Developer: KT Racing
Plataforma: PS5 / Xbox Series X|S e PC
Data de Lançamento: 12 de setembro de 2024
Devo confessar que aqui pela redação do nosso site, eu e o Rui Gonçalves estávamos ansiosos por este Test Drive Unlimited Solar Crown, tanto ele, como eu, somos fãs da franquia que até chegou a superar, para nós, todas as outras. E existem várias razões para isso, o Test Drive Unlimited foi o jogo que trouxe muitos dos conceitos que vimos hoje pré-estabelecidos em Forza Horizon, The Crew Motorfest ou Need For Speed. Coisas como um um mundo aberto para explorar foi lá que começou, um mapa com GPS, a escolha de personagem, o som dos carros altamente detalhado, os modelos dos mesmos, o podermos alugar carros e ir aos concessionários, a compra de um apartamento com uma garagem generosa para albergarmos os nossos veículos, as missões, todos estes pormenores começam por um jogo que fez furor em 2006 com o lançamento da Xbox 360. Mas será que Test Drive Unlimited Solar Crown consegue voltar a surpreender?
A KT Racing e a Nacon tentaram fazer algo semelhante com este Test Drive Unlimited Solar Crown. Aproveitar uma nova geração de consolas e PC’s apoiar-se ao core do jogo criado pela Eden Games e pela Atari, e desenvolver um jogo em mundo aberto levando-nos até Hong Kong, fugindo um pouco das ilhas e festivais paradisíacos dos seus potenciais concorrentes, mas apresentando a Ilha de Hong Kong e as suas 370 milhas quadradas está recriada com precisão na escala 1:1. São cerca de 600kms de estrada para explorarem, divididos em 14 distritos, com a atmosfera a alternar perante o cenário.
Em termos de proposta, talvez recordando o início de TDU, onde começávamos no aeroporto a escolher a nossa personagem, aqui, devido a uma nova era, viajamos até à ilha e ao seu Solar Crown Hotel num táxi drone, com toques muito futurísticos, com o hotel a ter uma arquitectura muito avant garde, também. A partir daí a ideia é muito simples, ganhar reputação a conduzir um carro, seja a entrar em corridas, seja abater recordes de velocidade nos radares espalhados pelo mapa, que seja a encontrar pontos específicos, concessionários, pontos de encontro e outros segredos. O primeiro grande objectivo é chegar a nível 12 de reputação para que possamos dar nas vistas o suficiente para escolhermos em que clã nos queremos afiliar para tentar seguir um estilo de vida próprio.
O Clã Sharps considera-se uma espécie de classe de elite que é caracterizada pela sua paixão pela sofisticação e pela luxúria mais clássica. São considerados mais tradicionais, não gostam da extravagância do Clã Streets e a sua falta de maturidade. Os Sharps representam a Classe Alta da Sociedade, com o seu estilo elegante e contemporâneo.
O Clã Streets não tem a intenção de passar despercebido. Sucesso é sinónimo de causar uma grande impressão e ir contra corrente. Provocativos e extremistas, os Streets são apaixonados pela “street culture” e pela cena Underground.
Eu como sou da “street”, segui esse caminho, preferindo uma discoteca barulhenta e luzes de néon por todo lado como quartel general do meu clã, e uma vida mais vivida no limite nas estradas de Hong Kong.

O que me agradou no jogo foi este sistema de reputação ser bastante mais lento do que o habitual no género. Geralmente estamos a mudar de carros de hora a hora, se tanto, assim como de ambientes e tipos de corrida, e aqui isso não acontece. O jogo quer que nos apeguemos ao nosso bólide e que, primeiro tratemos bem dele, com upgrades em cada uma das componentes, da mecânica à aerodinâmica, antes de tentarmos olhar para o carro do vizinho do lado. Para isso, o jogo coloca a fasquia dos carros disponíveis nos concessionários ser bastante alta, isto é, serem bastante caros. Só vamos conseguir, no início, comprar algos carros clássicos, com que nem vale a pena competir, mas que têm algum valor sentimental ou histórico. O nível de experiência de reputação também tem uma fasquia relativamente alta, isto é, a termos que fazer várias corridas. Aqui o jogo premeia com mais XP quem vence, mas dá sempre XP seja qual for a nossa posição.
Aqui surge o primeiro senão, é que temos que efectivamente terminar cada corrida, não existe “Restart”, a não ser no final da corrida e também não existe nenhum “Rewind” durante a prova, o que pode ser bastante chato, especialmente por causa do sistema de colisão, do qual já falarei um pouco mais à frente. O que ajuda é mesmo o facto de que não precisamos de terminar em primeiro em todas as corridas para desbloquear outras.

Quando escolhemos e entramos para um Clã, passamos a ter outro medidor de experiência, neste caso de influência. A influência só pode ser ganha em eventos em que defrontemos o clã rival, quer seja em corridas, em circuitos, quer seja a desafiar elementos, leia-se outros jogadores, que escolheram o outro lado, literalmente, do mapa. Este acaba por ser um dos pontos interessantes do jogo, visto que vai ser essa rivalidade que nos vai alimentando mais à frente no jogo, especialmente na componente online que este Test Drive tanto quer usar a seu favor, mas que está difícil de conseguir. Com a subida de nível de influência vamos recebendo prémios que passam por cosméticos para a nossa personagem e os nossos bólides.

O jogo vai-nos colocar em primeira pessoa em várias situações, o que devo confessar, é algo que me agradou bastante, porque estou um pouco cansado e parece-me pouco natural e até forçado, tudo girar em torno de menús. Noutros jogos do género funciona dessa forma e acho que torna a experiência pouco pessoal, a nossa personagem parece acessório e acaba por não nos representar dentro do jogo. Mas aqui há efectivamente uma experiência pessoal que vive na primeira pessoa e que até pode conversar com outros jogadores.
Comecemos pelo Solar Hotel, este será o principal hub social do TDUSC, onde vão poder conhecer e interagir com outros jogadores, comprar roupas e mudar a aparência do vosso avatar. Infelizmente, não vamos poder comprar casas no lançamento do jogo, sendo que o diretor criativo Alain Jarniou sugere que esse recurso pode regressar após o lançamento.

Temos também 14 concessionárias que estão localizadas na Ilha de Hong Kong, permitindo que naveguem pelas opções oficiais do fabricante e interajam com carros num hub social com outros jogadores. E, por fim as oficinas, onde para além de socializar, vão permitir que personalizem ainda mais o vosso carro, com opções para melhorar o desempenho, para além de criarem as vossas próprias pinturas com centenas de adesivos e decalques. Destaque ainda para os carros movidos a combustão que vão ter 13 peças de desempenho personalizáveis em seis categorias, enquanto os carros elétricos vão ter 12 peças de desempenho personalizáveis em seis categorias.

Devo confessar que a primeira vez que comecei a ouvir pessoas a falar na coluna do meu DualSense julguei que fosse um bug ou que estava a ouvir vozes, mas a verdade é que quando estamos nestes locais, se nos aproximarmos de um outro jogador ou um grupo de jogadores, podemos ouvir as suas conversas, entrar na conversa e simplesmente socializar. Isso deu-me a impressão de que estava de facto dentro do jogo, deu aquele toque de imersão que costuma faltar neste género de jogos. A costumização da nossa personagem também bastante vasta, com roupas e acessórios para todos os gostos e para gastar os nossos créditos amealhados, assim como os salões de beleza para alterarmos a fisionomia da nossa personagem como quisermos.

Passemos então para dentro do nosso bólide, ou dos vários que tivemos oportunidade de testar em circuitos fechados ou no mapa aberto do jogo. É aqui que o TDU Solar Crown começa a patinar. Por mais que queiramos fugir às comparações com Forza Horizon ou The Crew, as duas franquias apresentam uma condução bastante melhor. De facto, sentimos que o nosso veículo é muito mais pesado do que a realidade, que curva com bastante dificuldade e que patina ainda mais facilmente. Neste tipo de jogos o equilíbrio é fundamental e está entre sentirmos sempre diferenças entre o tipo de carros que conduzimos, seja pela sua força, potência, tracção, peso, por aí fora, e entre a facilidade de aprendizagem e a manobarilieade dos veículos.

Se ao início pensei que o facto de ter escolhido o Ford Mustang GT para começar tinha sido uma má ideia porque seria demasiado pesado e com muita potência, rapidamente percebi que, apesar de algumas diferenças, a questão não passava por aí, mas sim que os carros parecem movimentar-se num bloco único, só guinando obrigatoriamente com o uso do travão de mão e que a travagem bloqueia o carro em bloco e não o faz “driftar” como seria suposto. Nada que o hábito não possa encobrir um pouco, assim como uma escolha sábia dos carros com que joguemos, mas aí entra o segundo problema que é o sistema de colisão do jogo. Aqui os carros não se despedaçam todos, não capotam com facilidade, não andam aos virotes tão pouco, mas colidirmos com as coisas vão-nos obrigatoriamente travar o carro. E não estou a dizer abrandar como seria normal ao batermos em postes de iluminação ou grades, estou mesmo a dizer parar drasticamente, como se tivessem desligado a bateria do carro, o que é muito incomodativo, para além de pouco real.

Um dos aspetos mais frustrantes, nesta altura em que a KT Racing ainda se continua a debater com bugs e problemas de servidor, é o comportamento irrealista da IA, particularmente devido ao evidente rubber-banding. Os condutores controlados pela IA, mesmo utilizando o mesmo carro que nós, conseguem acelerar de forma impossível, deixando-nos para trás em situações em que isso não tem qualquer sentido. Isto torna-se especialmente problemático quando saímos da estrada, já que a IA parece imune às físicas soltas e escorregadias que tornam a condução, por exemplo de um todo-o-terreno, difícil para os jogadores. Apesar de utilizarmos veículos projetados para terrenos acidentados, vamos ter dificuldades em obter tração, enquanto a IA passa por nós sem esforço, ganhando aderência onde não deveria.

Por outro lado, a IA às vezes comete erros bizarros, como sair disparada de falésias em estradas de terra, o que pode ser engraçado e oferece uma oportunidade rara de ultrapassar depois de sermos deixados para trás de forma injusta. No entanto, este comportamento inconsistente da IA torna-se ainda mais irritante à medida que avançamos no jogo, especialmente ao desbloquear classes de carros de topo. Os picos de dificuldade nestas corridas mais avançadas evidenciam ainda mais as vantagens injustas da IA, tornando a progressão menos agradável.

Em termos de visuais e desempenho, o jogo é muito inconsistente. Ao ponto de ir ver uma carrada de videos de gameplay de outras pessoas para perceber se era só eu que estava a ver certas coisas a acontecerem. Infelizmente não estava só, apesar de, os jogadores de PC terem mais algumas hipóteses de optimizar o jogo para um melhor desempenho, na PlayStation 5, que foi onde eu testei o jogo, Test Drive Unlimited Solar Crown deixa muito a desejar. Se jogarmos no modo de desempenho, vamos conseguir um frame-rate de 60FPS em 1080p, mas que raramente parece estável. Se formos minuciosos, até é, mas só que não parece, isto porque temos tantos problema de pop-in, cintilação à distância, iluminação irregular e de blur para dar a noção de velocidade, que o jogo parece que o frame-rate oscila como se estivesse numa montanha russa. A questão do blur então é desastrosa, porque geralmente o efeito é colocado visualmente no jogo para dar a sensação de velocidade, mas tanto faz que estejamos a 10km/h como a 100 que o blur ativasse da mesma maneira, é absurdo. O jogo tem ainda um modo de qualidade a 1440p com o frame rate preso aos 30, mas que, com o tal efeito de blur torna o jogo muito menos agradável do que deveria.

A falta de polimento das texturas nos edifícios, nos objectos também é gritante, a paisagem no seu geral, o cenário e as várias facetas da Ilha de Hong Kong até dão vontade passear pelas imensas estradas deste mapa recriado na escala de 1:1, mas temos que nos abstrair de muita coisa. No entanto, se jogarmos de noite, ou até mesmo à chuva, o jogo consegue surpreender pela sua qualidade gráfica, com as luzes e os reflexos a estarem bastante bem conseguidos, especialmente os modelos dos carros, que neste jogo é o cerne da questão, mas de dia há alguma coisa tecnicamente errada, com os reflexos a ficarem “borrados” a perderem por completo a definição, com os carros até a ficarem embaciados na sua pintura. Eu até diria que os “humanos” com um aspecto datado, mais próximo do último Test Drive Unlimited 2 de 2013, poderiam ficar lá atrás na nossa cabeça esquecidos, mas é mais um factor para juntar ao descrédito deste trabalho visual.

Há algo que ainda me dá alguma esperança, é que claramente existem aqui problemas técnicos graves, mas recuperáveis, quer seja da questão dos servidores finalmente ficarem estáveis e aguentar a pressão de um MMO de simulação automóvel que necessita de estar sempre online para se jogar, a componente visual parece-me claramente um pouco nas técnicas de iluminação, rastreamento e aplicação em texturas e a jogabilidade pode ainda sofrer alguns ajustes para tornar o jogo muito mais aceitável.

A verdade é que há algo em Test Drive Unlimited Solar Crown que me faz querer que isso aconteça, e prende-se com a proposta um pouco diferente e com uma personalidade própria que o jogo da KT Racing transmite. Uma abordagem onde tratamos mais carinhosamente de cada veículo que adquirimos porque sabemos o esforço que tivemos para o comprar, onde a evolução do jogo é mais lenta e leva-nos a explorar mais o mapa, as paisagens e os cenários e aquilo que nos oferece, uma abordagem mais pessoal pelos momentos em primeira pessoa nos concessionários, nas garagens ou no nosso apartamento, uma perspectiva de rivalidade mais apurada com a escolha de um clã e de trabalhar em comunidade para atingir os nossos objectivos.
Test Drive Unlimited Solar Crown tem os princípios fundamentais certos, o vasto mundo aberto e a física de condução em asfalto proporcionam uma base sólida, com pequenas abordagens que criam uma identidade própria, mas que é atropelada pelos erros técnicos e pelos problemas de servidores. o jogo precisa de alguns ajustes significativos para parecer realmente completo. A imersão no mundo na primeira pessoa, a visita aos concessionários ou garagens, ou mesmo a termos um apartamento, são toques muito interessantes, a lenta progressão nos níveis de experiência de reputação e influência, fazem com que nos dediquemos ao nosso bólide durante mais tempo, também devido à dificuldade inerente de o comprar, que o torna ainda mais desejável, são elementos que trazem alguma frescura ao género. Mas os problemas dos reflexos e da iluminação de dia, assim como as superfícies, texturas e os modelos humanos muito pouco polidos, fazem com que seja muito difícil ficar agarrado ao jogo. A Nacon e a KT Racing pretendem que este seja um game as a service, e, desde que as equipas se dediquem, acreditamos que este novo jogo de Test Drive terá grandes melhorias nos próximos meses.



