Developer: Team Ninja, Koei Tecmo, Square Enix
Plataforma: PS5, PS4, Xbox One, Xbox One, Xbox Series X|S e PC
Data de Lançamento: 15 de Março de 2022

Pode parecer mais um Final Fantasy mas na verdade não é apenas mais um, é mesmo o primeiro Final Fantasy, recuperando toda a sua glória de 1987 na nova geração de consolas.

A razão pela qual acontece agora tem muito a ver com a celebração do 35º aniversário da franquia, voltando assim à história que deu origem à série, numa leitura um pouco diferente, principalmente em termos de mecânicas e, é claro, nos gráficos apresentados.

O jogo foi anunciado na E3 de 2021 e desde logo apresentou-se como algo diferente da série, incorporando um estilo mais soulslike no universo da Square Enix, mas a verdade é que apenas tem alguns piscar de olhos e um beijinhos no pescoço deste género tão famoso e polarizante, como são os jogos da From Software. Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin é sim, um ótimo jogo RPG de acção que se fica apenas por uma espécie de romance platónico com os soulslike.

Para quem ainda se lembra da história do jogo de 1987, vai facilmente perceber a ligação e a recriação do universo de Stranger of Paradise, mas o que não sabe é que existe uma maior profundidade na compreensão da mesma e coisas que nunca foram reveladas. Apesar de já termos a ideia de como tudo vai acabar, fiquei sempre preso ao jogo para saber como se iria desenrolar desta vez. É claro que isso acontece pela beleza do universo, pelas belíssimas cutscenes a que vamos ter acesso e pela jogabilidade frenética que nos é dada. Portanto não há razões para não voltar ao início de tudo.

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E o início de tudo começa precisamente no reino de Cornelia, onde, com o poder dos quatros cristais desvanecido, o mundo sofre variadíssimos cataclismas oriundos da falta de influência mágica destes cristais e do aparecimento de uma entidade maligna apeliadade de Chaos. A esperança de que este mal seja extinguido está nas mãos de 4 heróis que, segundo uma profecia, irão surgir quando as trevas encobrirem o mundo.

Os heróis desta profecia surgem, logo ao início, na figura de três homens: Jack, Jed e Ash. As suas origens são um perfeito mistério e vai demorar longas horas até saberem mais qualquer coisa sobre o assunto, mas o que sabemos é que possuem três cristais negros e um imenso desejo de derrotar Chaos. Na tentativa de encontrar e derrotar Chaos, os 3 heróis, sob a ordem do rei de Cornelia, ruma ao santuário onde este supostamente vive, mas ao derrotar o imponente cavaleiro, percebemos que encontramos o quarto herói desta aventura, neste caso, uma heroína, de seu nome Neon, que tal como os outros também possui um cristal negro.

Ao regressar ao castelo de Cornelia, o rei informa o quarteto de que a profecia afinal tem mais do que se lhe diga e que inclui restaurar a energia dos quatro cristais para reequilibrar as forças do mundo e, com isso, reinar de novo a prosperidade no vasto continente. Os quatro cristais regem a vida do planeta: água, vento, terra e fogo.

E assim começa a aventura com os quatro heróis a varrerem o continente à procura de restaurar as energias dos cristais e com isso, recuperar o equilíbrio do planeta e recuperar as suas memórias, visto que os cristais, de uma forma que vai sendo esclarecida ao longo da narrativa, tornaram esses momentos numa vaga neblina de incerteza.

Apesar da apresentação na E3 tenha dado a sensação que este Stranger of Paradise podia ser um soulslike, a verdade é que apenas faz uma ligeira carícia no género. Bem sei que o boom de populariedade do género, especialmente com o Elden Ring, cuja análise também podem ler no nosso site, não existe assim tantas parecenças, especialmente nos elementos chave.

Sim, é verdade que quando chegamos a chekcpoints ou save points, se preferirem, recuperamos a nossa energia e dos nossos companheiros e as poções são restabelecidas, assim como os inimigos fazem respawn, mas eu diria que se fica por aí. Existe uma tentativa de que os Bosses sejam tão punitivos como os dos jogos da From Software, e são no aspecto de que por vees basta dois ou três ataques para nos varrerem, ou mesmo o facto de terem duas fases, mas depois toda a mecânica envolvente é completamente diferente.

Desenvolvido pela Team Ninja em parceria com a Koei Tecmo Games, o jogo denota uma maior fonte de inspiração, o de outro consagrado produto da casa: Nioh. Quem já jogou vai ver muitas similaridades, principalmente na jogabilidade, estrutura de itens e de fases.

Até em outros aspectos como a ausência de uma barra de stamina, o de não perder items ao morrer e, principalmente, a ausência de um sistema de níveis complexo e super detalhado são algumas coisas que a Team Ninja fez, justamente a pensar nos jogadores que não gostam de ter esse trabalho todo para progredir a personagem. Se estavam com receio que Stranger of Paradise fosse um soulslike, podem ficar descansados, porque não é. Até têm a possibilidade de fazer pausa (no single player, apenas) e ajuste de dificuldade para story só para seguirem a narrativa e com os combates super facilitados.

O combate, esse é bastante rápido e fluído com o conjunto habitual de comandos que se via mutando conforme vamos adquirindo novas habilidade e técnicas, assim como as armas e as classes com que estamos equipados. Dessa parte já falo mais à frente. No combate há uma mecânica única chamada Soul Burst, uma espécie de “execução” quando um inimigo recebe dano suficiente para esgotar a sua barra de atordoamento. Ao executar a técnica, além de eliminá-lo de caras, a quantidade máxima de MP de cada membro do grupo aumenta, além de restaurar uma parcela de acordo com o tamanho do oponente aniquilado. Até os Bosses estão submetidos a essa regra e as animações são brutais de se ver.

Para clarificar, no jogo só comandamos inteiramente Jack, podendo “pedir” aos nossos companheiros para atacarem com maior ferocidade e usando todas as suas habilidades através dos direccionais. Jack também possui a tal barra de atordoamento, mas seu funcionamento é um pouco diferente. Ao receber golpes, mesmo que esteja a defender, a barra é consumida. Quando ela se esgota, fica atordoado temporariamente e um alvo fácil para ataques inimigos.

Esta barra também consumida ao usar uma técnica chamada de Soul Shield. Ao bloquear um ataque nessa condição, além de defendermos perfeitamente o ataque, o máximo de MP é aumentado levemente, além de ser restaurado. A barra, chamada de Soul Gauge, é restaurada com o tempo. Outra habilidade interessante é a de roubar técnicas dos inimigos e tem a ver precisamente com esta técnica Soul Shield. Quando Jack a utiliza para aparar um ataque de elementos adversário, ele é roubado e armazenado e podemos o utilizar quando quisermos. É mais uma opção ofensiva dentro da carrada delas que temos.

E é disso mesmo que vou falar agora naquele que é um vastíssimo leque de opções de classes, habilidades, poderes, armas, armaduras e técnicas à nossa disposição.

Sem um sistema de níveis convencional, o que define a força de cada personagem são os níveis dos equipamentos que usa. Classificados por raridade, alguns deles proporcionam atributos especiais, como a adição de um golpe especial extra no rol de habilidades, ou de algum efeito adicional, como causar dano elemental ou aumentar a taxa de dano crítico. Estes equipamentos também favorecem a afinidade do personagem com seu Job, sua classe de combate.

Os Jobs estão disponíveis em vinte e oito tipos e divididos em básicas, avançadas e experientes. Cada um dá ao personagem uma técnica especial única e a capacidade de lutar com um ou mais tipos específicos de armas. Conforme os evoluímos, técnicas adicionais são desbloqueadas, podendo até mesmo ser usadas quando utilizamos Jobs diferentes.

Há classes para todos os gostos e feitios, para quem gosta de uma experiência mais balanceada recomendamos a Swordsman, a clássica de espada longa, ou a Swordfighter com espada e escudo. Depois têm a Pugilist de luvas ou a Duelist com adagas para aqueles que gostam de ser mais agressivos e ágeis e, é claro, a Mage para quem gosta de usar magias, seja de suporte ou de ataque, e as classes de dano massivo como a Marauder com um machado ou a Ronin com uma katana samurai.

As classes sobem de nível por meio de pontos de experiência que geram pontos de habilidade (Job Points) que devem ser colocados nas suas respectivas árvores para desbloquear afinidades adicionais e desbloqueando benefícios extras, como por exemplo, habilidades ativas e passivas e, principalmente, novos Jobs. Como podemos utilizar dois Jobs ativamente, alguns dos desbloqueios mais avançados vão ter que ser sincronizados com esses mesmos dois Jobs.

Como perceberam, ou então já se perderam com tanta coisa, existe uma panóplia de opções de combate, o que faz com que a jogabilidade seja sempre dinâmica, divertida, desafiante e satisfatória. Até porque para além de todos estes factores existe ainda as armaduras e armas que vamos encontrando pelo caminho com diferentes perks e, a partir do momento em que desbloqueam o acesso ao Smithy, podem usar os recursos para melhoramento das vossas armas e armaduras e é mais um mundo de opções que abrem para a vossa personagem.

Deixem-me ainda destacar a componente online do jogo que estranhamente não foi muito publicitada pela Square Enix quase até ao seu lançamento. A função permite jogar com mais duas pessoas online para realizar todas as missões do jogo, isto é, as principais ou as secundárias e funciona lindamente. É simples e eu diria que em partes mais avançadas do jogo jogando na dificuldade normal ou acima, é quase imperativo. A qualquer momento no mapa do mundo ou a interagir com os pontos de save podemos criar uma sala para jogar com os amigos, ou até, deixar a sala aberta para qualquer jogador se juntar a nós e ir fazendo o nível à nossa vontade. Quando alguém entrar na nossa sessão, vai assumir o papel de um dos dois companheiros de Jack, seja ele quem for, mas como o seu próprio loadout e a capacidade de usar dois Jobs. E o melhor é que a obtenção de itens e o progresso são igualmente partilhados.

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Olhemos para a qualidade gráfica deste Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin. Na PlayStation 5, onde analisámos o jogo, podemos jogar em dois modos: resolução ou performance. O primeiro dá prioridade à estética e tem como meta manter o jogo a 30fps. O segundo, como o nome já indica, oferece uma jogabilidade mais fluída, com a meta de 60fps e com uma depreciação da parte gráfica.

Devo dizer que aqui tive “mixed feelings”, pois, mais do que as diferenças nos dois modos, senti que o jogo tinha quase que duas versões de gráficos. Uma qualidade brutal nas cutscenes, nas animações pré-definidas e depois uma outra bastante mais simplista tanto nas texturas como em algumas zonas mais despidas do mundo. As personagens, tanto as nossas, como os inimigos estão muito bem trabalhadas, mas depois o cenário mais próximo parece algo básico, em contraste com as paisagens que por vezes nos deixam maravilhados. É desequilibrado nesse sentido e nota-se.

Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin não é um FF tradicional e depois de 35 anos de história isso não é necessariamente mau. Muito pelo contrário, na minha opinião encontrou formas para se tornar mais atual, mais rápido na acção e no desenvolvimento da narrativa, mais dinâmico, com uma variedade invejável de classes e de estilos de combate, agarrando-nos ao longo de toda a jornada. E a possibilidade de o fazer junto de amigos de uma forma simples e eficaz é um bónus que me agradou de sobremaneira. Pode ser um novo ponto de partida ou uma nova origem para a franquia.

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Pedro Moreira Dias
Fundador do Site - Salão de Jogos, o Commodore Amiga 500 foi o seu melhor amigo durante décadas e ainda hoje sabe de cor a equipa principal do Benfica do Sensible Soccer 94/95. Nos tempos vagos ainda edita as botas dos jogadores do FIFA e do PES.
analise-stranger-of-paradise-final-fantasy-origin<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Um Final Fantasy diferente do habitual</li> <li style="text-align: justify;">Sistema de combate fluído e diversificado</li> <li style="text-align: justify;">Possibilidade e facilidade de jogar em formato cooperativo</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">História um pouco confusa</li> <li style="text-align: justify;">Graficamente oscila entre o muito bom e o mediano</li> </ul>