Developer: Drago Entertainment, Ultimate Games
Plataforma: PlayStation 4, Xbox One, PC, Nintendo Switch
Data de Lançamento: 6 de março de 2025
A ideia de procurar tesouros perdidos sempre exerceu um certo magnetismo sobre o imaginário humano. Seja através de histórias de exploradores, de vários filmes, ou da simples curiosidade em torno do desconhecido, o apelo de descobrir algo escondido sob camadas de terra é inegável. Treasure Hunter Simulator, desenvolvido pela Drago Entertainment, tenta oferecer-nos essa sensação de descoberta para o mundo digital, colocando-nos na pele de um caçador de relíquias sempre acompanhado com o seu fiel detetor de metais. Contudo, entre a promessa de aventura e a execução prática, existe uma grande diferença, e é precisamente nesse espaço que este simulador vive, oscilando entre o relaxamento e a monotonia.
Logo no início, o jogo introduz-nos o protagonista, alguém completamente anónimo, sem a possibilidade de personalização ou escolha de nome. Algo que não faz grande diferença, já que o jogo é todo passado na em primeira pessoa. O escritório é a nossa base de operações, onde recebemos missões em vários locais históricos espalhados pelo mundo. É a partir do computador pessoal que escolhemos o destino seguinte, seja o icónico Campo de Batalha de Gettysburg, uma praia escocesa batida pelo vento, um castelo polaco em ruínas ou até um oásis árabe. No total, existem onze áreas distintas, cada uma com paisagens próprias e uma atmosfera sonora que reforça a sensação de serenidade e imersão. Apesar das limitações gráficas, há um certo encanto nos cenários, especialmente à distância, com o chilrear de pássaros, o som do vento e uma luminosidade interessante que contribuem para a imersão.
Mas rapidamente percebemos que Treasure Hunter Simulator é tudo menos aquilo que podemos esperar de filmes de aventura arqueológica, neste caso é um daqueles filmes com uma cadência lenta, em que tudo é feito com muita paciência, e infelizmente uma sensação anómala de repetição. A jogabilidade gira em torno de um ciclo constante: caminhar lentamente por uma área, esperar que o detetor emita um sinal sonoro, localizar o ponto exato e escavar para desenterrar o objeto. A cada achado, o item é avaliado em termos de raridade e estado de conservação, sendo depois possível vendê-lo para financiar equipamento melhor ou novas viagens. Este sistema de progressão, embora funcional, acaba por ser superficial. Melhorar o detetor permite encontrar objetos a maiores profundidades, mas a variedade dos achados é mínima. Após algumas horas, o jogador sente que está a desenterrar as mesmas moedas, balas de mosquete, botões, entre outras coisas, tudo isso em locais diferentes, ficando para trás qualquer contexto histórico.
É aqui que tenho de deixar a minha maior crítica ao jogo, porque se por um lado a sua lentidão e repetição podiam fazer parte a experiência, a total ausência de identidade entre as regiões não faz qualquer sentido. Seria natural esperar que consoante os locais encontrássemos objetos diferentes e características da história daquela região, mas a realidade é que os objetos encontrados raramente refletem o património cultural de cada local. Essa falta de ligação entre o espaço e o tesouro enfraquece o potencial educativo e imersivo do simulador, visto que aquilo que poderia ser uma viagem através da história transforma-se numa sucessão de escavações quase idênticas.
Apesar das suas limitações, há um certo prazer inicial em dominar as mecânicas do detetor, aprender a interpretar o ritmo dos bipes e sentir a recompensa visual ao desenterrar algo. No entanto, esse prazer desvanece-se com a repetição. O processo de inspeção e catalogação dos objetos é igualmente básico: basta um clique para limpar o objeto e identificar o item, sem qualquer tipo de interação mais profunda. Fica a sensação de que o jogo poderia ter explorado essa vertente com mais detalhe.
O design técnico e visual também deixa muito a desejar. Os ambientes, embora agradáveis à distância, mostram a sua fragilidade de perto: texturas rudimentares, vegetação plana, pop-in constante e inúmeros bugs visuais. O jogo até inclui uma opção de Unstuck no menu de pausa, um reconhecimento da quantidade de situações em que o jogador pode ficar preso. No caso das versões de consola, como a da Nintendo Switch, os problemas tornam-se ainda mais evidentes, com controlos pouco adaptados, navegação de menus feita através de um cursor como no PC e a total ausência de funcionalidades tácteis que poderiam ter suavizado bastante a experiência de jogo na consola da Nintendo.
Ainda assim, nem tudo é negativo. O ritmo calmo de Treasure Hunter Simulator pode ser surpreendentemente relaxante, especialmente para quem procura uma experiência contemplativa. As missões secundárias e os pequenos objetivos, como tirar fotografias ou recolher lixo, ajudam a variar ligeiramente o ciclo de jogabilidade, e a banda sonora, discreta mas adequada, reforça a sensação de paz. Para alguns jogadores, a repetição pode até ser terapêutica, funcionando como um escape tranquilo do frenesim habitual dos videojogos modernos.
Infelizmente, mesmo esse potencial relaxante é constantemente minado pela falta de polimento. Os tempos de carregamento longos, os bugs ocasionais e a simplicidade extrema das mecânicas fazem com que o encanto inicial desapareça depressa. A ausência de elementos de descoberta genuína ou de uma recompensa emocional significativa torna difícil justificar longas sessões de jogo. Há momentos em que encontrar um “tesouro lendário” deveria ser emocionante, mas o jogo reduz esse feito a uma notificação de e-mail e uma pequena imagem de referência, retirando qualquer sensação de conquista pessoal.
Treasure Hunter Simulator é um jogo que desperdiça uma premissa muito interessante. Poderia ter sido uma experiência educativa, imersiva e emocionalmente recompensadora sobre a ligação entre o passado e o presente, mas acaba por ser uma simulação estática e previsível. Funciona como uma curiosidade temporária, talvez até como uma forma de relaxamento, mas dificilmente conseguirá manter o interesse de quem procura algo mais profundo.






