Developer: Pavonis Interactive
Plataforma: PC
Data de Lançamento: 26 de Setembro de 2022
Por vezes, é curiosa a história de como alguns estúdios foram criados, e o caso do Pavonis Interactive é um bom exemplo. Podem ser ainda praticamente desconhecidos, no entanto, são os responsáveis pelo Long War, um dos mais importantes mods do XCOM. O sucesso do seu trabalho dentro da comunidade foi tal, que se sentiram encorajados a ir mais além, proporcionando um título de estratégia completamente original.
E é mais um sinal de que os jogos de estratégia voltaram a ser uma forte aposta, especialmente para os estúdios independentes, que veem aqui uma boa forma de se evidenciarem através ideias inéditas. Foi um género que cresceu imenso nos últimos anos, e que a cada novo jogo prova que ainda tem muito para oferecer e para surpreender os jogadores. Terra Invicta vai nesse sentido, mas em vez de trazer um conceito demasiado complexo, decidiu investir numa jogabilidade que depende do planeamento a longo prazo.
Estava previsto ser lançado inicialmente em 2021, mas tal como aconteceu em muitos casos no ano passado, sofreu um adiamento e só agora chegou. Ainda assim, valeu a pena a espera, e foi interessante o que o estúdio arquitectou para os jogadores, e tenho de dizer que é até refrescante em determinados aspectos, já que consegue ser familiar por um lado, mas totalmente único, por outro. Parte de uma mistura entre a estratégia e o 4X, ou seja, a larga escala, mas que obriga o jogador a ter de se preparar para o pior.
Terra Invicta é um daqueles que jogos que não se dedica necessariamente a uma história, mas antes a um contexto. É o cenário em si que nos deixa interessados, criando um ponto de partida para tudo o que irá desenrolar-se de seguida. Quando um estranho objecto rompe pelos céus e se despenha no solo terrestre, acabamos por descobrir que a visita de uma civilização extraterrestre está no horizonte. Por conseguinte, uma campanha de preparação é lançada, de modo a que tanto o planeta, como o próprio sistema solar se unam contra, ou a favor de um destino que promete ser bastante incerto. Ninguém sabe as intenções desta invasão, porém, decisões terão de ser tomadas.
A premissa é simples, o caminho para lá chegar é que será muito espinhoso. Existem várias facções espalhadas por todos os países, e cada uma com visões e ideologias muito particulares sobre como irão receber os aliens. A Resistence, por exemplo, quer um planeta organizado para combater a chegada dos extraterrestres, no entanto, a Humanity First, além de querer exterminar estes visitantes interestelares, pretende igualmente eliminar qualquer um dos seus apoiantes humanos.
Todavia, temos também o inverso, ou seja, facções que não se opõem a esta invasão. Os Servants, tal como o nome sugere, desejam servir esta espécie extraterrestre; enquanto o Protectorate prefere negociar uma possível rendição; e a Academy pretende tentar uma aliança com estes visitantes. No lado oposto temos o Project Exodus, que recusa qualquer pretensão de lidar com os aliens, e simplesmente quer que a humanidade escape do sistema solar.
Sabendo isso, teremos de ter atenção à agenda de cada facção, formando alianças com outras que tenham interesses que se possam alinhar, ou extinguir aquelas que nos tentem contrariar. É a famosa tática de dividir para reinar, embora aqui tenhamos um tempo limite para o conseguir, com uma proposta muito interessante e construída em moldes diferentes do que estamos habituados a ver em jogos de estratégia.
Ficámos com a Resistência, e verificámos que é como se o jogo estivesse separado em dois períodos. Numa primeira fase estamos mais centrados no planeta Terra, e não temos escolha senão pensar de maneira mais macro estratégica e numa perspectiva geopolítica de domínio. Esse controlo tem um objectivo muito claro, isto é, de conquistar o apoio de cada nação e controlar os seus recursos para que possamos criar o poder bélico necessário para ripostarmos quando no futuro ocorrer a invasão.
É uma fase importante, já que é quase uma corrida espacial que irá decorrer durante alguns anos. Assim, poder-se-á dizer que funciona nesta primeira metade essencialmente como um jogo de gestão e estratégia por turnos, visto que o calendário faz o tempo andar para a frente e vamos acompanhando todos os desenvolvimentos globais.
Durante esta etapa, boa parte da acção – ou pelo menos a mais importante – acontece por meio de pequenas missões diplomáticas e de espionagem que visam a estabelecer a nossa ordem de influência pelo planeta e assim fazer valer a nossa causa. Será uma jogabilidade que por vezes nos faz lembrar de jogos como The Risk, onde os territórios vão sendo conquistados mediante a influência que os nossos colaboradores vão obtendo ao longo do jogo.
Assegurando essa parte, passamos para o segundo estádio do jogo, num plano interplanetário, em que tentaremos controlar o sistema solar e os seus recursos. Será aqui que realmente vamos expandir o nosso poder e já a pensar na preparação para a invasão que está cada vez mais iminente. Vamos poder construir as nossas próprias naves através de módulos – um pouco como estão a pensar fazer em Starfield – cujas batalhas no espaço são numa tirada RTS, e ligeiramente similares a jogos como o Homeworld – apesar de o gameplay ser notoriamente mais básico.
Confesso que esta foi a minha secção preferida do jogo, e daquela que mais desfrutei, principalmente na altura de construir a nossa frota. Temos vários tipos de naves, desde Battleships, Battlecruisers, Destroyers, Gunships, Titans e muito mais, e é imensamente divertido juntarmos os diferentes módulos e criarmos as naves que idealizamos, seja no tipo de armor, power plants, drives ou armas que usaremos. E depois podermos combater em larga escala com todas elas é um verdadeiro bónus, e uma particularidade que faz Terra Invicta destacar-se de qualquer um dos seus concorrentes.
Pode não ser uma obra prima no aspecto gráfico, mas cumpre com eficácia no design, performance e funcionalidade. Os menus podiam ser mais intuitivos, pelo menos no começo, mas quando nos familiarizamos com as opções mais comuns e com os padrões mais recorrentes da jogabilidade deixa de ser um problema, e tudo flui naturalmente. Sonoramente é o esperado de um jogo de estratégia, com uma música instrumental discreta e relaxante que convida à concentração.
Terra Invicta é uma opção muitíssimo digna para os fãs da estratégia. Pode aproveitar ideias de alguns títulos do género, mas tem o dom de apresentar uma mistura e um contexto que o separam de todos os outros.
Uma estreia promissora do estúdio Pavonis Interactive.