Developer: Steel City Interactive
Plataforma: PlayStation 5, Xbox Series X|S, PC
Data de Lançamento: 11 de novembro de 2024
Passaram praticamente 13 anos sem um simulador de boxe no mercado e isso era algo incompreensível para aqueles que, tal como eu, acompanham religiosamente desportos de combate. Os jogos de boxe fizeram parte da minha infância e são algo que eu nunca parei de jogar desde então. Uma das grandes lacunas da indústria era não ter um jogo de boxe com atletas da nova era e gráficos de última geração.
Felizmente, Undisputed chega para entregar tudo isto, e muito mais.
Para mim o ponto mais alto de Undisputed é o seu roster. Aqui podemos encontrar alguns dos maiores nomes do boxe actual, bem como muitas lendas que fazem parte da história deste desporto. É fascinante ver um roster capaz de juntar Oleksandr Usyk, Rocky Marciano, Lomachenko, Julio Cesar Chavez, Sugar Ray Leonard e Canelo Alvarez, permitindo-nos fazer as maiores lutas de todos os tempos, que nunca aconteceram devido à passagem dos anos.
Para alguém como eu que gosta de acompanhar boxe, ver estes lutadores presentes no jogo é motivo mais que suficiente para querer jogar mais e mais Undisputed. Praticamente todos os atletas estão muito bem conseguidos, tanto na parte visual, como nos estilos de luta que cada um utiliza. Algo absolutamente inovador é a introdução de duas divisões femininas no jogo, sendo este o primeiro jogo de boxe com representação feminina. Undisputed conta com 70 lutadores reais, divididos em 10 categorias de peso, o que garante muitos matchups entusiasmantes.
Embora conte com 70 atletas reais no jogo, o mesmo não pode ser dito relativamente às arenas. Com a excepção da Kingdom Arena de Riyadh, aqui encontramos arenas fictícias e muitas arenas de ginásio. Estas áreas estão divididas entre ginásios, journeyman venues e professional venues, sendo estas as de maior capacidade para espectadores. Embora não sejam arenas reais, a verdade é que opções não faltam, e temos arenas que vão de bares em Sheffield com 250 pessoas, aos trinta mil lugares da Kingdom Arena, passando por alguns ginásios à porta fechada.
No que diz respeito à jogabilidade, Undisputed segue aquilo que era a base dos jogos antigos de boxe, permitindo ao jogador alternar entre os botões habituais e o analógico direto para desferir golpes. Esta jogabilidade já é algo bastante familiar para quem jogou outros jogos deste estilo, e premeia a fluidez e o completo caos, principalmente nas trocas de curto alcance. Os ataques estão divididos entre jabs, hooks e uppercuts, e cada botão controla um braço do lutador, o que simplifica bastante a aprendizagem. Utilizando os três golpes clássicos, podemos usar os bumpers para atacar o corpo, ou mandá-los com força extra. A partir daqui cabe aos jogadores pegar nestes três murros e fazer as suas combinações funcionarem.
O movimento é tão importante no boxe como qualquer murro que se possa dar, e é aqui que Undisputed ainda não está no nível desejado. O movimento dos lutadores por vezes é muito lento, e a mudança de velocidade é muito difícil de executar com precisão, principalmente no meio do caos de hooks que inevitavelmente acabamos por cair. Esta dificuldade na mobilidade dá um aspecto mais realista ao jogo, mas limita um pouco o jogador, principalmente quando este gosta de lutar fora do alcance do adversário. Claro que também este movimento está dependente das habilidades de cada lutador, e jogador, e que nos lutadores mais leves e mais rápidos essa diferença é notável. No entanto, gostaria de ter visto um pouco mais de liberdade e fluidez no jogo de pés dos lutadores.
Outro tipo de movimento fundamental nos desportos de combate é o movimento da cabeça dando-nos várias hipóteses de esquiva, mesmo dentro do alcance do nosso adversário. Undisputed tem um head movement muito parecido com o Fight Night que nos dava uma total liberdade de movimentos. Ao segurar o LT/L2, o analógico que controlava o movimento do lutador controla agora o movimento da cabeça, podendo rodar em 360 graus. No entanto, embora seja possível fazer estes movimentos, a velocidade a que eles acontecem é muito mais lenta do que o esperado, mais uma vez, privilegiando o realismo em vez do caos.
Cada parte do corpo dos lutadores tem um stat e uma barra específica. Na defesa somos presenteados com os seguintes stats: bloco, cabeça e corpo. Quando o bloco se esgota, devido a termos levado muito dano enquanto bloqueavamos, este perde o efeito. No entanto, quando a barra da cabeça ou corpo chegam ao fim, o nosso lutador vai ao chão.
Para as lesões que vão resultando do dano da luta existem também stats divididos por inchaços e cortes.Quando alguma destas barras, chega ao fim, o árbitro irá parar o combate por danos excessivos. Confesso que isso me aconteceu algumas vezes durante o modo carreira, no entanto no Online nunca tive uma luta a ser parada pelo árbitro. Isto pode estar relacionado com os overalls dos lutadores em questão, mas achei curiosa essa discrepância entre modos.
Assim que sofremos um knockdown começa a clássica contagem até 10, e inicia aquele que é um dos pesadelos de Undisputed, o sistema para nos levantarmos do chão. Este sistema consiste em manter dois pontos dentro de dois espaços que se vão movimentando. Este mini-jogo é bastante difícil de dominar, e sinto que por vezes ter de prestar atenção a duas barras em simultâneo é uma tarefa digna de um santo.
Undisputed não é um jogo com a qualidade gráfica que vemos noutras franquias de desporto, e alguns atletas mostram isso mesmo. No entanto, nota-se que houve um enorme trabalho para fazer as caras dos lutadores o mais parecidas possível e lutadores como Tyson Fury, Deontay Wilder e Canelo Alvarez estão recriados na perfeição neste jogo. Apenas quando vemos imagens mais próximas ou tentamos criar o nosso lutador são perceptíveis algumas das fragilidades gráficas.
Apesar dessas fragilidades, durante os momentos de gameplay nada disto é perceptível e os modelos dos lutadores encaixam na perfeição com o ambiente das arenas. Considero que o jogo poderia estar mais trabalhado em alguns detalhes gráficos, mas em momento algum senti que isso impedisse ou retirasse o que quer que fosse a esta experiência.
Undisputed sofre de um problema que é comum à maior parte dos jogos de desporto, a dificuldade. Aqui vemos quatro dificuldades, sendo que o salto entre Pro e Intermediate é um salto digno de medalha olímpica. Apenas saltando um grau dificuldade passamos de KO’s fáceis no primeiro round, para não conseguirmos ganhar a ninguém no início da carreira. Sinto que ainda tenho muitos detalhes para dominar antes de me atrever a jogar na dificuldade mais alta, mas gostaria de ver alguns graus intermédios que tornassem a experiência possível, mas mais desafiadora.
Como não podia deixar de ser, Undisputed tem o seu modo carreira, onde podemos criar o nosso lutador, ou embarcar numa nova carreira com um lutador do roster. Neste modo carreira temos de fazer florir a carreira do nosso lutador, tendo ao nosso dispor vários treinadores que nos vão ajudar a melhorar a nossa personagem.
Antes da luta estar marcada, são-nos dadas algumas opções de adversários que podemos escolher e posteriormente negociar o contrato. Nesta negociação podemos alterar desde a percentagem de dinheiro que recebemos, bem como adicionar opções como seguro de saúde, lutar em casa, quantas semanas de fight camp precisamos ou sacrificar uma parte do salário por mais promoção na luta. À medida que vamos lutando, vamos recebendo dinheiro, Fama e experiência para o nosso staff.
Ao recebermos mais fama e dinheiro, vamos também desbloqueando novos ginásios, e staff, que vão melhorar a qualidade dos treinos, e consequentemente as skills do nosso lutador.
Após estarem todos os detalhes prontos, chega a hora do Fight Camp, onde temos de gerir o número de semanas acordadas no contrato para treinar, promover e descansar o nosso lutador. Esta preparação é fundamental para o nosso sucesso na luta, e em todas elas, algo terá de ser sacrificado para que possamos melhorar noutros pontos. Nos treinos conseguimos escolher entre 9 treinos que nos sobem skills específicas, sendo que cada treino vai consumindo stamina. Esta gestão terá de ser muito cuidada, e descansar é fundamental para que no dia da luta tenhamos o nosso lutador com o máximo de Stamina possível.
Outra coisa interessante é que para além da forma física, que pode ser melhorada com os treinos, em Undisputed temos de ter atenção ao peso do nosso lutador. Com o tempo de paragem entre lutas o peso da nossa personagem vai flutuando, o que faz com que por vezes tenhamos de sacrificar algum treino para corrigir o peso com uma mudança de dieta.
O modo carreira suporta até 10 saves diferentes, sendo que cada carreira tem uma pasta com saves entre lutas, para podermos sempre voltar atrás, caso aconteça algum imprevisto.
Undisputed apresenta ainda outros modos de jogo, desde logo os Prize Fights que são desafios semanais onde temos de completar três lutas em três dificuldades diferentes. Estas lutas são escolhidas pelos devs e aqui temos de alcançar o score mais alto na luta para nos colocarmos o mais acima possível nas leaderboards. Penso que este modo tem algum potencial, mas apenas se adicionarem algum tipo de recompensa. Caso contrário, são apenas 3 lutas e um desafio diferente do habitual.
A vertente Online está muito presente em Undisputed e é para mim o ponto alto do jogo. Aqui podemos combater contra outros jogadores e testar as nossas habilidades ao mais alto nível. Este modo para mim é o melhor pois lutar contra o CPU acaba por se tornar um pouco cansativo, muito devido ao problema da dificuldade mencionado anteriormente.
Lutar contra outros jogadores abre toda uma panóplia de possibilidades, erros e estratégias que podemos explorar. A vertente online é composta por Quick Match, Ranked Match e ainda Create Lobby onde podemos convidar um amigo para jogar contra nós. Deste modo, Undisputed consegue abranger todas as vertentes e dar opções para todos os gostos, ou estados de espírito. Para mim, poder dar KO’s com o Joe Frazier noutros jogadores já vale o preço do jogo.
Não é fácil fazer um jogo de boxe, muito menos nos tempos que correm. Se por vezes é muito difícil acontecer uma simples luta que todos os fãs querem ver, devido às diferentes promoções, managers, etc, imaginem o quão difícil deve ser conseguir representação destes atletas num jogo. Claro que nomes como Mike Tyson, Anthony Joshua, Gennady Golovkin mereciam estar aqui, mas é compreensível que não se consiga chegar a todos os atletas.
Undisputed é um óptimo jogo, entregando algo com que os fãs de boxe se possam identificar. O seu roster é provavelmente um dos melhores de todos os tempos, com capacidade de juntar lendas e lutadores em atividade que todos os fãs queriam ver. Finalmente poder jogar com lutadores da nova era como Lomachenko, Jamal Crawford, Oleksandr Usyk é algo que qualquer fã sonhou nos últimos anos.
Os vários modos de jogo são competentes o suficiente para manter os jogadores ativos durante muitas horas. Para alguém como eu que adora a componente online destes jogos, Undisputed é um jogo obrigatório. A comunidade do boxe continua viva e de boa saúde e o ar que se respira em Undisputed reflete isso na perfeição. Espero que no futuro Undisputed receba mais conteúdo, e que cheguem ainda mais lutadores, arenas e até modos de jogo Single Player.
Penso que este jogo é uma prenda para os fãs de boxe, que tanto pediram algo com este nível de fidelidade, e só por isso a Steel City já merece a minha gratidão.
