Developer: Misty Mountain Studio
Plataforma: Xbox One, Xbox Series S|X, PC e Nintendo Switch
Data de Lançamento: 9 de setembro de 2021
Os meus companheiros aqui do site e do nosso podcast já sabem que jogos point-and-click e pixel art são a minha praia, portanto, era normal pegar nesta proposta da Misty Mountain Studio, estúdio australiano que começa dar os primeiros passos. O jogo The Rewinder baseia-se na mitologia chinesa. Os Rewinders são humanos especiais com a capacidade de alterar o passado, o que pode ter repercussões no mundo do jogo. Por exemplo, o ambiente pode mudar drasticamente após o protagonista modificar a memória de um aldeão com os seus poderes.
O conflito central da história gira em torno das almas dos habitantes da Aldeia Reed, que não estão a chegar ao submundo para serem reencarnadas. Dois personagens do submundo, responsáveis por este processo, recrutam o último Rewinder, Yun, para investigar e resolver o problema. À medida que avançamos no jogo, as nossas ações como Rewinder irão salvar os habitantes da Aldeia Reed, enquanto alteramos também o cenário do mundo sempre que utilizamos os nossos poderes.
Ao longo da nossa jornada, somos acompanhados por criaturas únicas, como fantasmas, sapos falantes e cavalos míticos falantes, até chegarmos ao desfecho. O mistério sobre o que aconteceu aos residentes da Aldeia Reed é desvendado ao longo de cerca de quatro horas de jogo. Alguns jogadores poderão terminar o jogo em três horas ou menos, dependendo do tempo que demorem a resolver os puzzles mais desafiantes ou que a desbloquear todos os achievements e apanhar todas as flores míticas.
O jogo apresenta uma mecânica point-and-click que permite ao jogador interagir com objetos e áreas específicas do mundo. Em alguns momentos, as descrições são bastante simples, como “uma tigela vazia está numa prateleira.” Noutras ocasiões, as interações são mais complexas, podendo iniciar puzzles ou oferecer descrições mais detalhadas de certos elementos na aldeia.
Um dos aspetos mais frustrantes deste tipo de jogos é o uso frequente de tentativa e erro, onde se acaba por perder tempo a procurar exatamente onde clicar para progredir na história. The Rewinder não foge a esta regra e raros são os casos onde tal acontece, talvez o melhor jogo deste género que conseguiu dar resposta a isto é o jogo português The Night Is Grey onde depois de várias tentativas a personagem dava-nos perspectivas diferentes ou que era simplesmente incapaz de fazer algo nesse sentido. Se mesmo assim não chegássemos lá, o jogo tinha a hipótese de fazer highlight dos elementos com que podíamos interagir.
A jogabilidade segue um padrão semelhante ao longo do jogo, com variações nos puzzles e cenários. A nossa tarefa principal será explorar partes do mundo à procura de memórias. Existem cerca de sete personagens cujas memórias estão associadas a uma morte, e a nossa missão é alterar esses acontecimentos. Assim que encontramos uma memória, levamo-la a um santuário, onde cada um apresenta um puzzle diferente para desbloquear a recordação.
Quando entramos numa memória, temos de examinar os pensamentos dos aldeões envolvidos e tentar plantar novas ideias para mudar o desfecho. No fundo do ecrã, há uma linha temporal que nos permite parar ou avançar o tempo. Se não conseguirmos alterar os pensamentos a tempo, podemos tentar novamente e testar outras combinações de ideias para mudar o rumo da memória, salvar uma vida ou modificar o ambiente do jogo.
Apesar de o processo parecer complicado à primeira vista, torna-se mais fácil com a prática. Há uma sensação de recompensa quando conseguimos alterar uma memória, utilizando a combinação certa de pensamentos, e observar as mudanças que isso provoca no mundo do jogo.
Neste jogo tenho que destacar os puzzles. Os puzzles de ambiente são relativamente simples, bastando para isso ter alguma atenção aos diálogos para perceber para onde Yun terá que ir a seguir e procurar mais pistas, mas outros são realmente complexos e desafiantes. Os puzzles do santuário, como já disse, vão sendo diferentes conforme as memórias que recolhemos, desde a sequência pela qual temos que tocar em alguns pilares, passando por notas musicais que têm que ser tocadas da mesma forma do que a guia ou até fazer algumas contas para matematicamente encaixar pilares com diferentes tamanhos. Não esquecer que somos o último Rewinder, portanto todos estes puzzles são feitos ao contrário isto é, o tempo para e recua as nossas acções, portanto, temos que pensar sempre ao contrário.
Para além destes, temos ainda puzzles que implicam colocar pesos numa balança fazendo as contas necessárias para equilibrar os pratos e obter uma combinação, fazer contas num ábaco, replicar uma pintura misturando tintas, tecer uma corda usando os analógicos ou passar por labirintos cuja a sequência das passagens está envolvida num código de pequenas pedras espalhadas pelo caminho. A lista de puzzles é vasta, falei aqui apenas de alguns, mas fazem com que nunca fiquemos entediados, às vezes frustrados, é verdade, mas faz com que o jogo tenha uma dimensão maior do que apenas as quatro horas que esta jornada dura. Para que alguns puzzles não nos deixem às aranhas, vamos ter um pequeno caderno connosco que organiza as pistas que vamos recolhendo, assim como outras informações preciosas.
The Rewinder utiliza de forma brilhante o pixel art para evocar a estética das pinturas chinesas a tinta, elevando os limites dos pixels detalhados a um verdadeiro nível artístico. O jogo inclui até animações subtis no fundo, e no ambiente, como olhos a piscar em máscaras numa parede, folhas a cair, chuva e neve. Apesar de estar repleto de detalhes cénicos e mitológicos, o nível de detalhe nas personagens humanas é frequentemente inferior, com a maioria delas a não ter traços faciais definidos. Os textos presentes no jogo, como notas e sinais, estão escritos em hanzi (caracteres chineses), e uma tradução para inglês surge sobreposta quando necessário ou ao clicar nos textos.
The Rewinder é daqueles point-and-click típicos com uma bela arte, puzzles desafiantes e uma história complexa e intrigante. Tem a duração certa, cerca de 4 horas, com fases bem definidas e ambientes diversos nunca nos levando a entediar. Com personagens icónicas e algumas mecânicas muito próprias, nomeadamente aquelas que nos levam a mexer com as memórias daqueles com que interagimos e as de movimentar o tempo e o espaço, fazem com que o jogo da Misty Mountain Studio tenha uma personalidade forte e se destaque dos demais. Prova disso é a confirmação de que o segundo já está em desenvolvimento e está previsto para o primeiro trimestre do ano que vem. The Rewinder está no Game Pass e está com 50% de desconto na Steam, portanto é aproveitar.