Para percebermos aquele que foi uma das grandes surpresas, senão a maior, do PlayStation Showcase 2023, estamos a falar de Phantom Blade Zero, temos que recuar no tempo até às suas origens.

Por isso, vamos até 2007, ano em que a SoulframeRPG editou o jogo Rainblood: Town of Death apenas na China, com mais 500 mil downloads e um êxito quase instantâneo. Para além do êxito comercial, rapidamente tornou-se também de culto, devido à sua arte peculiar, totalmente desenhada à mão e evocando um universo fantástico ao nível de um Final Fantasy. Por isso mesmo, 3 anos depois, e de várias tentativas para uma tradução realmente fiel de todo o texto da história, o jogo chega ao Ocidente, traduzido para inglês e foi, mais uma vez um sucesso.

Nesta época, muitos jogos eram feitos através do RPGMaker e todos eram bastante similares, mas Rainblood: Town of Death, fugia a qualquer parâmetro. Cada pano de fundo e personagens no jogo foram meticulosamente desenhadas à mão e algo saído directamente de um livro de folclore tradicional chinês. O uso de cores suaves e minimalistas aumenta a mística e torna as cenas principais (como as que retratam a violência) ainda mais artisticamente impressionantes com os seus vislumbres de cores mais vibrantes. Cada animação é complexa, fluida e bem conseguida, e por isso resistiu tão bem no tempo.

Rainblood leva-nos até uma aventura envolta em escuridão e mitos, ambientada na “Central Earth”, semelhante à China tradicional, mas com designs elegantes, como um samurai sem cabeça e marionetas matadoras. Tem uma forte componente de storytelling, com um enredo relativamente curto, acabava-se em cerca de 4 a 6 horas, mas complexo, com uma história dramática. A história centrava-se num guerreiro moribundo chamado Soul, que tinha apenas 51 dias para se vingar antes de morrer de uma condição médica muito peculiar. A sua aventura é narrada em apenas um dia e começa na cidade de Yang amaldiçoada pela praga, onde conversa com uma jovem misteriosa que não consegue derramar uma lágrima. Não é claro se Soul conhece esta rapariga ou não, apenas percebemos que tem algum apego a ela, tornando o que se segue bastante desesperante para a nossa personagem. Soul vê a decapitação desta rapariga a acontecer à frente dos seus olhos por uma legião de demónios enviados pela Organização, contra quem Soul tem a tal vingança. O enredo é complexo, com muitas voltas e reviravoltas, mas tem algo de atraente que se prende com o facto de nunca deixar o jogador confortável. Com isso, e com um sistema de batalha que são neo interpretações da cultura da arte marcial chinesa, o jogo tornou-se de culto.

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Este foi um jogo que, para o criador Liang, fundador e CEO da S-Game, criou em 2010 através do RPG Maker na tentativa de, na altura, fugir das dificuldades e frustrações que a vida lhe lançou. Estudava arquitectura em Pequim, depois em New Haven e quando voltou para a China decidiu fundar a S-Game e pegar na franquia toda de Rainblood e tornou-a em Phantom Blade. No início a maioria desses jogos foram feitos para smartphones e nunca foi lançada fora da China, mas já tinham uma base de fãs de mais de 20 milhões.

Agora, com o apoio da PlayStation, Liang, decidiu-se atirar de cabeça e criar Phantom Blade Zero, uma espécie de renascimento espiritual do Rainblood original. Desde logo o aspecto visual e o level design mudaram consideravelmente devido à utilização do Unreal Engine 5 para o desenvolvimento do jogo, mas a ideia principal está toda lá.

Phantom World, o universo em que o jogo se passa, é um universo onde convergem muitos tipos de poderes. Vamos encontrar Kungfu chinês, máquinas intrincadas que lembram o género steampunk, artes do ocultismo e coisas intrigantes que não se encaixam em nenhuma dessas categorias.

Em Phantom Blade Zero, a nossa personagem é Soul, um assassino de elite que serve uma organização indescritível, mas poderosa, conhecida simplesmente como “A Ordem”. Ele foi acusado do assassinato do patriarca da Ordem e gravemente ferido na caçada que se seguiu. Um curandeiro místico conseguiu salvá-lo da morte, mas a cura improvisada dura apenas 66 dias. Ele deve descobrir o cérebro por trás de tudo antes que o seu tempo acabe, contra inimigos poderosos e monstruosidades desumanas.

Das histórias de Wuxia de Louis Cha aos filmes de Bruce Lee, e Michelle Yeoh em Everything Everywhere All at Once, e Donnie Yen em John Wick: Chapter 4, o Kungfu na cultura pop está em constante evolução. Phantom Blade Zero quer fazer parte dessa evolução e vai ainda adicionar uma forte dose de espírito punk ao qual a direcção de arte do jogo apelidou de “Kungfupunk”.

Phantom Blade Zero vai desenrolar-se num mundo semi-aberto, e Liang assume isso perante os recursos disponíveis, não tentando ir para além das suas capacidades, especialmente pelo grau de detalhe que quer atingir, com os mapas feitos à mão e preenchidos com diversas actividades.

Para quem acompanhou o anúncio do jogo no PlayStation Showcase deste ano, pode pensar que será mais um soulslike, mas talvez ande mais perto da abordagem de Wo-Long Fallen Dinasty, visto que Liang afirmou que o seu estúdio é fã de jogos de hack and slash como Devil May Cry ou Ninja Gaiden. O ritmo acelerado da acção destes jogos é facilmente visível na apresentação de Phantom Blade Zero, sendo que também este género, na sua componente mais frenética não deixa de exigir alguma dose de dedicação.

Para conseguir traduzir a mecânica de kungfupunk embebido em adrenalina, a equipa de desenvolvimento contou com Kenji Tanigaki como diretor de ação. Kenji-san é responsável por muitas cenas de luta fascinantes em filmes clássicos de Kungfu. Em Phantom Blade Zero, o seu papel é demonstrar cada movimento projetado, que é então capturado com uma matriz de câmera, para referência dos artistas de animação. Os movimentos de combate em Phantom Blade Zero foram feitos com animação artesanal, porque a captura de movimentos não lhes faria justiça.

Já vimos acontecer o mesmo, recentemente, com Sifu, com a direcção de combate de Benjamin Colussi, um mestre Pak Mei que estudou Kung Fu em Foshan, na China sob a alçada de Lao Wei San. Isso fez, em grande parte, com que a credibilidade dos movimentos e a sua fluidez fosse impecável, elevando o jogo ao estatuto de culto e de melhores jogos do ano de 2022. Se Phantom Blade Zero seguir a mesma batuta, tem tudo para ser um dos jogos mais esperados e, sem dúvida, foi dos jogos que mais nos empolgou da apresentação do PlayStation Showcase deste ano.

Entretanto, se querem aproveitar para conhecer um pouco mais da franquia, podem descarregar gratuitamente para Windows ou para smartphones, o jogo Phantom Blade: Executioners.

Aqui vão jogar na pele de um membro da “Organização”, que ao receber um SOS alarmante, descobre que o irmão de um amigo próximo foi transformado numa monstruosidade de oito braços que começou a matar os seus companheiros. O culpado? Uma misteriosa nova técnica de modificação corporal conhecida como Sha-Chi que, quando abusada, pode transformar o hospedeiro humano numa máquina de matar.

Neste jogo temos vários protagonistas. Soul, o filho mais novo do Dark Castle of Mo, que desapareceu há muitos anos, mas voltou. Mu Xiaokui, o jovem mestre da Organização. Zuo Shang é o filho mais novo resgatado pela empregada da Sra. Long antes de o clã Long ser destruído. Xianzhe é um mensageiro da Organização com Xukong como o seu único mestre. São todos leais à Organização devido aos seus laços com Mu Tianmiao, o seu líder, e estão interligados por encontros casuais, conspirações e deceções que vão sendo reveladas.

Quanto aos Bosses que vão encontrar no jogo, temos Tang Li que estudou artes marciais assiduamente, mas sempre se sentiu inferior. Tentado pelo Sha-Chi Mod, o sombrio jovem de 27 anos perdeu o controle e tornou-se um monstro hediondo com incontáveis ​​braços. Xie Huichin decidiu concentrar-se nas artes médicas porque acreditava que era mais heróico, antes de se transformar. Monk Dinghai está atormentado pela culpa de ter ajudado Ningyuan no desenvolvimento da Forbidden Tech. Dugu Linghe envolveu-se num relacionamento trágico e complicado com o senhor Li. Em desespero, ela conheceu um misterioso homem de branco e aceitou o Sha-Chi Mod.

Se quiserem experimentar em hack and slash 2D cheio de estilo e ficarem a conhecer um pouco mais do universo de Phantom Blade Zero, podem passar pelo site oficial da S-Game para descarregar gratuitamente o jogo.

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Pedro Moreira Dias
Fundador do Site - Salão de Jogos, o Commodore Amiga 500 foi o seu melhor amigo durante décadas e ainda hoje sabe de cor a equipa principal do Benfica do Sensible Soccer 94/95. Nos tempos vagos ainda edita as botas dos jogadores do FIFA e do PES.