Developer: Striking Distance Studios
Plataforma: PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox One, Xbox Series X|S, PC
Data de Lançamento: 2 de dezembro de 2022
Vivemos cada vez mais num período em que não existe meio termo, e basta um pequeno pormenor para algo ser péssimo ou incrível. The Callisto Protocol chegou com diversas críticas que me deixaram com a pulga atrás da orelha. Notas altíssimas por um lado, notas baixíssimas por outro. Claramente algo teria de estar errado, pois bem, diria que quem dá uma nota baixa a The Callisto Protocol, ou claramente não gosta destes jogos (logo não os devia analisar), ou não o testou numa consola de nova geração, como foi o meu caso.
No caso do PC, existe o problema de o jogo não se encontrar optimizado, algo que claramente deverá ficar resolvido com uma actualização, mas devo confessar que não sendo fã do género, fiquei completamente rendido ao jogo na PlayStation 5 – plataforma onde o testamos. Além disso, comparar este jogo a Dead Space é completamente errado, o jogo nada tem a ver com a franquia da Visceral Games, senão, ou qualquer jogo com tiros, na terceira pessoa, e passado no espaço seria um novo Dead Space. Além disso, The Callisto Protocol oferece tudo aquilo que um jogo da nova geração deve ter, e sendo Glen Schofield o CEO da Striking Distance Studios, e um dos criadores de Dead Space, imagino que não quisesse fazer uma cópia do seu antigo jogo, e sim trazer algo novo e diferente – como aconteceu. Dito isto, vamos lá a factos.
O início da história do jogo é a entrada perfeita para este universo de terror e sobrevivência. O jogo passa-se em 2320, e o protagonista é Jacob Lee, um piloto de transporte de cargas entre as luas de Júpiter, e interpretado por Josh Duhamel, bem conhecido dos filmes da franquia The Transformers ou mesmo por ser um dos sargentos em Call of Duty: WWII. No início do jogo, temos a ideia que existe um grupo de terroristas – os Outer Way – que causam o terror, seja a roubar, tal como são igualmente responsáveis por outros incidentes nas luas de Júpiter. Esse grupo é liderado por Dani Nakamura – interpretado por Karen Fukuhara bem conhecida de quem já viu a série The Boys. A cena inicial do jogo é mesmo esse grupo a causar o terror em Europa, outra das luas de Júpiter, e nota-se, claramente, que já está completamente colonizada por humanos. Como era de esperar, a nossa nave é algo de um ataque desse grupo, é ao fazermos a verificação da carga que nos apercebemos que estamos a ser roubados, levando esse acontecimento a fazer a nossa nave despenhar-se em Callisto (outra das luas de Júpiter).
Quando acordamos, verificamos que o nosso companheiro está morto e somos resgatados pelo Capitão Leon Ferris da prisão de Black Iron. Além de Jacob, também Dani é resgatada, e tentamos explicar ao Capitão tudo o que se passou, mas tudo isso é algo completamente irrelevante, já que por ordens superiores, somos aprisionados como se de terroristas nos tratássemos. É nesse momento que nos apercebemos que isto tem tudo para correr mal, e de meros transportadores de carga, passamos a ser prisioneiros de uma das piores prisões que se possa imaginar.
Isso é facilmente detectado pelos jogadores, na maneira como nos colocam à força um mecanismo na parte de trás do pescoço, uma maneira do jogador conseguir identificar a vida do personagem, mas que ilustra bem como os prisioneiros são tratados naquele local. É já depois de estarmos na nossa cela que acordamos com diversas explosões, com a porta da nossa cela destrancada, e com algo muito estranho a passar-se em Black Iron. É a nossa oportunidade de escapar daquele local, e ao fugir da cela encontramos Elias Porter, um prisioneiro que conhece a prisão como ninguém, e que nos oferece ajuda, caso o consigamos tirar da sua cela.
É nessa tentativa de o ajudar que percebemos que algo está completamente errado, e a prisão está completamente cheia de monstros que matam e infectam humanos, tornando-os em monstros poderosos. É a partir daqui que começa verdadeiramente o jogo, dando ao jogador um início promissor a esta aventura de sobrevivência e terror.
Em termos de jogabilidade preparem-se para um jogo em terceira pessoa, mas com uma movimentação não muito abrangente no que se refere à liberdade de movimentação do personagem. Este não apresenta rapidez de movimentos, logo para nos desviarmos será mesmo necessário usar os comandos para isso. Mesmo a correr é algo lento, mas faz claramente parte da proposta, já que se trata de um jogo de terror e sobrevivência. Algo essencial de perceber por todos aqueles que esperam um jogo de tiros como Dead Space, é que aqui existe muito combate corpo-a-corpo, onde podemos atacar com diversas armas, desviar ao puxar o analógico direito para a esquerda, direita e para trás. Algo interessante é a variedade de armas que vamos tendo, e ao avançar no jogo, novas armas vão aparecendo para usarmos. Se no início começamos com uma espécie de marreta, depois, passarmos para o bastão prisional que dá choques eléctricos, e com o natural progresso vamos tendo possibilidade de usar coisas bem mais avançadas.
Obviamente que depois vêm as armas de fogo, embora tenham atenção que durante os primeiros 40 minutos de jogo, tudo será em combate corpo-a-corpo. As armas de fogo são aquelas que nos darão mais poder, e também que fazem mais dano nos monstros, e em alguns casos são quase essenciais para conseguirmos escapar com vida de alguns locais. Seja como for, a mistura da luta corpo-a-corpo com armas de fogo, é algo que está extremamente bem feito neste jogo. Algo que me agradou bastante, e que vamos ter a possibilidade de usar é uma espécie de luva, a GRP, e a primeira vez que a vemos em acção é com o Capitão Leon Ferris, e ficamos logo a pensar, “eu quero poder usar algo assim”! Esta luva permite movimentar adversários, desde os atirar para a frente, como os puxar e agarrar objectos; faz lembrar a maneira como os Jedis de Star Wars usam a força, simplesmente incrível.
Mais uma vez, ao contrário de Dead Space, onde o objectivo era matar tudo o que mexia, aqui temos a possibilidade de usar o stealth. Diria que é essencial, já que a escassez de balas acontece, e desta maneira podemos poupar algumas para usar posteriormente, e podem até finalizar alguns inimigos por trás. Por vezes, o stealth torna-se muito difícil ou impossível quando os monstros aparecem repentinamente, e nestes casos terão mesmo de os matar, seja com armas de fogo, de corpo-a-corpo, usando o GRP, ou até o cenário à nossa volta. Esse é outro aspecto interessante do jogo, já que podemos usar o cenário para matar os monstros, já que existem locais que os podem electrocutar, ou os espetarmos em picos, e outras coisas.
Diria que o ponto em que o jogo mais toca em Dead Space é mesmo no melhoramento e aquisição de algumas armas, já que estas são impressas nas várias impressoras que existem na prisão. Esse foi aquele ponto em que está bastante similar ao jogo da Visceral Games.
A exploração é algo que existe pontualmente em The Callisto Protocol, e é um daqueles jogos que já existem poucos, isto é, bastante linear, mas que ao mesmo tempo é tão “saudável” e desejável voltarmos a ter jogos deste género, em que apenas temos de avançar e nos divertirmos, sem precisar de ir a todos os recantos e explorar mapas open world. Os locais de exploração são mais para dar-nos a conhecer alguns pontos interessantes da prisão, e para percebermos a história completa do jogo – e até apanhar novos itens, muitas vezes úteis. Esta linearidade torna os combates mais intensos, e a sensação de terror e sobrevivência acentuada, já que não há como fugir de alguns deles, e muitas vezes oferecem mesmo uma brutalidade extremamente criativa, com algum gore à mistura. Vão ter encontros com alguns bosses, e é nesse momento que o jogo mostra toda a sua dificuldade, porque se durante o percurso podemos ter alguma dificuldade, com uma repetição ou outra conseguimos contornar os nossos problemas. É nos bosses que vamos “penar” bastante, até os conseguir derrotar. Diria até que este é um ponto que pode frustrar por vezes os jogadores.
Graficamente, o jogo está simplesmente brutal, e mesmo não sendo um jogo exclusivo da nova geração, todos os cenários estão bem trabalhados. Os monstros e as finalizações estão incríveis, e os detalhes das personagens estão excelentes. Obviamente que é um daqueles jogos que até pode fazer impressão a alguns jogadores, já que o gore em alguns cenários é extremamente elevado, mas para quem não tem problemas com isso, é um regalo ver todas aquelas mutilações, aquele sangue, aquela pintura grotesca. Por outro lado, termos uma iluminação bastante reduzida ajuda na ambientação de terror do jogo, sem sabermos o que vamos encontrar a cada passo que damos. Além disso, tanto no PC, como nas consolas de nova geração, os efeitos do Ray Tracing estão sublimes, elevando ainda mais o brilhantismo gráfico.
Um ponto que poderia e deveria estar melhor é a câmera do jogo, e embora eu ache que os jogos em terceira pessoa dão uma melhor ambientação, estas têm de estar muito bem enquadradas para tudo o que nos rodeia fazer sentido. Infelizmente, nem sempre isso acontece, já que muitas vezes não conseguimos perceber que estamos rodeados por monstros, já que aparecem por trás e de lado sem termos essa percepção. E em certos momentos isso é frustrante e leva à morte do jogador.
Já no aspecto sonoro, o jogo está sublime, com uma banda sonora que se enquadra em todos os momentos do jogo, mas com efeitos, sons e ruídos a acontecerem durante todo o percurso, deixando sempre o jogador inquieto e com a sensação que pode ser atacado a qualquer momento. Algo que é impossível fugir, e que dá logo uma qualidade incrível ao jogo é o seu voice acting e interpretação dos personagens. Além de Josh Duhamel e Karen Fukuhara que já referi, temos ainda Zeke Alton – que já ofereceu a sua voz a personagens de Saints Row, Diablo Immortal, Call of Duty: Vanguard – que interpreta Elias Porter, James C. Mathis III. – que já interpretou personagens de God of War Ragnarök, Yakuza: Like a Dragon, The Last of Us: Left Behind – como Warden Duncan Cole, Sam Witwer – que interpretou Deacon St. John em Days Gone ou o Imperador Palpatine em Star Wars Jedi: Fallen Order – como Captain Leon Ferris, entre outros actores. Uma autêntica chuva de estrelas.
The Callisto Protocol é sem dúvida nenhuma um dos bons jogos de 2022, tal como se previa. Infelizmente, a falta de optimização no PC faz com que muitos jogadores não lhe consigam dar o merecido valor. Jogado na PlayStation 5 foi uma experiência incrível, podemos considerar que é um pouco curto, mas para primeiro jogo, a Striking Distance Studios começa em grande.