Developer: Whalestork Interactive
Plataformas: PC e Mac (Steam), futuramente na Switch
Data de Lançamento: dezembro de 2021

Há desde o início, desde que pegamos em The Night Is Grey, um sentimento de mistério que nos vai dar uma enorme vontade de varrer o jogo todo de seguida. Quem é Graham e como é que ele apareceu ali no meio da floresta, quem é Hannah e o que faz ali uma miúda sozinha, depois da sua mãe ter saído da pequena cabana onde vivem e nunca ter voltado? Porque é que vivem as duas ali isoladas, sem qualquer vestígio de um pai, de um marido, e porque é uma matilha de lobos nos bloqueia a teoricamente única saída daquele local?! São tudo perguntas que ficam por responder, até mesmo depois de jogarmos a demo que já está disponível na Steam, mas algumas delas tornam-se ainda mais interessantes depois de chegarmos ao fim da demonstração.

De facto conduzimos a nossa personagem Graham que sai disparado de uma zona onde ficámos a saber que está uma matilha de lobos, e a nossa personagem não tem qualquer memória de como foi ali parar, e isso levanta logo uma suspeita, mas como ao início não passa disso, seguimos com a nossa personagem à procura de encontrar sentido em tudo isto.

É nessa procura de respostas que encontramos uma pequena cabana rústica, onde uma miúda empunha uma caçadeira, no meio do escuro e nos diz que somos um monstro e que nos mata se chegarmos mais perto. Como tem cú tem medo, tentamos encontrar uma maneira de ligar as luzes de um gerador estragado para que ela veja, por si mesma, que não somos um monstro, apenas um homem barbudo e caixa de óculos. Mas será que somos só isso?! A dúvida fica lá atrás da nossa nuca, mas não nos larga ao longo desta antevisão…

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Depois de solucionada essa questão e de ganharmos a confiança da pequena miúda, pobre coitada e supostamente ali abandonada, vamos tentar encontrar a sua mãe, ou ir ao encontro dos seus avós que vivem bastante longe dali, e com o caminho tapado pelos lobos, vamos tentar encontrar um outro caminho que nos permita lá chegar. É esse início da aventura que podemos desbravar nesta demonstração de 40 a 60 minutos, e que nos leva a chegar ao fim e vermos um pequeno vídeo de antevisão daquilo que será o jogo na sua totalidade, cheio de puzzles e mistérios por decifrar, e com uma narrativa densa, original e fora da caixa, e aí também precisamente nos últimos frames do vídeo que aquele pensamento que estava lá atrás na nuca ao longo de toda esta antevisão nos preenche os olhos como um led gigante e nos diz: Nada é o que parece…

E só dizemos isto porque a recompensa de todos os pequenos quebras cabeças da demo, vão ser recompensados ao chegarem ao fim e verem o vídeo, e ainda vos vai deixar com mais apetite para este jogo, do que quando o começaram. É certo que podem ver o vídeo na internet, mas depois de jogarem a demo, a vossa predisposição e até compreensão do vídeo será diferente.

No entanto se falámos aqui na história, ou de parte dela, na verdade, temos que olhar também para as suas mecânicas, e para a sua conceção artística. O jogo do pequeno estúdio independente Whalestork Interactive, demonstra uma enorme qualidade técnica. Os  cenários são todos desenhados à mão, de forma digital, sempre a tentar alcançar a tridimensionalidade através das várias profundidades dos panos de fundo.

Para além da riqueza das texturas dos seus cenários, o que denotamos é uma incrível atenção ao detalhe, com os movimentos das árvores perante o vento, ou iluminação do farol logos nos instantes inicias, assim como outros pequenos pormenores que nos fazem ficar imersos na trama do jogo, como por exemplo, as partículas da cina a pairarem pelo ar dentro da cabana, devido a uma lareira acesa, ou mesmo o efeito de iluminação desta lareira perante todo o ambiente da sala quando ainda não tem luz artificial. Ainda nesta componente gráfica devo dizer que gostei muito do facto de tanto os objetos com que podemos interagir ou recolher não tenham texturas diferentes ou que deem o “ar” de que são para mexer. A verdade é que na realidade isso também não acontece, portanto porque haveria de acontecer aqui.

Outro aspeto de relevância são também as animações das duas personagens principais nesta demo, com destaque para Graham que controlamos. Nota-se o cuidado em tornar esta personagem super natural, com os ombros meio caídos do cansaço, um ar meio agastado e perdido, com pequenas animações desde limpar os óculos ou puxar de um cigarro, sempre que interagimos com o pano ou com o maço de cigarros e o levamos através do nosso rato até à personagem. Até mesmo quando não alcançamos algum objeto, mesmo que este pareça, à primeira vista alcançável, quando Graham estica-se percebemos que a nossa personagem não tem um fulgor físico para chegar lá e vamos ter de arranjar outra forma de o fazer. Os movimentos são muito credíveis, tantos os de Graham, como os de Hannah, seja a deambular, seja nas cavalitas de Graham, esta miúda tem um ar meio lunático meio adorável que lança ainda mais o mistério sobre o jogo.

Nesta pequena demonstração The Night Is Grey dá vários indicadores daquilo que pretende fazer para este point and click. Desde a inspiração em Monkey Island ou na saga de Broken Sword, passando pelo traços de humor mais negro e mais mordaz que nos faz lembrar as obras de Tim Schafer ou de Steve Ince, para além de uns certo Monty Python. Como um bom clássico de point and click, o jogo faz-nos observar cuidadosamente todo o cenário e os seus objetos, até mesmo fabricar novos objetos perante o que já recolhemos, assim como, usá-los para chegar a uma nova localização. O jogo vai-nos fazer andar para trás e para a frente a tentar fazer sentido perante as informações que vamos recolhendo, sendo fundamental manter a conversa com Hannah para perceber o que fazer no momento seguinte.

E o que fazer a seguir vai sempre ser a grande questão, mas não contem com grandes ajudas, apesar do jogo ter um sistema de fazer um círculo à volta daquilo com que podemos interagir, usando a barra de espaços, a verdade é que isso não nos vai dizer muito mais do que isso, não existe um diálogo interno ou uma dedução brilhante da nossa personagem dando-nos pistas do que fazer a seguir. O que vão ter que fazer é mesmo usar a vossa própria dedução, porque as respostas estão todas lá, basta pensarem no que deviam fazer a seguir e a resposta vai sempre bater certa. Leiam obviamente com atenção o que é dito pelas personagens e o que precisam, mas está lá tudo e está lá tudo sem nos ser dado, mas com uma enorme naturalidade. Para além desta deduções e lógicas que precisam ser entendidas, há também puzzles mecânicos, o exemplo que nos é dado nesta demonstração prende-se com um gerador que temos que o ligar, e vamos precisar de alguns elementos para o fazer, e de usar essa lógica de MacGyver também, e para além disso há uma espécie de jogo em que temos que premir o botão esquerdo na altura certa para puxar a corda de arranque do gerador.

The Night Is Grey tem tudo para ser um dos meus jogos favoritos deste ano, da arte ao conceito, do saudosismo ao engenho, da naturalidade e da componente intelectual que provoca, para além do mistério que se adensa em cada momento. Com uma banda sonora composta especificamente para o efeito e tocada e gravada ao vivo, sentimos aquela atmosfera de um filme de terror psicológico que aumenta a tensão nos instrumentos de cordas sempre que a situação fica mais tensa, mas que ao mesmo tempo, nos momentos em que tentamos encontrar a solução para dar o passo em frente, nos acompanha sem se tornar a personagem principal, apenas fazendo aquela caminha confortável para longas sessões de jogatina, mas sempre com aquele grau de identificação, de que esta banda sonora é deste jogo, aquela sensação de banda sonora icónica.

Devo dizer que estou bastante entusiasmado com aquilo que a Whalestork Interactive nos vai fazer chegar ainda este ano, o jogo está previsto para dezembro, o trailer do jogo promete mais puzzles, mais complexos, situações de tensão, suspense, terror e muito mistério, e como vos disse ao longo desta antevisão tem todos os predicados para ser um grande jogo, deste estúdio independente que funciona a part-time neste projeto, com um enorme talento e que nos demonstra que é possível fazer um grande jogo, mesmo com recursos reduzidos.

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Pedro Moreira Dias
Fundador do Site - Salão de Jogos, o Commodore Amiga 500 foi o seu melhor amigo durante décadas e ainda hoje sabe de cor a equipa principal do Benfica do Sensible Soccer 94/95. Nos tempos vagos ainda edita as botas dos jogadores do FIFA e do PES.