Developer: Soleil Ltd., 110 Industries
Plataforma: Xbox Series, Xbox One, PlayStation 5, PlayStation 4 e PC
Data de Lançamento: 14 de Fevereiro de 2023
Poderão ser menos comuns agora, mas há cerca de 10 anos atrás – especialmente na geração da PlayStation 3 e da XBOX 360 – os jogos de acção na terceira pessoa viveram o seu melhor período, com diversos títulos que se tornaram jogos de culto anos depois. Infelizmente, passaram um pouco de moda, e deixaram um certo vazio por preencher, onde alguns estúdios viram uma oportunidade para tentarem oferecer uma nova vida a este subgénero.
Wanted: Dead é um desses casos. E nem os podemos acusar de falharem com o marketing, uma vez que foi um dos títulos que mais ficou na retina dos jogadores para este início de 2023. Uma proposta que prometia recuperar vários dos elementos que souberam cativar um determinado público há poucos anos atrás, mas aproveitando uma visão mais modernizada que podemos encontrar nos jogos actuais. Os trailers empolgavam, mas especialmente as demonstrações de gameplay, que provavam querer captar o caos e o ritmo dos títulos nos quais se inspirou.
Foi desenvolvido pelo estúdio Soleil Ltd., ou seja, uma equipa que já tem alguma experiência em títulos de acção, como Naruto to Boruto: Shinobi Striker, ou mesmo Samurai Jack: Battle Through Time, e contando igualmente com ex-membros da Team Ninja, responsáveis pela franquia Ninja Gaiden. E com a colaboração e os recursos da publisher 110 Industries, tinham razões para se sentirem confiantes em entregar um jogo divertido, bem construído, e com algumas mecânicas únicas pela sua execução. E no geral conseguiram-no, embora algumas nuances menos felizes do conceito em si tenham sido um entrave para que pudesse chegar a um nível superior.
É um jogo que tenta reviver não só a jogabilidade desses períodos, como o próprio contexto narrativo e o perfil de heróis de acção que até então era comum. É algo que tem vantagens e desvantagens, porque se por um lado (e ainda bem) é completamente descomplexado no seguimento das suas ideias, por outro, parece um pouco desfasado em relação à exigência às quais nos fomos habituando quando somos colocados perante uma história. Irá sempre dividir opiniões, mas pelo menos é de louvar a coragem perante um público e uma crítica que é cada vez menos tolerante na aceitação de certos tópicos.
Em Wanted: Dead vamos até Hong Kong e conhecer a Zombie Squad, um pequeno grupo de anti-heróis e ex-militares com um histórico de crimes de guerra, que actuam como uma força especial da polícia. Logo na primeira cena, iremos perceber que não são típicos polícias. A explicação é que, na verdade, todos servem penas de prisão perpétua e esta é a única forma de poderem contribuir para a sociedade com a esperança de algum dia conseguirem algum perdão. Nesse sentido, como devem calcular, estão longe de ter uma postura exemplar, muitas vezes causando mais problemas do que aqueles que resolvem.
Este esquadrão é composto por quatro personagens – Stone, Cortez, Herzog e Doc – e todos com personalidades muito peculiares. Enquanto esperam ser atendidos no restaurante, são chamados para intervir num prédio de uma poderosa corporação, não muito longe dali. Não demorará muito a percebermos que estamos no centro de uma perigosa conspiração com ninjas, androids e mechs, em que não saberemos em quem confiar. A profundidade da história acontece, a espaços raros, por meio de cutscenes da protagonista, Hannah Stone, que sempre vão oferecendo algum contexto sobre as personagens.
As personalidades das quatro personagens obedecem, claramente, a estereótipos exagerados, e têm uma enorme dificuldade em conseguir criar algum tipo de ligação com o jogador, devido a diálogos pouco elaborados. Na verdade, este pormenor é um espelho de toda a história, uma vez que este non sense da narrativa assenta sobre um certo teor cómico que o estúdio considerou importante para que não olhássemos para Wanted: Dead com muita formalidade. E em parte até que funciona, combinando à sua maneira com esta tipologia de jogabilidade. Esta é a sua premissa, e não é para ser levada muito a sério – para o bem e para o mal.
Quanto ao combate, é onde realmente Wanted: Dead atinge o seu ponto mais alto. Houve um evidente investimento neste aspecto, e de facto, é divertido na maior parte do tempo. A intenção é oferecer uma multiplicidade de soluções ao jogador sempre a uma cadência altíssima, onde a alternância entre o corpo-a-corpo e as armas de fogo sejam uma constante. Tem um sistema de parry e dodge que tornam tudo mais veloz e enérgico, sendo absolutamente essenciais para sobrevivermos. A violência é também um factor fundamental, reflectindo-se no desmembramento dos inimigos e nos finishers.
Com mais de 100 horas de captura de movimentos, vamos poder pegar na nossa katana (e não só) e matar com bastante estilo e enormes quantidades de gore, devido a espetaculares animações que estão reservadas para esses momentos. É provavelmente onde Wanted: Dead mais se destaca, e o elemento que nos faz sempre continuar a ter vontade de jogar, dado que está efectivamente bem conseguido. Há inúmeras animações deste tipo, fazendo com que as sequências nunca pareçam iguais. Sem esquecer, claro, o ataque especial que nos permite limpar salas inteiras em slow motion, criando momentos genuinamente espetaculares.
É, por isso, um jogo com alguma dificuldade, já que teremos de escolher muito bem as alturas de ficar em cover, ou partir para enfrentarmos os inimigos mais de perto. Preparem-se para morrer diversas vezes, embora neste particular não seja algo que possamos considerar como demasiado frustrante, porque podemos ser revividos no local numa primeira fase, e depois voltaremos ao último checkpoint. E ainda bem, porque é da forma que podemos assumir uma abordagem de maior risco, mas sem grande receio de que as coisas corram mal.
Wanted: Dead, tal como muitos jogos do mesmo género, depende de combos que devemos aprender para que sejamos eficazes no combate. Usamos três armas com uma variedade de escolhas não muito extensa, onde podemos contar com aquela que no fundo é a principal, a katana, além de armas de fogo de médio alcance como (assault rifles, shotguns e SMG’s), e a pistola, que tem a capacidade de interromper os ataques dos inimigos. Esta dinâmica entre armas resulta muito bem, tornando o combate fluído e entusiasmante.
No que diz respeito a upgrades, há uma boa margem para construir builds dentro daquilo que pretendemos. Começando pelas armas, passa pela habitual troca de peças, como a sight, stock, magazine, barrel e skin, aumentando ou diminuindo os stats conforme nos for mais conveniente. Passando para as skills, temos três secções (Offense, Defense e Utility) que, tal como o nome indica, especializam a personagem nestes estilos de abordagem, dividindo-se entre habilidades activas, passivas e combos. É quando desbloqueamos uma boa parte das skills que o combate começa a ficar verdadeiramente incrível, com combinações que nos dão uma inacreditável sensação de poder.
Graficamente, embora não seja nada de deslumbrante, tem ainda assim o seu charme, tanto nos modelos, como nos efeitos visuais. As animações são a grande conquista visual deste jogo, e a sua diversidade é algo que deve ser realçada, proporcionando uma experiência única e divertida. Já a componente sonora foca um pouco aquém. E se a música até preenche adequadamente a atmosfera durante os combates, o fraco voice acting, e a repetição dos efeitos de som, assim como os gritos dos inimigos, tornam-se enervantes muito rapidamente.
Wanted: Dead é um bom jogo de acção. Tem os seus problemas, mas também muitas coisas que surpreendentemente acabaram por funcionar. Para quem procura uma perspectiva alternativa do hack and slash, de certeza que vai encontrar aqui um título que o irá entreter durante algumas horas.