Developer: Sad Socket, Hooded Horse
Plataforma: PC
Data de Lançamento: 23 de maio de 2025

Desenvolvido pelo estúdio Sad Socket e publicado pela Hooded Horse, 9 Kings é um jogo está atualmente disponível em Early Access para PC e apresenta-se como um híbrido de géneros que consegue não só captar a atenção como também desafiar as expectativas. A premissa é simples na superfície: assumir o trono como um dos nove monarcas titulares, construir um reino com base num sistema de cartas e resistir a ondas sucessivas de inimigos que pretendem destruir o nosso castelo.

9 Kings combina elementos de deckbuilding, auto-battlers, e até de estratégia em tempo reduzido, conseguindo juntar todas essas peças numa jogabilidade que recompensa experimentação, criatividade e reflexão táctica. É um jogo com personalidade, que se destaca numa paisagem cheia de clones e fórmulas repetidas, e que já conquistou elogios pela forma como consegue ser desafiante, viciante e surpreendentemente profundo mesmo numa fase inicial do seu desenvolvimento.

Apesar de não apresentar uma narrativa tradicional com um enredo mais linear, 9 Kings constrói uma identidade temática sólida assente na rivalidade entre monarcas. O jogador assume o papel de um dos nove reis — embora apenas sete estejam atualmente disponíveis — e enfrenta os restantes num sistema rotativo que introduz sempre novas combinações e desafios. A progressão é simbolizada pelo passar dos anos, e cada turno representa um ciclo em que se reforçam defesas, se enfrentam inimigos e se colhem recompensas.

Este pano de fundo dá corpo a uma espécie de crónica implícita, onde cada partida é uma narrativa própria, marcada pelas decisões estratégicas e pelas fusões de baralhos entre diferentes reis. A escolha de cartas, a construção do reino e a gestão do campo de batalha traduzem-se em pequenas histórias de resistência, crescimento e transformação, à medida que se integram unidades e habilidades de facções rivais, sendo que com o passar dos anos, surgem eventos e opções que funcionam como momentos de viragem narrativa.

 

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A jogabilidade de 9 Kings apresenta uma combinação engenhosa de mecânicas de deckbuilding roguelike e auto-battler, num equilíbrio cuidadosamente desenhado entre planeamento estratégico e imprevisibilidade. À primeira vista, a estrutura parece simples: o jogador assume o controlo de um dos nove reis — cada um com o seu baralho único — e enfrenta uma sucessão de inimigos que atacam o seu castelo a cada turno, representado como um ano dentro do jogo. No entanto, por detrás desta estrutura aparentemente modesta esconde-se um sistema de jogo profundo, que recompensa a experimentação, a gestão tática do espaço e a criação de sinergias.

A base do jogo assenta numa grelha de 3×3, que representa o território inicial do reino. Cada uma dessas nove casas pode receber cartas jogáveis, que se dividem essencialmente em unidades de combate, torres defensivas, edifícios com efeitos passivos, feitiços ou outras estruturas de apoio. A escolha do local onde cada carta é colocada tem um impacto directo na eficácia do conjunto: muitos edifícios funcionam com bónus de adjacência, o que significa que a sua influência se estende apenas às casas vizinhas — o que exige ao jogador um posicionamento meticuloso para tirar o máximo partido dos efeitos.

O ciclo principal de jogabilidade segue uma lógica de turnos divididos em duas fases: preparação e combate automático. Na fase de preparação, o jogador pode escolher cartas de um pequeno conjunto aleatório e decidir como melhor as integrar na sua grelha — construindo, reforçando ou substituindo unidades já existentes. Importa referir que, por turno, é possível jogar várias cartas, mas o número de cartas remanescentes influencia o que se recebe a seguir.

Uma vez satisfeita com a construção do reino, o jogador termina o turno, o que dá início à fase de batalha. Neste momento, entra em cena a componente auto-battler: os exércitos inimigos invadem o mapa, e as unidades do jogador combatem automaticamente com base nos seus atributos e posicionamento. Embora a intervenção directa seja limitada, a eficácia do confronto é determinada pelas decisões táticas anteriores, o que confere um sabor estratégico semelhante a jogos como TFT ou Into the Breach.

O que distingue 9 Kings dentro do género é o modo como incorpora progressão através de absorção de cartas inimigas. Após cada batalha vencida, o jogador pode escolher uma carta proveniente do baralho do inimigo derrotado, o que permite fundir baralhos distintos e criar composições híbridas e inesperadas. Esta mecânica introduz uma componente de theorycrafting que enriquece a experiência: o jogador não apenas adapta a sua grelha ao que tem disponível, mas também decide que tipo de sinergias quer explorar ou contrariar.

Algumas combinações podem privilegiar economia e geração de recursos; outras apostam em magias poderosas, estratégias de envenenamento ou forças brutas de ataque. A constante aleatoriedade dos oponentes e das cartas recebidas garante que nenhuma run é igual à anterior. O seu verdadeiro trunfo está na forma como permite aos jogadores descobrir, testar e optimizar sinergias num ambiente onde o domínio total é impossível — e onde cada vitória parece verdadeiramente merecida.

 

 

A progressão a longo prazo também tem um papel relevante: cada rei vai ganhando experiência ao longo das partidas, desbloqueando perks permanentes que alteram ligeiramente o início das runs seguintes. Ao mesmo tempo, novos reis vão sendo desbloqueados, cada um com baralhos únicos e abordagens distintas de combate. Isto não só amplia a rejogabilidade, como também obriga o jogador a repensar as estratégias habituais sempre que experimenta um novo personagem.

9 Kings aposta numa estética pixel art de baixa fidelidade, que confere ao jogo um charme retro e acessível. Apesar de tecnicamente modesto, o estilo visual não deixa de ser expressivo, recorrendo a cores contrastantes e sprites simples para comunicar rapidamente as diferentes unidades, edifícios e efeitos. O resultado é uma apresentação visual que, embora algo “áspera”, encaixa perfeitamente no espírito experimental e estratégico do jogo.

Do ponto de vista sonoro, 9 Kings adota uma abordagem discreta, mas eficaz. Os efeitos sonoros acompanham as ações de jogo com feedbacks claros, reforçando a sensação de progressão e impacto — seja ao jogar cartas, ao ativar buffs ou durante as batalhas automáticas. Apesar da banda sonora poder tornar-se um pouco repetitiva, funciona mais como um som de fundo eficaz. Há um cuidado evidente em manter o foco no planeamento estratégico, sem sobrecarregar o jogador com estímulos auditivos excessivos.

9 Kings revela-se uma proposta muito interessante dentro do actual panorama de jogos de estratégia indie. Apesar de ainda se encontrar em Early Access, o que se traduz em alguns limites técnicos e de conteúdo, 9 Kings demonstra já uma base sólida e um design inteligente, que consegue equilibrar acessibilidade com profundidade tática. Para quem procura uma experiência de estratégia rica, elegante e com margem para evolução, este é um nome a seguir com atenção

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Nuno Mendes
Completamente obcecado por tudo o que tenha a ver com futebol, é daqueles indesejados que passa mais tempo a editar as tácticas do PES do que a jogar propriamente. Pensa que é artista, mas não conhece as cores primárias, e para piorar, é ligeiramente daltónico. Recusa-se a acreditar que o homem foi à Lua.