Análise: Unknown 9: Awakening

Developer: Reflector Entertainment
Plataforma: PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox One, Xbox Series X|S,PC
Data de Lançamento: 18 de outubro de 2024

Quando Unknown 9: Awakening foi anunciado em 2020, imediatamente captou a atenção do público, destacando-se como um título inovador. Esta era a primeira grande produção da Reflector Entertainment desde que foi adquirida pela Bandai Namco Entertainment, o que elevou ainda mais as expectativas. Tanto a jogabilidade quanto a narrativa prometiam ser experiências ricas e envolventes.

À medida que mais trailers eram lançados ao longo dos anos, ficava claro que o jogo iria muito além da experiência tradicional. O universo de Unknown 9 seria expandido de outras formas, como livros, bandas desenhadas e até podcasts. Essa abordagem ambiciosa pretendia interligar todas essas plataformas e oferecer aos jogadores uma experiência mais profunda, dando-lhes a oportunidade de conectarem-se ainda mais com a protagonista, Haroona, e com o mundo fascinante à sua volta.

Haroona é uma jovem Quaestor com habilidades extraordinárias ligadas ao Umbral, uma dimensão paralela  à qual apenas poucos conseguem aceder. Desde a infância, Haroona foi treinada pela sua mentora, Reika, para controlar e compreender esses poderes, que, por vezes, são vistos tanto como uma bênção, como uma maldição. A tragédia central da narrativa surge quando Vincent Lichter, ex-aluno de Reika e agora líder da facção Ascendentes, assassina a mentora de Haroona numa tentativa de libertar a humanidade dos 9 Desconhecidos, seres imortais que, segundo ele, estão a impedir o verdadeiro potencial humano de ser alcançado.

Quatro anos após este evento devastador, Haroona embarca numa jornada de vingança, determinada a enfrentar Vincent e os Ascendentes. Enquanto explora os segredos do Umbral, ela também procura entender o seu próprio passado, descobrindo segredos sombrios que a envolvem.

O enredo é enriquecido por uma guerra secreta entre facções que procuram controlar o Umbral para os seus próprios fins. Apesar da premissa ser intrigante, a narrativa acaba por cair em vários clichês que a tornam previsível em muitos momentos. Embora a base da história seja forte, a previsibilidade enfraquece o impacto de várias reviravoltas.

O jogo apresenta um conjunto de personagens secundários com bastante potencial, mas que acabam por não ser tão aprofundados como seria desejável. Se, por um lado, a história de Haroona carrega o peso emocional e é o pilar do enredo, por outro, a falta de desenvolvimento das personagens secundárias compromete a profundidade da narrativa. Antagonistas como Vincent Lichter, por exemplo, não são explorados de forma a permitir uma compreensão mais profunda das suas motivações, o que enfraquece o impacto dos conflitos centrais da história.

Em termos de jogabilidade Unknown 9: Awakening oferece uma combinação de mecânicas que envolvem furtividade, combate e exploração, formando uma experiência de ação e aventura. A abordagem furtiva é uma parte fundamental, exigindo que utilizemos o ambiente a nosso favor. Haroona pode esconder-se em ervas altas e utilizar as suas habilidades para neutralizar inimigos de forma silenciosa. Este sistema de furtividade tenta ser semelhante ao que encontramos em muitos outros jogos, infelizmente, acaba por não conseguir, ficando aquém das expectativas.

O combate direto é outro aspeto significativo, mas apresenta algumas limitações. Haroona combina ataques corpo-a-corpo com habilidades especiais do Umbral, como a capacidade de Incorporação, que lhe permite controlar temporariamente os inimigos. Embora essa mecânica de possessão traga uma dimensão tática ao combate, o sistema de luta rapidamente se torna repetitivo, não oferecendo a profundidade esperada.

Entre os principais problemas está a falta de fluidez dos combates. Os poderes de Haroona, que inicialmente parecem promissores, acabam por não ter um impacto real na jogabilidade, especialmente pela ausência de combinações que permitam aos jogadores sentir que estão a dominar o sistema de combate. Um exemplo é o desvio de golpes, que muitas vezes não é eficaz, especialmente considerando os poderes de empurrar e puxar inimigos que Haroona possui.

A exploração no jogo é predominantemente linear, o que considero um aspeto bastante positivo. Num mercado saturado de títulos em mundo aberto, esta abordagem mais focada é refrescante. Faz-nos lembrar jogos como Uncharted e Tomb Raider em termos de design de níveis, embora os mapas de Unknown 9 sejam bastante mais restritos.

Por outro lado, essa restrição incentiva os jogadores a colecionar todos os itens e colecionáveis, uma vez que nunca é necessário explorar vastos cenários para os encontrar. As habilidades de Haroona também facilitam a localização desses itens, tornando a exploração mais eficiente e direta.

Um dos aspetos que mais necessita de melhorias é a inteligência artificial dos inimigos. Frequentemente, os adversários comportam-se de maneira previsível e pouco desafiadora, o que reduz a tensão durante os combates. Além disso, a câmera torna-se um verdadeiro obstáculo em lutas com múltiplos inimigos, dificultando a visão clara do campo de batalha.

Outro problema está relacionado com o alcance limitado das habilidades de Haroona, tornando o combate com vários inimigos frustrante em certas ocasiões. Esperava que a jogabilidade, especialmente no combate, estivesse mais polida, mas, infelizmente, esse é um dos pontos mais fracos do jogo. Dado que grande parte da experiência envolve combate, é uma falha que prejudica bastante o jogo no seu conjunto.

Se nos focarmos nas habilidades de Haroona, um dos pontos fundamentais de Unknown 9: Awakening, ela possui uma gama de poderes sobrenaturais que lhe permitem interagir de maneiras únicas com o ambiente e com os inimigos. Estas habilidades são centrais tanto para o combate como para a exploração, oferecendo aos jogadores diversas maneiras de abordar diferentes desafios. As principais habilidades incluem:

• Incorporação: Esta habilidade permite que Haroona possua temporariamente inimigos, controlando as suas ações. Podemos usar essa mecânica para forçar os inimigos a atacar os seus próprios aliados ou para manipular objetos no cenário, criando oportunidades estratégicas para neutralizar ameaças.
• Invisibilidade Temporária: Haroona pode tornar-se invisível por um curto período, ajudando-a a não ser detectada e a surpreender os inimigos. Esta habilidade é particularmente útil em situações onde a furtividade é preferível, permitindo abordagens mais táticas durante os combates.
• Bombas Sonoras: Uma habilidade que permite criar distrações, permitindo-nos mover furtivamente sem sermos notados. Essa habilidade é eficaz para desviar a atenção dos inimigos e criar aberturas para ataques furtivos.
• Visão do Umbral: Esta habilidade oferece a Haroona uma visão especial do ambiente, destacando inimigos, objetos interativos e colecionáveis. A Visão do Umbral é crucial para a exploração e a resolução de puzzles.

Além dessas quatro habilidades principais, o jogo oferece um sistema de skill tree que permite desbloquear e aprimorar novas capacidades ao longo do jogo. A árvore de habilidades está dividida em três ramos principais: Combate, Furtividade e Habilidades Úmbricas, cada um trazendo melhorias específicas que podem ser adquiridas durante a exploração com pontos de habilidade. Estes ramos permitem uma personalização profunda da jogabilidade, adaptando-se ao estilo preferido de cada jogador:

• Combate: Este ramo concentra-se em melhorar a eficácia de Haroona em confrontos diretos. Aqui, é possível aumentar o poder dos ataques, desbloquear novas sequências de combos e outras capacidades que tornam o combate mais fluido e impactante.
• Furtividade: As habilidades neste ramo aumentam a eficácia em situações furtivas. Isso inclui melhorias na duração da invisibilidade, a eficácia das bombas sonoras e o aprimoramento das técnicas de movimentação furtiva.
• Habilidades Úmbricas: Focado no uso do Umbral, este ramo oferece melhorias que expandem as opções estratégicas de Haroona. Podemos prolongar a duração da incorporação ou desbloquear novas maneiras de interagir com o ambiente e com os inimigos, tornando o uso do Umbral ainda mais versátil.

Em termos gráficos, Unknown 9: Awakening apresenta uma qualidade inconsistente. Embora alguns cenários ofereçam uma estética atmosférica e visualmente atraente, como as áreas que refletem a rica cultura indiana, outras regiões carecem de detalhes e parecem pouco polidas. Essa disparidade visual é notória ao longo do jogo, o que prejudica a imersão em certos momentos.

Os modelos das personagens, por sua vez, deixam algo a desejar ocasionalmente. Os traços faciais e as expressões, incluindo os da protagonista Haroona, carecem de refinamento e autenticidade, o que limita a expressividade das interações. Mesmo com a presença de Anya Chalotra, uma atriz em voga, a falta de carisma nas expressões faciais é evidente. As animações rígidas comprometem a narrativa, prejudicando a imersão em momentos cruciais, especialmente quando é necessário transmitir emoções mais complexas.

Parte desses problemas gráficos parece derivar da ambição de lançar o jogo tanto para a geração atual como para a passada. Essa decisão, ao que tudo indica, fez com que certos detalhes visuais fossem sacrificados, resultando numa experiência gráfica menos refinada. Acredito que, se o jogo tivesse sido desenvolvido exclusivamente para a geração atual de consolas, o nível de detalhe gráfico teria sido muito mais elevado, evitando algumas das falhas visuais observadas.

No aspecto sonoro, o jogo revela-se bastante competente. A banda sonora encaixa de forma harmoniosa na narrativa, incorporando elementos da cultura indiana e criando uma sonoridade rica que complementa as cenas de ação e exploração. A diversidade de melodias e ritmos contribui para a imersão, refletindo as emoções e os desafios que enfrentamos ao longo da aventura.

Os efeitos sonoros, que incluem tiros, sons da natureza e explosões, estão bem captados, constituindo um dos pontos positivos do jogo. O desempenho dos atores na componente de voice acting também é satisfatório, embora não seja perfeito; em alguns momentos, falta um pouco de emotividade, mas, ainda assim, este aspeto é um mérito para a experiência geral.

Unknown 9: Awakening oferece um misto de sensações aos jogadores. Por um lado, apresenta um enredo interessante e intrigante, com uma protagonista carismática; por outro, falha em pontos essenciais, especialmente na jogabilidade, com destaque para as limitações na componente de combate. O jogo possui um potencial enorme, e, com algumas atualizações e melhorias, pode ainda revelar toda a sua grandiosidade.