Developer: Shiro Games
Plataforma: PC, Xbox Series X|S, Nintendo Switch
Data de Lançamento: 31 de novembro de 2023

Se existe jogo que me surpreendeu muito pela positiva este ano, foi Wartales, um título de um estúdio independente, a Shiro Games. Lançado inicialmente para PC, seguido para Nintendo Switch e, recentemente, para a Xbox Series X|S. Embora só agora tenha tido a possibilidade de o testar e fiquei absolutamente rendido, confesso que foi durante a Nintendo Direct de 14 de setembro que lhe pus os olhos em cima pela primeira vez.

Wartales é um RPG medieval com características distintas que o diferenciam dos RPGs convencionais, incorporando elementos de outros géneros, como, por exemplo, os jogos de sobrevivência. A narrativa desenrola-se no Império de Edoran, uma região devastada por uma praga que tornou a vida difícil a todos que lá habitam, com ladrões, assassinos e mercenários à solta por toda parte. Este é o pano de fundo da aventura, mas a verdadeira história será construída pelo próprio jogador.

A essência do jogo reside precisamente nesse ponto. Apesar de existir uma história de fundo, a narrativa principal do jogo é moldada pelo jogador, que assume o papel de líder de um grupo de mercenários. Há liberdade para tomar decisões, seja seguir um caminho criminoso, ajudar cidadãos necessitados encontrados durante a jornada ou até mesmo combinar ambas as abordagens, dependendo do que for considerado melhor para a sobrevivência do grupo. Considero que este ponto é crucial em Wartales: a arte de sobreviver num mundo de fantasia implacável.

Dito isto, torna-se evidente que Wartales, ao proporcionar essa liberdade ao jogador, destaca-se como um jogo de mundo aberto. A exploração é essencial e fortemente encorajada, uma vez que nada é oferecido de bandeja; é o jogador que, ao explorar, descobre tudo no jogo. Cada região diferente tem alguns objectivos obrigatórios, assim como inúmeros NPCs que estarão dispersos por vários pontos do mapa, como torres, pequenas aldeias, fazendas, minas, e até mesmo bandidos e ladrões que vagueiam, prontos para nos apanhar desprevenidos. Além disso, há a presença de animais ferozes que podem surgir quando menos esperamos; lobos e ursos são comuns em florestas, por exemplo.

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A jogabilidade na exploração está muito bem concebida, adotando uma perspetiva isométrica de cima, a uma boa altitude. Isso permite que tenhamos uma visão abrangente de todo o nosso grupo, seja ele composto por 5, 10 ou 20 mercenários, todos visíveis enquanto percorrem o cenário, conferindo uma dinâmica interessante. Esta abordagem oferece ao jogador uma visão ampla do ambiente circundante, destacando-se pela variedade de cenários, desde montanhas até vales, todos meticulosamente detalhados. Além disso, o jogador pode, a qualquer momento, girar a câmara em qualquer direção.

Para além das missões disponíveis nos vários NPCs durante a exploração, nas principais cidades encontramos tabernas que apresentam quadros com missões a cumprir. Estas missões consistem em contratos que aceitamos em troca de compensação financeira, abrangendo uma variedade de tarefas, desde entregas de objetos até à eliminação de indivíduos, ou mesmo a resolução de problemas locais. Nas cidades, há também um mercado onde podemos adquirir alimentos, um ferreiro que oferece a opção de comprar ou criar as nossas armas e armaduras, e, claro, um curandeiro pronto para tratar das nossas feridas.

Como um RPG de qualidade, todas as nossas ações são recompensadas com pontos de experiência (XP) que são fundamentais para elevar o nível dos nossos mercenários. E quando digo todas as ações, refiro-me a realmente todas, pois descobrir novas áreas, minerar, caçar animais, derrotar inimigos, praticar roubos, cozinhar, e diversas outras atividades contribuem para ganhar XP. Estes pontos de experiência não apenas impulsionam o progresso dos níveis dos personagens, mas também são cruciais para o desenvolvimento das habilidades e profissões dos nossos mercenários.

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Os mercenários vêm em várias categorias, como guerreiros, piqueiros, arqueiros, destruidores, arpoadores, degoladores, sentinelas, estrategistas, entre outros. Cada categoria possui o seu próprio conjunto de armas e armaduras, sendo estas classificadas em três tipos: leves, médias e pesadas. No que diz respeito às armas, há uma ampla variedade, desde espadas de duas mãos, arcos e flechas, espada e escudo, machado e escudo, adagas, até martelos gigantes, entre muitas outras opções.

Com o avanço nos níveis, os mercenários não só melhoram os seus atributos, como também podem adquirir habilidades que desempenham um papel crucial durante os combates. Quanto às profissões ou especializações, existem várias opções, e cada mercenário pode escolher uma de acordo com suas preferências. Entre as escolhas disponíveis estão a de ladrão, alquimista, pescador, ferreiro, faz-tudo, mineiro, lenhador, cozinheiro, estudioso e bardo. Cada profissão tem seus objetivos específicos, e é importante notar que nenhuma delas deve ser subestimada, pois todas têm sua utilidade ao longo da aventura do grupo.

Cada vez que uma especialidade de um mercenário é utilizada, além do XP ganho pelo próprio mercenário, este também acumula experiência naquela especialização específica. Isso permite, por exemplo, criar itens com maior qualidade, pescar com mais eficiência, cozinhar refeições mais elaboradas, e outras habilidades associadas à sua especialização.

Há igualmente outra forma de adquirir novas habilidades ou melhorias para o grupo, por meio das quatro árvores de habilidades que o jogo oferece. Cada uma dessas árvores pode ser desbloqueada ao cumprir objetivos específicos. A árvore voltada para o combate e sobrevivência é chamada de “Poder e Glória“. Outra, focada em dinheiro e lucro, é denominada “Comércio e Artesanato“. Esta última desbloqueia, por exemplo, a habilidade de negociar recompensas de contratos ou reduzir os preços dos itens nas cidades. A terceira árvore de habilidades é dedicada a ladrões e àqueles que desejam prosperar através de métodos mais questionáveis, sendo denominada “Crime e Caos“. Por fim, temos a árvore “Mistérios e Sabedoria“, que permite ao grupo compreender mensagens antigas, descobrir histórias do passado e, com isso, melhorar a velocidade, habilidades de comunicação e obter benefícios diversos

Além das quatro árvores de habilidades mencionadas anteriormente, há também as árvores de habilidades das especializações, onde é possível desbloquear diversas vantagens relacionadas a essas especializações. Algumas dessas habilidades podem ser adquiridas através da compra de pergaminhos ou encontrando-os durante a exploração do mundo, enquanto outras são desbloqueadas com pontos obtidos ao progredir no jogo.

Quanto ao aspecto do combate, o jogo adota um sistema de combate por turnos. A estratégia tática desempenha um papel fundamental, dado que as diferentes estratégias podem ser empregadas com base nos inimigos e nas habilidades dos nossos mercenários, sendo que o dano causado está fortemente relacionado às unidades envolvidas no combate. Inicialmente, pode ser desafiador dominar os combates, mas à medida que ganhamos experiência em alguns confrontos e conhecemos melhor os nossos mercenários, conseguimos abordar os combates de maneira mais eficaz.

Quando um dos nossos mercenários morre, é necessário escolher um local para o enterrar, resultando na perda desse membro do nosso grupo. Felizmente, o jogo permite recrutar novos mercenários, cuja maioria deles pode ser encontrada nas tabernas, e ocasionalmente alguns NPCs podem expressar interesse em juntar-se a nós. Ter um grupo numeroso é vantajoso durante os combates, mas pode ser um desafio durante os momentos de descanso e acampamento devido ao sistema de cansaço implementado no jogo. Quando o grupo está cansado, é necessário criar um pequeno acampamento para descansar e satisfazer as necessidades alimentares. Neste ponto, as coisas podem complicar-se, visto que quanto mais membros tivermos no grupo, maior será o consumo de comida, e por vezes pode não ser suficiente para alimentar todos.

O jogo aborda este aspeto de maneira muito cuidadosa, exigindo uma gestão minuciosa de recursos, como comida, materiais para a criação de armas e armaduras melhoradas, e ervas para a produção de poções. No acampamento, há a oportunidade de fabricar diversas ferramentas úteis, como uma panela para facilitar a preparação de alimentos, um local para os cavalos que aumenta nossa capacidade de transporte, um baú para o ladrão praticar suas habilidades e vender itens roubados, mas também uma mesa de estudo, um ponto de vigia para reduzir as hipóteses de sermos atacados, entre outras construções. Vale sublinhar que essas construções oferecem bónus importantes, justificando o investimento de recursos para obtê-los.

Outro ponto crucial é a gestão das relações sociais dentro do grupo, garantindo que os membros se relacionem bem uns com os outros, de maneira a que o grupo mantenha um nível de felicidade satisfatório. No geral, trata-se de um RPG medieval de sobrevivência que aborda uma variedade de temas e necessidades de um grupo de mercenários, e que luta diariamente para garantir a sua sobrevivência no reino.

Não poderia deixar de mencionar a componente online, onde é possível criar jogos cooperativos para jogar com até 3 amigos. Nesse cenário, cada jogador comanda alguns dos nossos mercenários do grupo, o que torna a experiência bastante envolvente. A cooperação e a entreajuda tornam-se elementos cruciais para o sucesso, desde a partilha de armas e armaduras até à definição de táticas durante os combates. A aquisição de recursos torna-se uma atividade coordenada, com os amigos espalhados pelo ecrã. Mesmo sendo o mesmo jogo e partilhando os mesmos objetivos, a experiência torna-se ainda mais cativante quando jogada com amigos.

Seja jogado no PC, Nintendo Switch ou Xbox Series X|S, o jogo oferece uma experiência excelente. No PC, todas as interações são realizadas com o rato e o teclado, enquanto nas consolas, todos os comandos foram notavelmente otimizados para proporcionar uma jogabilidade suave com o comando. Diria mesmo que se trata de um dos melhores ports que já vi para consolas, com os controlos adaptados de forma incrível para garantir uma manipulação fácil com o comando. A Shiro Games realizou um trabalho excepcional nesse aspeto.

Graficamente, o jogo é impressionante, apresentando cenários deslumbrantes com uma qualidade comparável a muitos jogos AAA do mercado. As animações são fluídas, o mapa é detalhado e bem concebido, repleto de texturas incríveis, e as personagens são bem desenvolvidas, permitindo opções de personalização. No que diz respeito ao aspecto sonoro, o jogo também é competente, oferecendo sons que se adequam à situação, e um voice acting de qualidade nos diálogos que acontecem durante o jogo. A banda sonora também é muito competente, levando-nos imediatamente para a época medieval.

Wartales foi uma das grandes surpresas do ano para mim. É incrivelmente viciante, fazendo com que as horas passem sem darmos por isso. Na minha opinião, é um dos melhores jogos independentes deste ano, embora tenha passado despercebido para muitos jogadores, o que é uma pena. Acreditem, se apreciam este tipo de jogo, não ficarão desapontados, e se gostam de jogar com amigos, a experiência torna-se ainda mais memorável!

REVER GERAL
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Desde o tempo do seu Spectrum+2 128k que adora informática. Programador de profissão nunca deixou de lado os jogos, louco por RPGs e jogos de futebol. Adora filmes de acção e de ficção científica, mas depois de ver o Matrix nunca mais foi o mesmo.
analise-wartales<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Extremamente viciante</li> <li style="text-align: justify;">Graficamente bem conseguido</li> <li style="text-align: justify;">Combate desafiante</li> <li style="text-align: justify;">Modo online cooperativo</li> </ul>

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