. Este cenário proporciona inúmeras circunstâncias de vida ou de morte, onde a nossa competência técnica poderá mesmo significar a sobrevivência de toda a tripulação.

Quanto a Jara Rydek, está sempre no centro das operações, sendo normalmente enviada para as missões no terreno. Como tal, e, como não podia deixar de ser, fará bastante uso do Tricorder, que servirá de instrumento fundamental para quando temos de investigar determinadas áreas. Devido ao seu background, acaba por ser a personagem mais interessante, e isso também se reflecte na jogabilidade, fornecendo algumas das fases mais empolgantes de todo o jogo.

O problema aqui é mesmo a escolha e insistência em alguns mini jogos que em nada beneficiam o gameplay, retirando alguma imersão. Fases em que temos de pilotar o shuttle, mas especialmente quando somos obrigados a manusear o transponder, são verdadeiras dores de cabeça e completamente desnecessárias, principalmente porque não acontecem apenas uma vez durante o jogo. Felizmente são excepções, e todas as outras mecânicas acrescentam à narrativa, fazendo com que o jogador se sinta mesmo como parte de uma aventura Star Trek.

Graficamente está bem conseguido. Pode não ter o nível de um Detroit: Become Human, mas tem, claramente, uma qualidade acima da média para este tipo de jogos. O conceito artístico e de design foi bem escolhido para o contexto em questão, assim como a banda sonora, que está fantástica. Os voice actors Krizia Bajos (Jara Rydek) e Josh Keaton (Carter Diaz) têm uma performance de topo, sendo sempre convincentes nas emoções que oferecem às personagens. Sem esquecer, claro, Piotr Michael, que oferece voz a Spock e soube estar à altura das responsabilidades.

Star Trek: Resurgence, além de uma excelente adição aos jogos de narrativa, é igualmente um fantástico título inspirado no universo de Star Trek. Quem é fã, certamente não vai querer perder.

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Nuno Mendes
Completamente obcecado por tudo o que tenha a ver com futebol, é daqueles indesejados que passa mais tempo a editar as tácticas do PES do que a jogar propriamente. Pensa que é artista, mas não conhece as cores primárias, e para piorar, é ligeiramente daltónico. Recusa-se a acreditar que o homem foi à Lua.
analise-star-trek-resurgence<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Uma óptima narrativa</li> <li style="text-align: justify;">A atmosfera de Star Trek foi muito bem capturada</li> <li style="text-align: justify;">O claro desejo de inovar relativamente ao género</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Alguns mini-jogos eram completamente dispensáveis</li> </ul>