Developer: Digital Mind S.L.
Plataforma: PC
Data de Lançamento: 12 de dezembro de 2024

Devo confessar que este título era um dos meus jogos mais esperados do ano, pela sua componente estética, utilizando a técnica de stop motion nas animações das personagens em consonância com o ambiente algo macabro de um Japão Feudal num conflito espiritual. Já o tinha experimentado, numa demo que ficou disponível, por parte do estúdio espanhol, aquando a Steam Next Fest e até o destaquei num episódio do bits e bytes.

Nessa demo tinha ficado com uma boa impressão geral do jogo, com os gráficos 2D, numa espécie de side-scroller ao estilo de Trek To Yomi, outro jogo que adorei, mas diferenciado pelas animações em stop motion, e por um ambiente mais dark fantasy japonesa. De facto há muitas referências que podem ser facilmente identificadas, a animação inspirada em stop-motion de clássicos como Jasão e os Argonautas ou Kubo e as Duas Cordas Mágicas, já o design dos monstros, as principais inspirações foram H.R. Higer e Zdzisław Beksiński, mas também há uma pequena semelhança com Okami, que vão perceber logo no início do jogo.

The Spirit of the Samurai coloca o jogador no papel de Takeshi, um samurai japonês que tem de proteger a sua aldeia do ataque de um Oni que tenta conquistar a terra com o seu exército de mortos-vivos. Ao longo da aventura, o jogador terá de controlar, para além de Takeshi, um kodama (pequeno espírito) e um gato guerreiro, que oferecem experiências de jogo diferentes consoante a personagem controlada.

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Este é um jogo de cerca de 8 horas, que vale pela qualidade técnica, acima da média, na componente gráfica. Nota-se o tempo e dedicação que foram colocados em cada animação, para que fosse o mais fluída possível, dentro do género stop motion. Por vezes parece que estamos a ver algo do género Robot Chicken, especialmente nas cutscenes de quando morremos, quer seja com Takeshi, mas especialmente com Chisai e o kodama, que parecem vindas de filmes de terror.

Em termos de level design, The Spirit of The Samurai funciona num estilo metroidvania, com acção e aventura, onde geralmente andamos da esquerda para a direita e vice-versa, a varrer todos os inimigos que nos aparecem à frente, com a posibilidade de entrar em estruturas, cavernas, casas, subir e descer andares, para dar um toque de verticalidade e alguns puzzles de ambiente, geralmente envolvendo plataformas e mecanismos. Existe a possibilidade de alguma exploração livre, nomeadamente para apanharmos itens que nos podem ajudar ao longo da aventura, assim como coleccionáveis. A exploração livre por vezes confunde-se com um sentimento de confusão de não sabermos bem para onde ir e o que fazer, mas nunca chegou ao ponto de frustração. Quando comandamos o nosso gato guerreiro, Chisai, as mecânicas são um pouco diferentes, beaseando-se mais no conceito de agir em modo furtivo, enquanto que com o kodama usamos mais os poderes mágicos do  pequeno espírito.

Falemos então da jogabilidade, que, para muitos não será fácil de se ambientarem, não porque o jogo tenha alguns elementos de soulslike, mas porque é muito pouco usual, para não dizer inédito, o esquema apresentado. The Spirit of the Samurai oferece dois esquemas de controlo para combate: um botão de ataque combinado com o stick de movimento ou o stick analógico direito. Para aproveitar ao máximo o combate, recomenda-se o uso do stick direito. É significativamente mais ágil e responsivo, proporcionando uma experiência mais fluida — e fez-me sentir como um verdadeiro Samurai ao cortar os meus oponentes. Pode demorar um pouco mais a habituarem-se, é um facto, mas isso acontece mais por alguma dificuldade de controlar a movimentação de Takeshi, devido às animações de stop-motion, do que ao esquema do combate. Aliás, será muitas vezes por causa disso mesmo que coisas simples como saltar para uma plataforma, seja tão complicado e resulte num número exagerado de mortes infundadas.

Por outro lado, ojogo oferece um sistema de combos totalmente personalizável. À medida que avançamos de nível, desbloqueiamos espaços para combos, que podem ser preenchidos com movimentos adquiridos durante o jogo. Isto permite aos jogadores criarem os seus próprios combos únicos, especialmente eficazes contra inimigos com fraquezas específicas. Embora adaptar um combo para explorar estas fraquezas possa facilitar as batalhas, isso não significa que não possam derrotar os mesmos inimigos com um combo diferente à tua escolha. Cada movimento tem as suas próprias vantagens e desvantagens. Por exemplo, podes criar um combo que causa um dano massivo, mas que nos deixa vulnerável aos ataques dos inimigos.

Gostei particularmente deste toque, onde me vi a adaptar às situações e a jogar de uma forma mais táctica, ao contrário de, por exemplo, no Trek To Yomi, em que o timing era o elemento fundamental da jogabilidade. Apesar disso, ainda há algum espaço para melhorar, especialmente em questões do hit box e do “encaixe” dos finishers, que por vezes não acontecem ou sucedem da melhor forma.

O sistema de itens também apresenta alguns problemas que afetam a experiência de jogo. Muitos itens disponíveis possuem funções redundantes, sugerindo que um sistema mais elaborado de artesanato ou combinação de itens poderia ter sido planeado, mas nunca foi devidamente implementado. No estado atual, os itens são simplesmente oferecidos num altar para gerar incenso, sem uma utilidade prática que traga diversidade ou estratégia ao jogo, apenas para dar mais pontos de experiência.

Outro problema notável é a melhoria de estatísticas no altar. Embora o jogador possa alocar pontos para melhorar atributos, não há clareza sobre quais mudanças ocorrem. A falta de informações específicas torna a escolha pouco intuitiva e frustrante. Além disso, não é possível desfazer a alocação de pontos caso um erro seja cometido, nem redefinir os atributos para testar diferentes estratégias. Como resultado, muitas vezes a melhor opção acaba por ser reiniciar a partir do último checkpoint, já que o jogo não salva após a alocação de pontos.

Apesar da Digital Mind ter escolhido vozes de pessoas de origem japonesa, não temos a opção de legendas em inglês com áudio em japonês. Apenas temos as vozes em inglês, que, por terem um sotaque japonês acaba por funcionar bem, mas eu adorava jogar com as vozes japonesas. 

The Spirit of Samurai apresenta uma arte original e deslumbrante, mas a animação em stop-motion também colocou alguns entraves na jogabilidade. Em termos gerais é um excelente jogo com a duração perfeita, em que o combate é satisfatório e até inusitado. Precisava de limar algumas arestas na componente do inventário e da sua gestão, assim como a atribuição de pontos de habilidade e a gestão de checkpoints, mas para um estúdio espanhol com uma equipa reduzida, fizeram um jogo bastante assinalável para este ano de 2024.

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Pedro Moreira Dias
Fundador do Site - Salão de Jogos, o Commodore Amiga 500 foi o seu melhor amigo durante décadas e ainda hoje sabe de cor a equipa principal do Benfica do Sensible Soccer 94/95. Nos tempos vagos ainda edita as botas dos jogadores do FIFA e do PES.
analise-the-spirit-of-the-samurai<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">A arte do jogo e toda a animação em stop-motions</li> <li style="text-align: justify;">A jogabilidade e a possibilidade da sua costumização</li> <li style="text-align: justify;">A narrativa e mecânicas diferenciadas para as 3 personagens</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Devido às animações a movimentação por vezes é menos intuitiva</li> <li style="text-align: justify;">A composição do inventário e da atribuição dos pontos de habilidade</li> <li style="text-align: justify;">A gestão dos checkpoints</li> </ul>