Developer: Ubisoft Ivory Tower
Plataforma: PS5, PS4, Xbox Series X|S, Xbox One e PC
Data de Lançamento: 14 de Setembro de 2023
Percebemos perfeitamente quando algum estúdio ou editora colocam as fichas todas num jogo, e The Crew Motorfest é esse jogo, onde a Ubisoft colocou a sua Ivory Tower a comandar o desenvolvimento, ao lado dos seus departamentos espalhados pelo planeta, desde Barcelona, Bucareste, Kiev ou Newcastle. E se na nossa antevisão já tínhamos ficado bastante surpreendidos pela positiva, a versão final do jogo veio confirmar que The Crew Motorfest é o novo rival de Forza Horizon e consegue ombrear e até, em alguns aspectos, ter factores diferenciadores da proposta da Playground Games.
Comecemos pelo catálogo de carros à disposição. São 600 veículos, incluindo carros de corrida, supercarros eléctricos e outros carros icónicos como o Lamborghini Revuelto, o Toyota Supra, o Hummer EV ou o Porsche Taycan Turbo S, sendo que vão poder importar todos os carros que compraram ou desbloquearam em The Crew 2. Recordo que o jogo da Ubisoft não se prende apenas a automóveis, pois temos quadriciclos, motociclos, barcos e aviões, portanto logo aí a oferta é muito grande e é um elemento diferenciador em relação a Forza Horizon, com o qual tem sido comparado.
Todos os veículos podem ser personalizados, desde a sua cor à sua estrutura, passando pelos tradicionais decalques e efeitos sonoros e luminosos. Existe uma vasta biblioteca de cosméticos disponíveis para cada veículo, sendo que muitos deles terão que ser desbloqueados vencendo corridas ou desafios. Neste campo existe uma mecânica mais arcade, não sendo as peças propriamente ditas para definir ao pormenor a simulação da costumização de um veículo, mas sim, para adaptarem-se aos vários estilos de corrida que vamos ter à nossa disposição.
Em termos de localização e do mapa, muito semelhante ao Forza Horizon 5, The Crew Motorfest estabeleceu-se num dos lugares mais deslumbrantes e vibrantes da Terra: a ilha de O’ahu, no arquipélago havaiano. A ideia da Ubisoft foi usar uma localização que, em si mesma, tivesse naturalmente boinas diversificados. Vamos andar pelas ruas da cidade de Honolulu, a descer as encostas cinzentas do vulcão, aventurando-nos nas profundezas da exuberante floresta tropical, andando pelas estradas sinuosas das montanhas, a voar sobre Pearl Harbor ou apenas a relaxar na praia.
Tal como Forza Horizon 5, também em The Crew Motorfest vamos entrar num festival que nos vai permitir desfrutar das melhores experiências que a cultura automobilística tem a oferecer. O jogo inclui um sistema de listas de reprodução (Playlists) que promete aos jogadores uma experiência de condução rica e variada.
Estas listas de reprodução são uma série de campanhas temáticas curtas que oferecem desafios de condução únicos. Quinze listas de reprodução estão já disponíveis no lançamento, cada uma oferecendo uma imersão num mundo automóvel diferente e uma série de desafios e recompensas exclusivos para desbloquear. Depois, dividindo-se por Temporadas, o jogo vai adicionar mais Playlists.
Para perceberem um pouco a diversidade destas Playlists. Comecemos com a Made In Japan, usando apenas veículos japoneses e algumas das corridas mais icónicas que reconhecemos da sua cultura automobilisca: as corridas pelas cidades iluminadas por néons, as míticas corridas à noite pelas sinuosas estradas de uma montanha, subindo-a e descendo-a, as corridas e drift e ainda as corridas de drag.
A lista de reprodução 911 Legacy que, como o nome indica, é basicamente recordar a história do mítico Porsche 911 e de todas as suas variantes, desde o clássico, passando ao Rally até ao mais moderno. Acompanhado de vários vídeos da história da Porsche vamos entrar em corridas de várias tipologias, apenas com carros da marca, mas em ambientes diferentes. Aqui há mais corridas de percursos do que de pista em si, e há também a primeira interacção com um Rally.
A Hawaii Scenic Tour, é uma lista de corridas e percursos para ficar a conhecer o mapa das mais variadas formas e feitios. É aqui que vamos experimentar os vários biomas do mapa, passando pelas zonas vulcânicas, pela praia, pelas montanhas, pelo mar e experimentando os barcos ou pelo ar e experimentar os aviões. É uma visita guiada do jogo, e é um bom ponto de partida para os que chegaram à franquia.
A Vintage Garage, onde vamos viajar no tempo e no espaço, percorrendo as décadas de 50, 60, 70 e 80 e dos carros mais icónicos de cada uma delas. Aqui os objectivos variam muito, há percursos que temos de fazer sem o uso de GPS, nomeadamente na década de 50 com um Cadillac El Dorado, ou nos anos 80 com o mítico Pontiac Firebird, sim o carro do KITT, perante um ambiente retirado de um filme de terror. Nestes casos são nos dadas pistas, fotografias de pequenos marcos que temos que reconhecer pelo percurso para saber que estrada seguir e onde virar. Vamos ainda conduzir um pão de forma, sim a clássica Volkswagen, um Mustang Fastback como no Bullit ou um Ferrari F40 como no Outrun.
Temos a Playlist Dream Cars by SuperCarBlondie e, como o nome indica, é uma playlist de carros de sonho, alguns até conceptuais, aqueles que apenas a instagramer SuperCarBlondie costuma ter acesso e que nos deixa a babar nas redes sociais.
Para além desta Playlist, temos mais uma série delas envolvendo pessoas reais, como é o caso de Kato da Liberty Walk, um colectivo de costumizações de carros japonesa, reconhecido mundialmente, ou então Rule the Streets by Donut com a apresentação de James Pumphrey, onde claro está, com muitos piões à mistura e corridas de drag.
Depois há ainda Playlists dedicadas exclusivamente a carros off-racing, a motociclos, a aviões e barcos, competições de drift, fórmula 1 ou a carros eléctricos, por exemplo.
Com a Season 1 temos também acesso à American Muscle, a playlist dedicada aos puro sangue americano. Vamos jogar com várias versões do Ford Mustang, do clássico ao moderno, passando por versões de Rally ou de Monster Truck. Corridas contra outros veículos americanos e para exaltar vários dos cenários do mapa que, de facto, também fazem recordar algumas das áreas americanas.
De facto, cada Playlist está ligada a determinados tipos de veículos que nos fazem jogar de maneiras diferentes e de dominar as mecânicas do jogo. Obviamente nas corridas de montanha temos que ser rápidos, mas também dominar o uso do acelerador, do travão e do travão de mão, com a traseira do nosso carro sempre a bambolear. Um dos exemplos mais engraçados foi, precisamente, a dos carros clássicos, onde não temos ABS nem GPS, portanto temos que nos guiar por fotografias que nos são dadas.
Nas de drift, o truque é não perder a tração da frente para contornar os obstáculos enquanto as rodas traseiras andam a deslizar pela pista. Nas corridas de rua é encontrar os melhores atalhos para superar os adversários. Também há corridas de drag, onde a mecânica é um pouco diferente, tendo que acertar no aquecimento dos pneus com a pressão do acelerador, e depois meter as mudanças no tempo certo. Já nas de off-road utilizar todo o terreno para ultrapassar os adversários, nos barcos aproveitar as ondas da melhor forma, e nos aviões fazer o melhor tempo dentro daqueles círculos, muito à onda da Redbull Air Racing, e por aí fora.
O sistema de progressão funciona da seguinte maneira: Temos uma série de eventos, sendo que o último somos colocados à prova pelo nosso mestre para ganhar um carro especial. Depois disso desbloqueamos os Challenges e os Custom Events. É a forma de repetirmos alguns eventos mas com regras diferentes para diversificar o jogo. Já no início de cada Playlist desbloqueamos também os chamados Feats, Photo Ops e Container Teleport.
Estes são desafios que nos vão aparecendo pela frente, desde as tradições speed traps às gincanas, passando pela recolha de coleccionáveis e de tirar fotos em determinadas paisagens. Para além destes desafios mais gerais, há outros bastante mais específicos e alocados no painel de cada uma das playlists, onde temos que usar alguns dos carros dedicados a cada uma delas. Aí temos mais variedade de desafios, desde atingir determinada velocidade, permanecer na mesma por determinado tempo ou kms, fazer ultrapassagens tangentes, e por aí fora.
Não há uma forma certa ou errada, isto é, não há uma ordem específica para jogarem estas listas de reprodução, mas há alguns parâmetros de acesso a algumas delas, como por exemplo, o ter um carro específico para desbloquear essa Playlist.
Passemos para a componente online e multiplayer. Temos 4 modos competitivos à disposição, o Grand Race onde competimos contra outros 27 oponentes numa corrida de checkpoints e altamente mutável, temos o Custom Show, onde artilhamos e decoramos o nosso veículo para ficar na montra do Hub do jogo, para ser votado.
Temos ainda o Summit Contest um PVE competitivo entram numa Playlist especial de 9 eventos das várias disciplinas e o competimos para ser o melhor do ranking. Por fim, e o talvez mais ambicioso e complexo, o Demolition Royale, com 32 jogadores divididos por 8 equipas e com 4 fases distintas: Drop, Loot, Crash e Survive. Vão pegar num avião e definir, juntamente com a vossa equipa o melhor local para aterrar, depois vão andar à procura de upgrades para se preparem para a luta, seguindo-se a fase do gato e do rato, sendo que o objectivo final será sempre sobreviver. Tudo isto num mapa que vai encolhendo a cada 5 minutos e com um medidor que quando preenchido transforma o vosso carro num Monster Truck. Parece caótico não é? É porque é mesmo!
The Crew Motorfest pode ser jogado com uma “equipa” de quatro jogadores, mas tem pouco em comum com o lançamento original de 2014 – exceto pela forma como o Motorfest parece uma experiência para um jogador com adição online.
A jogabilidade, aqui será um elemento que vai dividir um pouco os jogadores. Para aqueles que gostam mais do Forza Horizon, vai estar mais perto disso do que de um Forza Motorsport, o que, para mim, é normal e até exigido num mapa de mundo aberto. Para quem gostava ainda mais da jogabilidade do The Crew 2 do que do Horizon, ainda vão ficar mais contentes porque está ainda mais refinada.
Eu gosto muito da jogabilidade da franquia, porque dá uma certa dose do feeling arcade de um mítico Scud Race, mas com o “peso” certo. E quando digo isto é porque sentimos que o carro não voa a torto e a direito como tantas vezes acontece no Horizon. Os carros colam à estrada, driftam, pois claro, derrapam também, perdemos o controlo, é mais do que certo, mas pesam, não perdem o contacto com o pavimento de qualquer forma e exigem um pouco mais do jogador, mas é também bastante mais satisfatório. Outro dos pontos diferenciadores e satisfatórios é a possibilidade da rápida comutação entre veículos de terra, mar e ar, não exigindo que, por vezes tenhamos que fazer kms e kms de estrada, mas sim, comutar para um avião e voar até ao destino marcado no mapa.
Graficamente, é lindo. Não é fotorrealista, mas sim estilizado de forma idealista, embora todos os elementos visuais sejam realistas até certo ponto. A iluminação é impressionante, a física dos elementos é incrível, “sentimos” tudo, até quando derrubamos qualquer coisa, com os objectos a partirem-se em bocados. Os biomas, as paisagens, a verticalidade do mapa e especialmente a diversidade que é complementada pelos vários tipos de veículo, fazem com que The Crew Motorfest entre neste festival para cerrar os punhos contra o monstro Forza Horizon. Não é tão definido em termos visuais como o exclusivo da Microsoft, mas é mais apelativo, mais vibrante, mais impactante. As variações do clima, a água a vir para o ecrã quando passamos numa poça, os reflexos à noite, da água na pista, ou o sol a bater-nos nos olhos estão tão bem conseguidos que me atrevo a dizer que até achei melhores do que em Forza Horizon 5. Não tem o céu a 12K filmado horas a fio, é verdade, mas a caracterização mais realista de Havaí acaba por ser mais completa do que o seu rival.
The Crew Motorfest é obrigatório, especialmente para os jogadores PlayStation que não têm acesso a um Forza Horizon 5, mas o jogo acaba por ter um grau de diversão maior que o seu rival, uma maior diversidade na tipologia de veículos e uma maior e melhor estruturação da sua progressão. Tenho a impressão que, com o passar do tempo, e com o facto de, em cada Season, ser adicionada uma nova Playlist, quase que a funcionar como uma nova temporada de uma série da Netflix, com cutscenes, novos protagonistas e uma nova narrativa de aventura automobilística; poderá mesmo ultrapassar a proposta da Playground Games.