Developer: Team Ninja / KOEI Tecmo
Plataforma: Xbox Series S|X, PC e PlayStation 5
Data de Lançamento: 3 de março de 2023

Qualquer jogo que tente ser um soulslike tem uma dura tarefa de não defraudar os fãs do género, mas também de não colocar de parte os restantes jogadores. A pressão de tudo aquilo que já foi feito pela From Software é um fardo pesado, também a própria se adaptou para chegar a um mercado mais mainstream como aconteceu com Elden Ring. Por ventura até isso terá ajudado a que este Wo Long: Fallen Dinasty tivesse gerado um enorme hype, juntando os fãs de Nioh e Bloodbourne, mas adicionando mecânicas de combate mais acessíveis, dando-lhe um toque de hack n’ slash. Isso e o facto do jogo chegar ao Game Pass.

A equipa formada para chegar a este objectivo não poderia ter sido melhor escolhida. Estamos a falar de Fumihiko Yasuda, chefe do estúdio Team Ninja, produtor do jogo e que tinha desempenhado funções semelhantes na série Nioh e em Ninja Gaiden, ao lado de Masaaki Yamagiwa, produtor de desenvolvimento, que deixou a Sony Interactive Entertainment em jogos como Bloodborne e Tokyo Jungle. Por fim, destacar ainda o diretor cinematográfico do jogo, Kenji Tanigaki, o famoso diretor da série de filmes “Rurouni Kenshin”.

Ao contrário do que se poderia eventualmente esperar e, acrescento ainda bem, não foi escolhido o ambiente de Japão Feudal, mas sim, uma história na Dinastia Han, enfatizada pelo “Romance dos Três Reinos“. A razão foi bastante simples para os produtores do jogo, que afirmaram numa entrevista que: “Com o jogo a decorrer na China, conseguimos criar locais de escala muito maior do que em Nioh, que acontecia no Japão”, disse Yasuda. “Mesmo algo tão simples como um castelo é muito maior do que antes, e a exploração tornou-se mais vertical porque a personagem deste jogo pode saltar”, acrescentou.

E se Nioh foi baseado em técnicas ninja e espadas de samurai, o combate de Wo Long é focado nas artes marciais chinesas. “Em termos de jogabilidade, a maior diferença é a ênfase na velocidade”, continua Yasuda. “Não há medidor de resistência como havia em Nioh, por isso o jogador vai estar constantemente a ser confrontado por uma infinidade de situações nas quais, precisa reagir imediatamente.”

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Estes são alguns dos aspectos fundamentais que afastam Wo Long das comparações com outros jogos do género e, por isso, a história do nosso protagonista também será singular. Vamos encarnar na pele de um soldado militar anónimo que tem uma história que não é contada nos livros da escola. Apesar do jogo ser inspirado na história real, a Team Ninja decidiu não ter um protagonista original, porque não ter alguém que existiu de verdade ou baseado em lendas minimiza as limitações que normalmente aconteceriam para o desenvolvimento do jogo. No entanto, facilmente veremos vários oficiais que aparecem no período histórico dos Três Reinos da China, enquadrando e retratando esse mesmo período. Vamos encontrar famosos senhores da guerra e mentores militares da história, incluindo Liu Bei, Cao Cao e Sun Jian.

Para recriar em detalhe esse mesmo período a composição sonora também foi ao encontro dos relatos históricos, com instrumentos musicais tradicionais chinesas como o erthu. Além disso, para os temas musicais dos generais, a equipa de desenvolvimento criou um tema que reflete a vida e a personalidade do general, e não decidiu apenas por uma direção para toda a trilha, mas inventar momentos em que podem ser adaptadas ou enfatizadas durante as batalhas ou outras situações.

Dado o contexto do jogo, vamos lá falar das componentes jogáveis. Semelhante a Nioh 2 e à série souls, a experiência de Wo Long começa com a criação de personagem. É um sistema bastante amplo e com muitas opções. Honrando até a presença de Kenji Tanigaki, decidi recriar a personagem Battousai, o Esquartejador. Podemos alterar rosto, cabelo, barba, pinturas faciais, corpo e até a voz. Se preferirem podem continuar com a aparência padrão, a mesma que vimos nos trailers e em toda a divulgação do jogo.

Eu diria que os únicos erros que a Team Ninja cometeu estão precisamente no início do jogo. E porquê? Ora bem por 3 momentos específicos. O primeiro prende-se com o tutorial que decorre em parte no início da história, mas que deixa muitos aspectos de lado. Para aceder a um tutorial com mais exemplos e explicações, temos que fazer uma viagem para uma zona específica para o efeito, mas isso é muito pouco claro para o jogador. Posso dizer que só reparei nisso antes do primeiro Boss, já com um par de horas de jogo. A segunda prende-se com a falta de explicações do sistema de habilidades em ligação directa com as magias que podem ser desbloqueadas.

Até conseguirem perceber que os pontos que aumentam os vários estilos de combate, baseados nos cinco elementos da Medicina Chinesa: madeira, fogo, metal, terra e água, dão a possibilidade de desbloquear magias perante o nível em cada uma delas, será , no mínimo, difícil de lá chegar. Se juntamos ainda a questão de que as armaduras têm que estar em sintonia com os níveis dos 5 elemento para conseguirmos utilizar as magias ainda se torna mais complicado de dominar o seu uso. Perdi bastante tempo a conseguir perceber todo este processo, sem nenhuma informação do jogo sobre isto. E terceiro, o facto do primeiro Boss ser dos mais difíceis do jogo, o mais difícil das primeiras 10 horas sem dúvida alguma. Isso vai fazer com que muitos jogadores achem que o jogo é mais difícil que os souls, e é um completo engano, porque os seguintes são muito mais acessíveis, e digo acessíveis e não fáceis.

Vamos lá então às principais características da jogabilidade. Nioh é um jogo de ação de samurai, mas Wo Long é um jogo de ação de artes marciais chinesas, então há uma grande diferença pela perspectiva dos seus sistemas.

Na base Wo Long é um Action RPG, onde existe uma certa componente de estratégia. Vamos ter dois botões de ataque físico, munidos das variadas armas disponíveis, no tradicional ataque leve e ataque forte, onde fazer a combinação dos dois é essencial, ao mesmo tempo que podemos fazer ataques fortes mágicos, usando a barra para o mesmo. Depois temos ainda a combinação com o RB para os ataques especiais que cada uma das armas tem e ainda com o RT e um dos botões de acção evocar as magias apreendidas dos 5 elementos. Por fim podemos ainda invocar uma das “bestas” alegóricas da cultura chinesa, quando enchemos a barra para tal com os ataques desferidos aos inimigos. Depois temos ainda o dash, o desvio, o defender e o deflectir.

Aqui não há a noção de vigor/stamina. Em vez disso, há a presença de “Deflects”, que podem levar instantaneamente para a troca entre movimentos ofensivos e defensivos. Esse é um design onde há batalhas muito rápidas e trocas constantes entre ataque e defesa. Os inimigos são muito poderosos e raramente baixam a guarda, portanto com lutas bem mais agressivas. Ao contrário de outros jogos, nomeadamente os souls, conseguimos deflectir todo o tipo de ataques, mesmo aqueles que não podem ser defendidos, mas podem ser deflectidos.

A barra de stamina, serve apenas para o desviar e deflectir, portanto vão ter que ter sempre isso em conta, especialmente nos inimigos mais fortes e dos Bosses, porque fazem ataques continuados e desenfreados, portanto temos que agilizar entre o desvio e o uso da deflectir. Quando conseguimos deflectir os ataques mortais, conseguimos diminuir consideravelmente a barra de stamina do inimigo, dando a oportunidade para encaixar ataques e a possibilidade de fazer uma execução que lhe retira uma porção considerável de energia de uma só vez.

Já falei ainda à pouco das 5 fases que correspondem a 5 estilos de combate, agora com um pouco mais de detalhe. Em primeiro lugar temos a Fase do Fogo, com maior foco em ataque. A segunda é a Fase da terra, onde a especialidade é em defesa. Fase da madeira é especializada no suporte, recuperação individual e de aliados, e em HP no geral. Fase do metal tem foco em penalidades, ou seja, enfraquecer inimigos. A última, mas não menos importante, é a Fase da água, com foco na furtividade e movimento.

O mais interessante em Wo Long é que evoluir o personagem em algum dos 5 elementos não é focado apenas nessas melhorias. Por exemplo, após subir alguns níveis de HP, é ajustado e reduzido automaticamente pontos de força e ataque. Isso faz com que o personagem seja mais balanceado. Além disso, esse sistema nos obriga a, indiretamente, upar mais o personagem, para que essa redução em outros pontos seja menos sentida durante a gameplay.

Wo Long tem também um Sistema de Moral. Basicamente o jogador terá um ranking de Moral e se encontrarmos um inimigo com um ranking superior, será mais difícil vencê-lo. O jogador pode aumentar o seu ranking ao derrotar inimigos, mas se morrer o seu ranking vai baixar.

O que também aumenta esse Moral são as espécies de bonfire, isto é, Fora as melhorias em elementos, uma bonfire nos dá acesso a outras opções, como gerenciamento e melhoria de magias, suprimentos, viajar pelo mapa, lobby online e recrutamento, para jogarmos contra ou com outras pessoas.

Acima do nosso inimigo, existe um indicador de número em cima da sua cabeça, junto à sua barra de vida. Mas não são apenas os oponentes que possuem isto, nós também temos um indicador junto da nossa barra de HP. Então quando enfrentamos alguém com um nível igual ou inferior ao nosso, a batalha será um pouco mais fácil ou equilibrada. Mas se esse número for maior, a dificuldade também será.

Esta mecânica é muito interessante, pois faz-nos pensar melhor numa estratégia de batalha, uma possível ordem para encarar os inimigos e em subir a nossa moral antes de enfrentar os mais difíceis. Quando morremos, a nossa moral diminui, como se perdêssemos as almas nos jogos souls like. Porém, há algumas diferenças, já que nós não conseguimos recuperá-las.

Também existe a possibilidade de melhorar a moral hasteando bandeiras em pontos específicos do cenário. Além de aumentar nossa pontuação, melhora também o mínimo dela. Ou seja, quando morremos, a nossa moral mínima também sobe, facilitando nos confrontos. Por outro lado, quando um inimigo nos derrota, absorve a nossa moral, deixando-o mais forte, o que nos obriga a melhorar também. Contudo, há um limite máximo nessa pontuação, o que evita que a experiência se torne impossível, caso estejamos com dificuldade em certa área.

Esta mecânica é bastante semelhante ao sistema Nemesis, patenteado pela Warner e utilizado nos jogos Shadow of Mordor e Shadow of War. O inimigo que nos derrota vai subindo na hierarquia e isso muda a forma como o enfrentamos e os outros à sua volta.

Em termos de armas a utilizar, temos várias categorias com vários tipos de jogabilidade:

Há 13 categorias de armas disponíveis

Espadas, sabres lineares e sabres curvos

Standard, fácil de manejar

Lanças e lanças de corte

Longo alcance, ataques rápidos

Glaives e alabardas

Pesado, com a capacidade de cobrir uma larga área

Bastões

Pequeno alcance, ataques rápidos; ataques de esparto com longo alcance

Espadas duplas, sabres duplos e alabardas duplas

Ataques de alta velocidade e com vários combos

Machados e martelos

Ataques muitos pesados, dano elevado

 

Temos ainda que referir que vão poder formar alianças e requisitar reforços para a vossa luta. Os jogadores podem recrutar reforços no menu das Bandeiras. Para chamar reforços vão necessitar ter convosco os chamados Tiger Seals. O número necessário varia consoante o reforço que escolherem. No entanto, na história, há momentos onde vão ter esses companheiros sem precisarem de os recrutar. A não ser que morram em batalha e aí para voltarem precisam de o fazer.

Podem ainda encorajar os vossos aliados consumindo uma porção da barra da barra de magia, fazendo com que reajam de acordo com as suas características e do elemento que controlam. Existe ainda um Oath Level que pode ser aumentado a jogarem com cada aliado fazendo com que os mesmos ganhem novas habilidades. Ao chegarem ao máximo do seu nível e o jogador pode adquirir as mesmas armas e armadura que esse aliado.

Ao derrotarem os inimigos vão ganhando uma espécie de moeda, o Genuine QI que vos permite fazerem level up no menu das bandeiras. Isso faz também com que os stats aumentem, dependendo o elemento que prefiram levelar. Por fim, o último detalhe que precisam saber é que vão ter que gerir também a armadura e armas que usam, pois se ultrapassarem os 70% de peso, vão perder grande parte da capacidade para deflectir, enquanto que, por outro lado, se tiverem um equipamento leve, a capacidade aumenta.

Wo Long: Fallen Dinasty tem ainda uma componente multiplayer dividida em 3 modos:

  • O Recruit onde jogadores ajudam outros jogadores. Os jogadores são recrutados pelo host, sendo que apenas o host pode abrir portas e cofres. Se um dos jogadores morrer e não foi ajudado pelo outro a sessão de jogo termina.
  • O Co-Op onde os jogadores juntam-se por convite ou pela criação de uma sessão através de password. Neste caso podem selecionar a missão que vão jogar e se ambos morrerem, recomeçam da última bandeira que activaram. As recompensas serão mais e melhores do que o habitual.
  • E o Invade, é o PVP do jogo, onde os jogadores invadem a sessão de jogo de outros, ficando no papel dos inimigos. Para quem é invadido, ganha se conseguir derrotar todos os invasores, ou retirar a bandeira do líder.

Infelizmente não tivemos oportunidade de experimentar esta componente como desejávamos, visto que os servidores estavam bloqueados até ao lançamento do jogo, mas a premissa parece ser bastante interessante, e o facto de poder jogar com mais dois amigos é um add-on ao jogo, já por si só muito bom.

Com o desenvolver do jogo há sempre algo de novo que encontramos. Seja pela componente diversificada dos níveis, alguns um autêntico labirinto e outros mais focados nas lutas mais exigentes, os puzzles de ambiente estão muito bem conseguidos e o level design também. Para além disso, podemos melhorar o nosso equipamento, modificar os status de algumas armas e armadura, para além de podermos modificar a decoração destes elementos para darem o look que mais gostamos. Há ainda a hipótese de modificar os pontos de habilidade dos 5 elementos, para se focarem ou refocarem esses pontos consoante o nível que abordam ou o Boss que querem derrotar. Opções não faltam, mas são dadas de forma progressiva, o que nos dá mais e mais vontade de jogar.

Em termos gráficos o jogo é do melhor que temos visto neste género, a caracterização das personagens que encontramos e que serão nossos aliados, assim como dos inúmeros monstros que vamos encontrando pelo caminho, alguns mesmo memoráveis e assustadores. Vão poder escolher entre o Modo Performance, para manter os FPS em alta ou o Modo Qualidade que se dedica a uma melhor resolução do jogo. A iluminação está óptima, os efeitos de todas as magias também, dos elementos das paisagens e por aí fora. O que ainda acresce à qualidade do jogo são as magníficas cutscenes e as animações das execuções, dos ataques especiais e das deflecções. É um verdadeiro mimo para os nossos olhos.

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Wo Long: Fallen Dinasty é, para mim, o melhor soulslike que joguei. Sei que isso é sempre debatível, mas para o tipo de jogador que eu sou, está no ponto óptimo de equilíbrio entre dificuldade e diversão. Poderá ser o melhor jogo para entrarem neste mundo e ganharem coragem para outros do mesmo género. Para mim tem tudo, qualidade gráfica, de jogabilidade, de dificuldade, de diversão, da possibilidade de jogar com amigos e um verdadeiro RPG com puzzles de ambiente e um sistema de combate afinado. Só não leva um redondo 5, porque foi discrepante na fase inicial do jogo em termos de dificuldade, em relação a todo o resto.

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Pedro Moreira Dias
Fundador do Site - Salão de Jogos, o Commodore Amiga 500 foi o seu melhor amigo durante décadas e ainda hoje sabe de cor a equipa principal do Benfica do Sensible Soccer 94/95. Nos tempos vagos ainda edita as botas dos jogadores do FIFA e do PES.
analise-wo-long-fallen-dinasty<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">A história baseada na cultura chinesa</li> <li style="text-align: justify;">A caracterização das personagens e dos inimigos</li> <li style="text-align: justify;">As mecânicas de combate e de deflectir</li> <li style="text-align: justify;">Os puzzles de ambiente e o level design</li> <li style="text-align: justify;">Poder jogar em cooperativo com amigos</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">A discrepância de dificuldade no início para todo o resto</li> </ul>