Developer: BlueTwelve Studio
Plataforma: Nintendo Switch
Data de Lançamento: 19 de novembro de 2024
Confesso que quando Stray foi lançado para a PlayStation e PC em 2022, ao contrário do que aconteceu com muitos jogadores que ficaram impressionados, a mim, não me conseguiu conquistar. Na altura, esperava algo completamente diferente e isso fez-me afastar do jogo. No entanto, agora com o seu lançamento para a Nintendo Switch, decidi dar-lhe uma nova oportunidade, sem ideias pré-concebidas, apenas disposto a aproveitar a experiência.
Desta vez, confesso que o jogo me agradou bastante. Admito que tive de me abstrair da ideia de que estava a comandar um gato, porque, sejamos honestos, nenhum gato por vontade própria ligaria tomadas, carregaria um drone às costas, resolveria puzzles ou simplesmente não saltaria em determinados momentos. Por isso, optei por apreciar a parte de resolver quebra-cabeças e cumprir objetivos, deixar-me envolver pelo ambiente e isso foi suficiente para me deixar envolver.
Para quem não está familiarizado com a narrativa, Stray decorre num mundo cibernético decadente. No papel de um gato de rua, exploramos uma sociedade onde os humanos foram substituídos por robôs que habitam cidades subterrâneas em ruínas, e protegidas do exterior por barreiras. A aventura começa quando o nosso felino se separa do grupo e cai numa dessas cidades após escorregar de um cano à superfície. Essa queda, leva-nos até a uma espécie de esgoto e acabamos numa cidade subterrânea. É ao tentar sair daquele local que encontramos B-12, um pequeno drone que assume o papel de guia e tradutor. A partir daqui o objetivo é claro: encontrar um caminho para o exterior enquanto descobrimos os mistérios que moldam aquele mundo.
A parte interessante de deixar de lado a ideia de “ser um felino” permitiu-me focar no que está à volta do jogo. Stray pode ser jogado como uma simples aventura em que apenas o queremos terminar, ou explorado mais profundamente, captando as críticas sociais subtilmente incluídas pela equipa de desenvolvimento. O jogo aborda temas como exploração ambiental, desigualdade social e vigilância constante. Apesar de curto, é impactante nesse sentido, e cada local que visitamos mostra-nos uma perspectiva sobre os desafios enfrentados pelos robôs, com detalhes ambientais e narrativos que nos mergulham neste universo. E, cujas memórias que desbloqueamos com B-12, ajudam a construir uma visão clara da tragédia que atingiu aquele local.
A própria ideia de os habitantes serem robôs é uma crítica à nossa sociedade. Muitos têm ecrãs como cabeças, uma metáfora clara da nossa obsessão com a tecnologia e como sacrificamos momentos essenciais de convivência em prol de vários dispositivos – telemóveis, tablets, monitores etc. Até os diálogos simples com os robôs reforçam esta mensagem, mostrando a degradação envolvente e demonstrando como este universo é cativante e, ao mesmo tempo, inquietante.
Em termos de jogabilidade, Stray, embora linear, mistura exploração e resolução de puzzles num formato de plataformas 3D. Controlar um gato é uma experiência única: desde os saltos ágeis aos momentos mais descontraídos, como brincar, arranhar superfícies, descansar e até miar, a atenção ao comportamento felino é fielmente transportada para o jogo, e nesse ponto o jogo está notável. Contudo, há limitações que podem frustrar, e não fazem qualquer sentido, como a impossibilidade de saltar livremente, já que só o podemos fazer em pontos específicos. Não nos podemos esquecer que estamos a jogar com um gato, e se existe algo que é essencial quando falamos de um felino é a sua personalidade forte, bem conhecidos por fazerem apenas o que querem. Esta decisão retira a agilidade típica de um gato, e é um artifício apenas para dificultar os encontros com os Zurks – criaturas parecidas com ratos que nos perseguem para nos tentarem comer. É uma escolha que, honestamente, não faz sentido, e frustra qualquer jogador, sendo claramente o ponto mais fraco do jogo.
Outro aspeto que pode incomodar são as tarefas repetitivas. Embora não sejam complexas, a sua frequência leva a uma sensação de monotonia, especialmente porque não é possível avançar na história sem as completar. Muitas vezes, o jogador pode sentir-se perdido, e mesmo pedindo ajuda ao B-12, n a maior parte das vezes, a resposta é indicar o nosso objeto, que na maioria dos caso já sabemos qual é.
Embora Stray na Nintendo Switch não se apresente na plenitude do aspecto gráfico – e isso seria impossível devido ao hardware da consola – devemos dizer que a híbrida da Nintendo, ainda assim, consegue oferecer uma excelente experiência de jogo. Apesar de as texturas terem menor qualidade, e a resolução ser mais baixa, o jogo consegue estar verdadeiramente competente, e, mesmo assim, bastante bonito, principalmente jogado em modo portátil.
As texturas são menos detalhadas e a resolução é inferior, mas a identidade visual mantém-se intacta. A atmosfera sombria, os edifícios com neons vibrantes e o design degradado continuam a impressionar, especialmente no modo portátil, onde a experiência é ainda mais envolvente. Em termos de desempenho, o jogo é estável, com raras paragens que não afetam a jogabilidade. Diria até que a Nintendo Switch mostra-se a plataforma ideal para Stray, permitindo-nos jogar ao nosso ritmo, já que nos dá a opção de regressar a qualquer momento. Isto porque não temos de nos preocupar com os checkpoints salvos automaticamente, como acontece nas outras plataformas, e que por vezes, por desligarmos a máquina, obrigam-nos a voltar a pontos que já tínhamos ultrapassado.
Em termos de som, o jogo é bastante competente. Ainda que não apresente uma banda sonora marcante, nem magistral, ela consegue ser eficaz. As músicas variam entre o melancólico e o intrigante, transmitindo bem o que está a acontecer no jogo. Os efeitos sonoros são excelentes, os passos do gato nas várias superfícies conseguem ouvir-se, embora suavemente; e o ambiente robotizado também é perceptível, com toda a componente sonora ajuda a criar imersão.
Por fim, não posso deixar de destacar a localização para português, mesmo que seja na variante de português-brasileiro. E apesar de o foco não estar na componente escrita, é sempre um ponto positivo para a acessibilidade dos jogadores.
Stray é uma excelente entrada na Nintendo Switch, depois de já ter chegado a todas as outras plataformas. Embora limitado graficamente, o jogo oferece uma experiência envolvente e mantém a essência que o tornou um sucesso. Seja para fãs de gatos ou para jogadores casuais que procuram um universo intrigante e com bastante quebra-cabeças, podem encontrar aqui uma experiência que vale a pena, apesar de estarmos limitados nos saltos do felino.
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