Developer: Farmind Studios, 100 Games, Ultimate Games
Plataforma: Xbox, Nintendo Switch, PC
Data de Lançamento: 1 de Novembro de 2023
Imaginem acordar acorrentando numa cama, sem saberem nada do que se passa. A imagem pode levar-nos ao início do filme Saw, mas prometo que não há nada relacionado com o filme. Não há um “you wanna play a game” para nos assustar, mas a verdade é que este True Virus pode, de alguma forma, provocar em nós algum desconforto, principalmente porque não há um contexto inicial capaz de nos preparar para o que podem encontrar.
Mas vamos lá ganhar coragem para perceber o que se passa no local onde estamos, um edifício que outrora já terá sido uma instituição psiquiátrica e que carrega em si um ambiente pesado e sinistro. Muito graças à banda sonora que acompanha cada sala em que entramos e que basicamente tem um ou outro enigma para resolver. Uns são mais simples que outros.
https://www.youtube.com/watch?v=3QdvBxcqIOE
A mecânica de True Virus funciona como um clássico point & click, com todas as coisas boas e más que isso pode trazer. O estilo já viu melhores dias, principalmente se recuarmos ao início dos anos 90 quando saíram grandes títulos como Grim Fandango ou Monkey Island, enquanto hoje em dia não há grandes referências desse estilo. Talvez não tenha envelhecido bem, mas também é verdade que para poder melhorar ou evoluir, têm de ser feitos mais e melhores jogos neste estilo.
Falando deste caso, tal como é hábito do género, a rapidez de processos e a forma como navegamos com o cursor não é a melhor, principalmente se jogarem com um comando. A própria interação com os objetos que podemos clicar apresentam alguns problemas, mas também não é ajudada pelos próprios puzzles. O cursor muda de forma quando passa por cima de algo que se pode interagir. Com isto, após ir aos itens mais salientes, dei por mim a andar com o cursor devagar em todo o ecrã disponível, à espera de ver essa forma e poder carregar. Isto pode desvirtuar um pouco o verdadeiro sentido do jogo, uma vez que substituímos a lógica do pensamento, pela “sorte” de acertar onde é preciso.
Ainda assim há bons puzzles para completar. Uma chave que tem de passar debaixo da porta através de uma folha de papel. Outra que nem com chave abre, a luz apagada que pode revelar segredos obscuros e por aí fora. Também há aqueles básicos, por exemplo, há uma parte em que precisamos de arrastar uma cama e limpar o sangue que está no chão. Ora o que temos de fazer não podia ser mais simples e direto como clicar na cama e ir a outra sala agarrar o balde e a esfregona para poder deixar tudo limpo.
A grande força de True Virus é mesmo o secretismo e a dúvida que está na nossa cabeça desde o início: mas afinal o que é que se passa aqui? É nesta inquietação que o jogo sobrevive e nos leva a querer jogá-lo mais tempo, embora o nosso personagem permaneça silencioso num mundo que parece ser avesso ao diálogo. Sem querer revelar muito sobre a história em si, a premissa passa por investigar a origem de um vírus mortal que parece andar à solta, principalmente à noite.
O seu design é minimalista e os cenários lembram desenhos feitos em papel. Todas as áreas são relativamente simples e, embora haja áreas diversas, principalmente o interior e exterior do hospital psiquiátrico, depois existem os quartos e as lojas que são muito parecidas entre si. Já falei que a banda sonora é um dos pontos fortes, mas não posso deixar de fora os efeitos sonoros que provocam alguns arrepios e até mesmo os silêncios, que parecem muito bem colocados.
True Virus é um retrato atual do género point & click na indústria dos videojogos. Sofre de todos os males que a ele está associado, mas tenta sobreviver a esse contágio com uma boa resposta no estilo de terror que tenta replicar para os jogadores. Tem alguns puzzles interessantes e outros mais aborrecidos, o que faz dele um meio termo na altura de querer, ou não, jogá-lo até ao fim.