Developer: Blizzard Entertainment
Plataforma: PC
Data de Lançamento: 13 de novembro de 2024
No evento de comemoração dos 30 anos de Warcraft, a Blizzard anunciou e lançou Warcraft Remastered Battle Chest. Esta compilação nostálgica reúne alguns dos títulos mais marcantes da franquia, e para mim que passei a adolescência a jogá-los, é uma experiência única, tal como acredito que também o seja quer para os jogadores mais veteranos como para os mais novos. Entre os jogos incluídos estão: Warcraft I: Remastered, Warcraft II: Remastered, Warcraft III: Reforged, Warcraft: Orcs & Humans e Warcraft II: Battle.net Edition.
Provavelmente, para os jogadores mais novos, isto pode parecer menos relevante, até porque a grande referência que têm é o icónico World of Warcraft (WoW), mas é importante lembrar que foi devido ao enorme sucesso destes clássicos de estratégia em tempo real (RTS), que foi possível a Blizzard criar o tão famoso WoW. Onde muitas das personagens chegaram diretamente de Warcraft III: Reign of Chaos e da sua expansão The Frozen Throne.
Dito isto, esta análise irá falar um pouco do legado de cada jogo, abordando o impacto no seu tempo, a narrativa, a jogabilidade e até o seu legado.
Warcraft: Orcs & Humans
Lançado em 1994 pela Blizzard, foi um jogo que marcou não só a companhia Norte Americana, como revolucionou o género. E embora a Blizzard já tivesse lançado jogos de sucesso como The Lost Vikings, foi com Warcraft: Orcs & Humans que a Blizzard ficou nas bocas do mundo, além de terem tornado este jogo, um dos mais reconhecidos globalmente. E foi também a primeira vez que o mundo de Azeroth entrava pelos écrans dos jogadores.
Era um jogo que tinha imensas mecânicas inovadoras, ao mesmo tempo que se focava na narrativa, algo muito pouco comum naquela época. Outro ponto completamente inovador, foi a presença de duas campanhas distintas: uma pelos Humanos, que nos oferecia a perspectiva da história pela facção que defendia a invasão de Azeroth, e a outra pelos Orcs, que nos mostrava a perspectiva dos invasores. Um ponto interessante, é que em ambas as campanhas, antes de cada missão irá ser apresentado um contexto histórico do que se estava a passar, para nos enquadrar em cada momento da narrativa. Outro ponto inovador para a época foi a introdução do modo multiplayer, uma novidade que permitia fazer partidas contra outros jogadores, não online, mas por ligação direta entre computadores, ou por LAN.
Embora tivéssemos uma narrativa tão detalhada como um livro, já era bastante cativante o que nos era apresentado. A história centrava-se num conflito épico os Humanos do reino de Azeroth e os Orcs, que tentavam invadir este reino. O jogo iniciava-se com uma pequena cutscene que era incrível para época, e o resto era-nos contado por texto entre missões como já referi acima. De um lado, os Humanos lutavam pela sobrevivência e defesa do seu território; do outro, os Orcs procuravam expandir-se, destruindo tudo à sua passagem.
Em termos de jogabilidade, embora simples para os dias de hoje, as mecânicas eram totalmente inovadoras para a época. A construção das bases, a gestão e aquisição dos recursos (ouro e madeira), e a coordenação dos exércitos eram partes fundamentais do jogo. A curva de aprendizagem era equilibrada, com missões que iam aumentado a dificuldade gradualmente, exigindo mais estratégia e gestão dos recursos. Muitas vezes, obrigando-nos até a ter muito cuidado com a gestão de recursos, já que a escassez de ouro era algo que se sentia em alguns níveis.
As unidades de combates dividiam-se em três categorias: unidades de corpo a corpo, unidades de ataque à distancia e unidades que usavam magia de ataque e suporte. Lembro-me que as unidades que usavam magia foram dos personagens mais famosas na altura, já que adicionava ainda mais estratégia ao jogo, pois além do seu poder de fogo, eram também unidades de suporte, visto terem a capacidade de curar outras unidades.
O legado de Warcraft: Orcs & Humans é inegável. Foi o alicerce da franquia, tendo até sido expandinda para livros e até um filme. Mesmo décadas após o seu lançamento, continua a ser uma peça fundamental da história dos videojogos, e a sua remasterização oferece a oportunidade perfeita para os jogadores reviverem ou descobrirem pela primeira vez esta obra.
Warcraft II: Tides of Darkness e Beyond the Dark Portal
Em 1995, com a chegada de Warcraft II, a Blizzard consolidou-se com uma das maiores empresas de videojogos. Um ano após o lançamento do primeiro jogo, a companhia superava todas as expectativas e trazia um segundo jogo da franquia com melhorias a todos os níveis, técnicos, gráficos e narrativos, elevando o género RTS para outro patamar. Beyond the Dark Portal, a expansão do jogo chegava em 1996, solidificando ainda mais a narrativa do jogo, aumentando o seu lore e claro, dando mais desafios aos jogadores.
A história de Warcraft II: Tides of Darkness é uma continuação direta do primeiro jogo. Com o mundo de Azeroth num verdadeiro caos. Devido aos eventos anteriores, e mesmo com o Portal Negro fechado, a guerra entre Humanos e Orcs não tinha fim à vista, e agora com aliados em ambas as facções, sendo neste jogo que surge a famosa Horda e a Aliança.
A Horda era formada por Orcs, Trolls da Floresta, Ogres, Goblins e os Red Dragons, liderada por Orgrim Doomhammer, mas com a importante ajuda de Alexstrasza, que foi quem subjugou os Red Dragons para entrarem na Horda. Já a Aliança reunia os Humanos, anões e os Elfos da Floresta, liderados pelo o rei Terenas Menethil II, que governava Lordaeron.
Mais uma vez, o jogo apresentava textos introdutórios entre cada missão, voltávamos a ter duas campanhas – da Horda e da Aliança – que mais uma vez permitiam compreender o que se passavam em ambas as facções. Além disso, ficámos a conhecer novas zonas de Azeroth, abrindo mais um pouco aquele mundo para os jogadores.
Foi aqui que também conhecemos algumas personagens icónicas, como Turalyon, o comandante militar da Aliança, e Gul’dan, o poderoso Xamã Orc – duas personagens que fazem parte do lore de Warcraft e não podiam deixar de ser referidas. A expansão Beyond the Dark Portal trouxe duas novas campanhas, uma para cada facção, continuando a história e mais uma vez introduzindo personagens fundamentais no universo de Warcraft.
Passando para a jogabilidade, a evolução era significativa em relação ao jogo anterior, e também com mudanças importantes, e embora as bases fossem as mesmas, apresentava novos elementos que melhoravam toda a experiência.
Uma das novidades foi a introdução de um novo recurso, o petróleo, passando a existir três recursos. Este era encontrado no mar, e aqui entra outra novidade, a exploração marítima. Com ela, chegavam também os combates marítimos, e para adicionar ainda mais complexidade também era introduzida na franquia unidades de combate aéreo, existindo assim batalhas em terra, mar e ar, algo que nenhum outro jogo tinha naquela época.
A inteligência artificial também foi aprimorada, melhorando assim alguns problemas do primeiro jogo, como as unidades ficarem presas no cenário quando eram enviadas para locais, onde tinham de ziguezaguear o cenário. Além dos inimigos a mostrarem-se mais desafiantes, tornando o combate ainda mais estratégico.
Já o modo multiplayer também foi melhorado, agora sendo possível jogar até oito jogadores em LAN. Foi incluído um editor de mapas que se tornou uma ferramenta memorável para os jogadores, e que prolongava a longevidade deste modo.
O impacto de Warcraft II marcou mais uma vez a indústria, e mostrou a capacidade da Blizzard em inovar os seus jogos, como acontece ainda hoje. É um dos jogos da franquia lembrado com mais carinho pelos jogadores.
Warcraft III: Reign of Chaos e The Frozen Throne
Em 2002 chega finalmente Warcraft III, mais um marco para os RTS, e aquele que viria a ser a base de World of Warcraft. Novamente, as novidades introduzidas impressionaram toda a comunidade ligada aos videojogos, agora com uma narrativa ainda mais profunda, onde sentíamos que não só fazíamos parte da história de Azeroth, como a cada missão a progressão na história era notória.
Era a continuação da história directa dos eventos de Warcraft II, mostrando Azeroth cada vez mais devastada devido ao conflito entre a Aliança e a Horda. Ainda assim, o jogo passa-se alguns anos depois daqueles eventos, e foram introduzidas novas facções, os Undead Scourge, os Night Elves e os Blood Elves. Ao todo, e contando com a expansão The Frozen Throne, o jogo inclui nove campanhas (contando com o prólogo e a última campanha adicionada posteriormente). Estas tinha uma novidade, eram organizadas de forma linear, criando assim uma narrativa mais coesa e detalhada. As campanhas são:
- Prólogo: O Êxodo da Horda
- Campanha dos Humanos: O Flagelo de Lordaeron
- Campanha dos Undead: O Caminho dos Malditos
- Campanha dos Orcs: A Invasão de Kalimdor
- Campanha dos Night Elves: O Fim da Eternidade
- Campanha das Sentinelas: O Terror das Marés
- Campanha da Aliança: A Maldição dos Elfos Sangrentos
- Campanha do Flagelo: O Legado dos Malditos
- Campanha Bônus: A Fundação de Durotar
A partir destas campanhas, conhecemos personagens icónicas e que se tornaram pilares do universo de Warcraft como: Illidan Stormrage, Kael’thas Sunstrider, Arthas Menethil, Sylvanas Windrunner, Vol’jin, Thrall, entre outras. Os jogadores de WoW certamente lembrar-se-ão de todas elas, já que grande parte pertence ao universo do jogo e muitas delas a serem protagonistas de algumas das expansões mais populares do MMORPG.
Em termos de jogabilidade, a grande novidade era a inclusão dos heróis de cada facção a serem jogáveis, em relação as unidades “normais”, sendo que estes podiam evoluir, melhorar os seus stats, adquirir novas habilidades e tornarem-se peças chaves durante as missões. Esta novidade implementava a ideia de RPG no jogo, algo inédito nos RTS; e, além disso, o jogo voltava apenas a contar com dois recursos: o ouro e a madeira.
Ainda dentro da ideia dos RPG, o jogo introduzia um mundo mais imersivo e vivo, com aldeões a falarem connosco, a darem-nos dicas e até a recebermos missões secundárias. Ao longo das missões também eram introduzidas pequenas cutscenes que nos mostravam melhor a história do que ia acontecendo, deixando de existir os textos que nos davam o contexto histórico antes das missões.
Assim como os seus sucessores, Warcraft III teve mais uma vez um impacto na indústria como poucos imaginaram. Para terem uma ideia, foi devido ao conceito de heróis introduzido pela Blizzard que surgiram os MOBA, muito devido ao famoso mod Defense of the Ancients (DotA) que apareceu em Warcraft III, e, mais tarde, começaram a surgir os tão conhecidos League of Legends e Dota 2. Além disso, foi muito devido ao sucesso de Warcraft III que World of Warcraft foi criado, e assim expandiu o universo de Azeroth, como nenhum outro jogo fez.
Remasterizações
Apesar das mecânicas de jogabilidade tenham recebido algumas mudanças, é na componente gráfica e sonora que estas remasterizações mais se fazem notar, proporcionando uma experiência renovada sem perder a essência dos originais.
No caso dos dois primeiros jogos, temos algumas mudanças na qualidade de vida, agora é possível selecionar mais unidades, quando alguma unidade recebe dano, aparece a sua barra de vida por cima da unidade e até foram adicionados algumas teclas de atalho. Mas é no aspecto gráfico que a actualização é mais considerável. Warcraft I: Remastered e Warcraft II: Remastered, embora não atinjam patamares de excelência muito devido à idade dos jogos originais, receberam novas texturas, que eliminam o visual pixelizado dos edifícios, unidades e cenários. Além disso, o solo, as árvores, as minas e outros elementos também foram melhorados, e a interface ganhou um novo design, bastante mais moderno e funcional.
Ainda assim, é impossível não referir que o segundo jogo consegue ter mais impacto do que o primeiro, algo que também acontecia com os jogos originais. Já as cutscenes, nestes dois jogos permanecem as originais. Os jogos levaram também uma actualização para terem de aspecto, tendo agora suporte para widescreen, não sendo possível mexer nas suas resoluções.
Já no caso de Warcraft III, e embora esta remasterização já tendo sido lançada em 2020 com Warcraft III: Reforged, recebeu agora uma enorme actualização, passando para a versão 2.0. Melhorou grande parte dos aspectos do jogo, desde logo alguns aspectos gráficos que ficaram melhores. Há agora possibilidade de escolher o que queremos manter no aspecto clássico ou com o novo aspecto. Houve uma correção de diversos bugs, melhoria da interface, adição das músicas de Warcraft I e Warcraft II e novos efeitos. Isto é, o jogo melhorou imensos elementos que tinham sido criticados pelos jogadores em 2020, e comparando com a versão original, o jogo mudou praticamente tudo, tendo os elementos sido redesenhados e ficando ainda mais robusto. Os edifícios, os reflexos, as animações – nomeadamente do fogo entre outros elementos que estão claramente melhorados –, e as cutscenes foram modernizadas, estando agora um jogo extremamente atrativo de se jogar.
A componente sonora também recebeu um cuidado especial, e isto em todos os jogos. As músicas foram remasterizadas, oferecendo melhor qualidade, as vozes das personagens apresentam melhor qualidade de som, além de ganharem mais clareza. E os efeitos sonoros, embora mantenham a sua originalidade, também foram melhorados.
Warcraft Remastered Battle Chest é uma celebração dos 30 anos de Warcraft. É uma compilação extremamente nostálgica, que sem dúvida nenhuma agradará a grande parte dos jogadores. Mesmo com tantos anos, as campanhas continuam interessantes, principalmente as de Warcraft III. Diria que é um tributo à história dos RTS e ao legado que a Blizzard trouxe a este género. Para quem os jogou é uma verdadeira viagem ao passado, e no meu caso, à minha adolescência. São três obras-primas que para mim continuam a brilhar
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