Developer: Supermassive Games
Plataforma: PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series e PC
Data de Lançamento: 10 de Junho de 2022
O género do terror está actualmente na sua era dourada, com novos títulos a serem anunciados a toda a hora. A evolução tecnológica, criativa e narrativa da industria deu finalmente as ferramentas necessárias para que a imersão exigida neste tipo de jogos fosse facilmente alcançável. E o resultado está aí, com vários projectos interessantes a chegarem em 2022 e 2023.
Todavia, quando olhamos para as grandes referências do género, o estúdio Supermassive Games é sem dúvida um daqueles que está no topo. Especializou-se nos filmes interactivos de terror, e já tem uma razoável lista de exemplares de sucesso. E se nos últimos anos têm andado ocupados com a antologia de The Dark Pictures, era Until Dawn que continuava a provocar maiores saudades nos jogadores.
Foi por isso que recebemos com enorme surpresa e entusiasmo o anúncio de que um novo jogo do Supermassive Games chegaria em breve, e seria um projecto misterioso que não tinha qualquer relação com The Dark Pictures. Não é uma sequela directa de Until Dawn, mas existem diversas familiaridades, nomeadamente no formato que se divide por capítulos, e no ritmo da narrativa, que leva o seu tempo para se desenvolver e para apresentar as personagens.
The Quarry tornou-se por isso um dos principais lançamentos dos primeiros seis meses do ano. É absolutamente obrigatório para quem gosta de uma excelente atmosfera de terror, e de jogos onde todas as decisões contam. O estúdio pegou em toda a experiência de jogos anteriores, e mantendo a mesma fórmula, foi ao simultaneamente capaz de introduzir algumas novidades que nos levam a querer jogar repetidamente e experimentar novos caminhos e verificar como afectam o resultado final e as personagens no processo.
Nem sempre o que é cliché é necessariamente mau. Um bom exemplo disso são os filmes do estilo slasher que deram início a uma verdadeira febre de filmes de terror entre as décadas de 80 e 90. Os maiores clássicos do género surgiram por essa altura, e praticamente todos tinham os mesmos elementos em comum. Normalmente contava a história de um grupo de adolescentes que enfrentavam forças fora do seu controlo, e acabavam por ser caçados um por um.
Os jogos da Supermassive Games recuperaram isso e The Quarry até vai mais longe, fazendo uma pequena homenagem a Friday the 13th. Tal como naquela que é uma das mais importantes sagas de terror, aqui, a acção também acontece num campo de férias, com os seus jovens monitores como as figuras centrais. Não é a única semelhança, e quem viu o filme que estreou em 1980, com certeza conseguirá identificar outras, sendo um interessante e engraçado paralelismo que vale a pena descobrir.
O verão acabou, e é o último dia dos monitores no Hackett’s Quarry Summer Camp. É final de tarde e todos se aprontam com a bagagem e a tratar das despedidas. Provavelmente, depois de irem às suas vidas, nenhum dos jovens se voltará a ver, o que leva a um deles, de coração partido, a arranjar maneira de passarem mais uma noite no campo de férias e tentar resolver as coisas com a sua ex-namorada e colega. A solução encontrada é sabotar o carro, sem com isso saber que acabou de tomar a pior decisão da sua vida.
O plano de Jacob resulta na perfeição, e parece que vão ter de esperar pelo dia seguinte para voltarem para casa. Este imprevisto deixa o dono das instalações visivelmente transtornado, que se apressa a abandonar o local. No entanto, faz um pedido antes de ir – que não saiam de casa por nenhuma razão. É óbvio que, como adolescentes inconscientes que são, não levam o aviso a sério, e em vez disso aproveitam para fazer uma festa de despedida.
A noite cai, e percebemos da pior forma o porquê de Mr. Hackett ter parecido tão preocupado. Não demora muito para que o segredo tenebroso de Hackett’s Quarry Summer Camp se revele. E não irei dizer como, porque existe um certo mistério com as personagens exteriores ao grupo que é essencial para a história, levando a que não saibamos se são vilões ou aliados. A narrativa está muito bem estruturada, acumulando suspense à medida que vamos conhecendo os pormenores, suscitando o nosso interesse para além dos sustos.
É costume nos jogos da Supermassive os papeis das personagens serem desempenhados por actores já com algum nome no cinema, e em The Quarry não é diferente. Na verdade, é provavelmente o elenco mais forte de todos os títulos já lançados pelo estúdio, com actores com participações em filmes icónicos como David Arquette (Scream), Lance Henriksen (Aliens), Ethan Suplee (American History X), Grace Zabriskie (Armageddon), ou Skyler Risondo (The Amazing Spider-Man). A sua performance é excelente e é de louvar o quanto se dedicaram aos papeis, dando uma enorme credibilidade à história.
A jogabilidade permanece muito idêntica aos outros jogos do estúdio. Temos normalmente uma dinâmica separada por longas cutscenes, fases de exploração e investigação, e os períodos de maior acção que nos vão expor a breves situações de combate e vários quick time events. Os quick time events estão ligeiramente diferentes, sendo que a dificuldade baixou significativamente. Infelizmente, é uma mudança que acaba por dar demasiado tempo para reagir, o que vai um pouco contra o conceito fundamental deste tipo de jogos, que é o de causar algum pânico e ansiedade no jogador.
Contudo, há algumas novidades que acrescentam à experiência, como a mecânica do Tarot, por exemplo. E tal como o nome indica, são cartas de tarot colecionáveis que funcionam um pouco como as premonições dos jogos de The Dark Pictures. A diferença é que não vemos os vislumbres imediatamente, e teremos de esperar pelas cenas com a anfitriã e cartomante para que nos sejam mostradas. Outro aspecto curioso é que caso tenhamos encontrado mais do que uma carta, teremos de escolher qual queremos ver, cuja única ajuda que temos é a descrição da figura representada.
Agora, além de termos de procurar por pistas que vão contribuir para desvendarmos os segredos por trás de Hackett’s Quarry Summer Camp, temos também a novidade das Evidences. Estes collectibles serão cruciais para podermos provar o que de facto aconteceu naquela noite, uma vez que, sem isso, será difícil para os sobreviventes explicarem todos os eventos ocorridos.
O separador de consulta das personagens que podíamos encontrar nos jogos anteriores foi completamente descartado e substituído pelos Paths. Este novo sistema coloca, ocasionalmente, as personagens perante duas decisões, que, ao optarmos, influenciaremos o percurso dessa personagem de forma crítica. Todas essas escolhas ficarão marcadas numa secção própria, o que é óptimo para quem quiser depois voltar a jogar e experimentar outras escolhas.
A Death Rewind também faz a sua estreia em The Quarry. Quem tiver a Deluxe Edition, ou já tiver completado o jogo pelo menos uma vez, desbloqueia a opção Death Rewind para ganhar três vidas e gastar num próximo playthrough. Assim, após uma má decisão, ou um quick time event falhado, será possível gastar uma vida e dar mais uma chance àquela personagem. Sendo opcional, activa quem quiser, embora considere que retira uma certa pressão e sensação de desespero às escolhas.
Passando para o Movie Mode, esta foi sem dúvida uma das adições mais certeiras. Quem quiser simplesmente pôr a jogabilidade de lado, e desfrutar de The Quarry como se fosse um filme, agora pode fazê-lo. E com controlo total! Podemos selecionar três desfechos possíveis (Everyone Lives, Everyone Dies e Gorefest), ou indo ao detalhe com o Director’s Chair. No caso deste último, vamos poder escolher todos os parâmetros relativamente às personagens, influenciando assim como irão reagir perante as decisões. Como devem calcular, os resultados tornam-se impossíveis de prever, o que faz deste modo verdadeiramente imperdível.
Com os modos online adiados por um mês, para já, só nos podemos contentar com o multiplayer local, ou seja, o Couch co-op. Este modo permite-nos jogar com a companhia de até 8 jogadores, em que cada um escolherá uma personagem. Nesse sentido, é uma jogabilidade por turnos, em que um joga, os outros são espectadores. É extremamente divertido juntar um grupo de amigos para jogar e observar as reacções, especialmente dos mais imprudentes e trapalhões.
Graficamente está incrível. A qualidade é praticamente fotorrealista, e por vezes até nos esquecemos de que é apenas um jogo. O cenário da floresta é perfeito na construção do suspense, com uma fantástica contraposição entre as sombras e a luz que espreita por entre a folhagem das arvores. Ainda assim, acho que o contraste é demasiado escuro, dificultando nos períodos em que temos de explorar, o que recomendo calibrar o HDR para valores mais claros.
A conjuntura sonora é sempre indispensável nos survival horror, e The Quarry mostra a importância dessa componente na ambientação. A música sinistra e os efeitos sonoros em momentos-chave que apelam à nossa paranoia, levando a que estejamos sempre à espera do pior. Todavia, é mesmo o brilhante voice acting dos actores que se destaca. Não pouparam na entrega à emotividade das circunstâncias, e é de louvar que tivessem interpretado os papeis com a mesma seriedade que teriam no cinema.
É outro grande título de terror a chegar ao público. Os jogos da Supermassive nunca desiludem, e quem gosta do género não vai querer perder mais uma excelente obra do estúdio. Uma óptima atmosfera, e novas mecânicas que tornam a experiência mais imersiva, fazem de The Quarry uma extraordinária peça de entretenimento para nos ocupar por horas – a nós, e aos nossos amigos.