Developer: DO MY BEST / tinyBuild
Plataforma: PlayStation 5|4, Xbox Series X|S, Xbox One e PC
Data de Lançamento: 26 de Junho 2023

Há jogos que nos conquistam pela ideia genial que conceberam e transformaram em jogo. Esta é uma delas, parece simples e até parece algo impossível ninguém se ter lembrado disso, mas a DO MY BEST pegou neste conceito de um escritor aprisionado num bloqueio mental, o que se costuma apelidar de “Writer’s Block” e que precisa executar uma série de tarefas mais obscuras para sair dessa condenação. Mas o que torna este jogo ainda mais especial é que vamos abordar algumas das histórias mais reconhecidas do grande público, como a lenda do Rei Artur ou de Thor, adaptadas de uma forma que só poderiam existir num universo paralelo, ou neste caso, nas mãos de uma editora que contratou outros escritores para fazer adaptações.

É claro que podemos tirar várias interpretações a esta questão, mas é difícil, para mim, não pensar que isto é também uma sátira à quantidade de adaptações que já vimos destes contos mais tradicionais, que se transformaram em cinema, em séries ou em livros e, de como perderam a sua própria identidade pelo meio, fazendo com que muitos nem conheçam a versão original. É uma prerrogativa que ainda se torna mais veemente quando a nossa personagem entra no próprio livro que escreveu e o vê completamente alterado, mas já lá vamos.

O jogo não nos dá todo este conhecimento de bandeja, no início encarnamos em Etienne Quist, um escritor que, por algum motivo é condenado a tal pena literária de ser impedido de escrever e tem uma espécie de algemas que o previnem de o fazer. A sua condenação é de 30 anos, algo raro, e resta-lhe apenas duas alternativas, ou cumprir a sua pena, ou tentar encurtá-la de alguma maneira mais ilícita. Como criativo que é, já adivinham qual foi a sua escolha, e embarca numa aventura em que uma organização lhe pede para extrair determinados objectos de alguns livros. E aqui entra a parte mais interessante, visto que Etienne tem o poder de entrar, literalmente, dentro do livro e tentar resgatar esses items, falando com personagens do mesmo, vivendo as tramas de cada página.

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Começamos o jogo em primeira pessoa, na nossa casa, onde vamos atender o telefone, comunicando com a tal organização que nos dá as tarefas, para, após aceitarmos a tarefa, nos ser deixada à porta uma mala que contem o livro, um recipiente para o objecto que temos que recuperar e algumas informações sobre o autor e o livro. Quando entramos dentro do livro, passamos para um jogo tipo Point and click de visão isométrica. Aí controlamos Etienne e vamos explorando cada cenário, os seus puzzles de ambiente e muitas questões que temos que colocar às personagens para tentar perceber a localização de cada item. Essas conversas e interacções são feitas através de caixas de diálogos, dando-nos algumas opções, algumas delas bloqueada porque não temos determinado artigo ou chave e que temos que encontrar, e por aí adiante.

Geralmente estas caixas vão-nos dando pistas daquilo que temos que procurar e se for um item específico basta o encontrar, se precisarem de um lockpick, ou de um pé de cabra, ou de um alicate, aí vão ter que encontrar as peças que precisam para fabricar esses utensílios. Por isso, vão ter que vasculhar cada área de jogo para, numa mesa de fabrico, fabricarem o que precisam, o que vos digo não vai ser assim tão fácil.

Nem só de exploração vive este The Bookwalker: Thief of Tales, pois também temos uma componente de combate por turnos. Não é componente central, mas faz parte, e acontece especialmente com alguns Bosses que vamos encontrando pelos livros fora. Não dá para combater o medo, dentro dos livros, com armas convencionais, por isso Etienne terá que sacar da caneta para usar como arma. O fundamento é bastante simples, fazer com que as personagens percam a sua tinta para os removermos do livro, para isso Ettiene pode usar a caneta, mas também pode dar pontapés para atordoar, ou sugar a tinta dos seus inimigos, mais à frente poderá ainda usar um escudo para se defender.  A tinta, aqui, é o poder de um escritor, e, na prática funciona como a mana de um feiticeiro. Temos um barra limitada do recurso que pode ser investida nestes diferentes ataques por turnos. Inimigos que eliminamos devolvem tinta, assim como alguns ataques permitem que recuperemos certas quantidades de volta. Temos uma barra de vida, que poderá ser preenchida com items que apanhamos, assim como criar frascos de tinta que podemos fabricar.

A forma como a aventura se desenrola, o grafismo de cada cenário e da proposta alternativa de cada livro é realmente única e enrola-nos nas 6 horas de jogo, mais coisas, menos coisa. É também aqui que o level design brilha, já que mesmo em desenhos labirínticos, poucas vezes nos faz sentir perdidos e desorientados. Os caminhos fazem sentido, a interligação entre cenários são reais e temos sempre a noção do que fazer a seguir, apesar de não nos ser dado, apenas nos obriga a ter atenção ao detalhe e aos diálogos.

E é também aqui que encontro a grande falha do jogo, nos diálogos. Infelizmente os diálogos não tiveram direito a voice acting, e é uma pena enorme, porque com isso o jogo teria uma dimensão muito maior. O facto das personagens serem interessantes, novas, com um enredo bem conseguido perde-se pela nossa necessidade de apenas ler e ler caixas de diálogo. Há mais alguns pormenores que poderiam ter sido limados, como o caso de nos obrigar mais vezes a interagir no mundo real com objectos e os vizinhos de Etienne para encontrar items para levar para o mundo dos livros, assim como, poderia estar mais limado, em termos gráficos quando estamos no modo primeira pessoa e alguma dificuldade na componente point and click de interagirmos com determinados objectos.

O que nos faz esquecer algumas destas falhas é mesmo a originalidade do conceito e da proposta do jogo, com algumas reviravoltas bastante interessantes, especialmente quando nos metemos em autênticas encruzilhadas que, quase sem querer, nos faz importar com as verdadeiras motivações para o resgate destes objectos e qual é a sua finalidade. Mas, se afinal, estas são criações irreais, qual seria o motivo de nos preocuparmos?  Essa é a pergunta que irá nos perseguir ao longo da aventura.

The Bookwalker: Thief of Tales é daqueles jogos que acho obrigatórios por ser uma lufada de ar fresco. Tem uma ideia original, tem uma reflexão adjacente sobre a cultura e sobre os livros, tem uma boa concretização em geral, e tem um direcção artística muito bem conseguida. Se tiverem Game Pass não percam esta oportunidade, se não tiverem diria que se gostam de jogos Point and click com alguma acção e aventura, vão adorar o jogo.

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Pedro Moreira Dias
Fundador do Site - Salão de Jogos, o Commodore Amiga 500 foi o seu melhor amigo durante décadas e ainda hoje sabe de cor a equipa principal do Benfica do Sensible Soccer 94/95. Nos tempos vagos ainda edita as botas dos jogadores do FIFA e do PES.
analise-the-bookwalker-thief-of-tales<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">A arte do jogo</li> <li style="text-align: justify;">A própria proposta e ideia original</li> <li style="text-align: justify;">As mecânicas bem conseguidas</li> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Alguma dificuldade em interagir com objectos</li> </ul> <li style="text-align: justify;">A falta de voice acting</li> </ul>