Ao ouvirmos o nome de Sherlock Holmes ninguém fica indiferente e lembramo-nos logo do genial detective britânico, é por esse motivo que já foram feitos inúmeros filmes, séries e até alguns jogos. No entanto o nome Sherlock Holmes por si só não significa qualidade, se os livros de Sherlock Holmes escritos por  Sir Arthur Conan Doyle estão acima de qualquer suspeita, não se pode dizer o mesmo de tudo o que já tenha usado o nome Sherlock Holmes, havendo um pouco de tudo, para o bem e para o mal, e se Sherlock Holmes: Crimes and Punishments, quando saiu em 2014, teve uma critica positiva, era previsível que Sherlock Holmes: The Devil’s Daughter fosse pelo mesmo caminho.

É muito raro começar uma análise com uma crítica, mas a verdade é que jogar Sherlock Holmes: The Devil’s Daughter foi quase como um castigo, tanto que a primeira coisa que vão notar são os loadings. Acho que perdi mais tempo em loadings do que a jogar propriamente. Além de que vamos perdendo a paciência e até a vontade de jogar, sendo que os loadings são uma constante, seja a viajar, ou para outra coisa qualquer, e demoram por vezes mais de 30 ou 40 segundos, simplesmente exasperante. Como se isso não bastasse, existem ainda uns irritantes “breaks” pelo meio e o pior é que o próprio processamento não o justifica, uma vez que não é um jogo que tenha assim tanto para processar quando comparado com outros. Bom, depois deste meu desabafo, vamos lá falar do restante conteúdo.

Sherlock Holmes: The Devil’s Daughter é visto na terceira pessoa, um pouco ao estilo dos antigos jogos de aventura, onde claro, o mais importante será considerarmos todos os cenários possíveis dos casos que vamos investigando. O nosso personagem é Sherlock Holmes, mas também jogamos com outras personagens durante a história, até mesmo com o cão de Sherlock Holmes. Pode classificar-se como um “falso” Open World, isto é, existe essa sensação de liberdade, no entanto é composto somente por secções limitadas do mapa, acontecendo muitas vezes chocarem contra uma parede invisível, mesmo vendo a continuação da rua, por exemplo. Algo que sinceramente é incompreensível hoje em dia.

Ao todo temos cinco casos diferentes para resolver durante o jogo, e pelo caminho vamos ter de encontrar pistas, investigar pessoas, interrogar outras, explorar e até algumas perseguições estão incluídas. Não é raro ficar-se “perdido” sem saber o próximo passo, sendo necessário tomar a iniciativa de explorar quando todas as tarefas que temos no nosso caderninho acabam e é quase obrigatório visitar locais específicos pelos quais até já passámos, de forma a continuarmos o caso em questão. E não se pense que é por erro nosso, é o próprio jogo que assim o quer, porque certas pistas dependem de determinada acção, seja a interrogar alguém ou investigar algo.

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O interrogatório de pessoas tem duas vertentes, o mais convencional que passa por questionar através de perguntas e mesmo de conversas até os interrogados se descaírem com algo que não queriam revelar, ou que as podem comprometer, e por outra componente em que podemos analisar as pessoas e tirar algumas conclusões sobre elas. Em alguns casos é-nos dada a opção de sermos nós a escolher o que achamos sobre a pessoa, e como podem ver no nosso gameplay quando estamos a analisar o Tom, o rapaz que nos pede ajuda é possível investigar o seu pulso e concluir se é uma má formação, ou apenas uma lesão, e esse tipo de escolha é um dos pormenores interessantes e positivos em Sherlock Holmes: The Devil’s Daughter.

Outro aspecto curioso é que a partir das pistas e das nossas investigações é possível formar um raciocínio, ou seja, o jogo apresenta-nos várias opções onde temos de seleccionar a que mais sentido faz, o que nos permite ligar pistas, até chegarmos a uma conclusão sobre a investigação. Todavia não quer dizer que estejamos certos à partida, aliás, não é mesmo difícil estarmos enganados, pois quase todas as opções disponíveis têm a sua lógica.

Para os ajudar temos um Caderno com vários separadores que nos mostra diversas coisas. Apresenta-nos as tarefas, por exemplo, que vão sendo acrescentadas consoante o nosso progresso na investigação. No mesmo caderno temos acesso aos locais da cidade de Londres onde podemos ir, zonas essas que vão igualmente aparecendo com o desenrolar do caso, incluindo todas as provas e investigações que fizemos até ao momento, os documentos encontrados para consultar e um separador com todos os personagens que fomos conhecendo ao longo da investigação.

Poderia contar um pouco sobre a história, mas isso faria com que tivesse de revelar alguns spoilers, o que não é o mais indicado, principalmente num jogo do género onde gostamos de ter o mérito de concluir o caso à nossa maneira.

Algo que me deixou realmente desiludido foi a incapacidade de interagir com os NPCs, nem sequer é possível ouvir as suas conversas enquanto caminhamos na rua, basicamente são figurantes que se movimentam para parecer que estão a ter alguma forma de participação no enredo, mas nada mais que isso, algo que custa a crer, especialmente tendo em conta o jogo que é.

A jogabilidade é honestamente fraca, os desafios pouco ou nada interessantes e os controlos relativamente desactualizados, fazendo lembrar os jogos da Playstation 2 quando se começou a usar implementar os controlos analógicos. Sem esquecer os recorrentes problemas com os desafios, onde várias vezes fui obrigado a repeti-los mesmo depois de concluídos, sem que desse para compreender o porquê.

O ritmo do jogo é bastante lento, o que significa que não é para todos, podendo tornar-se algo monótono. Bem sei que é um jogo de investigação e é normal que demore mais a desenvolver, mas até nos desafios os controlos têm uma resposta aquém do exigido resultando frequentemente em frustração.

Visualmente o jogo está bem conseguido, não apresenta gráficos desta geração, mas enquadram-se bem para o tipo de jogo que é. As zonas da cidade de Londres retratadas estão bem caracterizadas, e até nas casas os interiores estão bem representados para a época, dando-nos a sensação que estamos a visitar locais que realmente existiram na época.

Em jeito de conclusão, podemos dizer que se gostaram de Sherlock Holmes: Crimes and Punishments e dos outros jogos do mesmo título desenvolvidos pela Frogwares, então é bem possível que venham a gostar deste, caso contrário, não é mesmo para vocês. Seja como for, a história é bastante interessante sendo apenas estragada pela sua jogabilidade, que claramente poderia ser muito melhor.

SimENaoSherlockHolmesTheDevilsDaughter

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Rui Gonçalves
Desde o tempo do seu Spectrum+2 128k que adora informática. Programador de profissão nunca deixou de lado os jogos, louco por RPGs e jogos de futebol. Adora filmes de acção e de ficção científica, mas depois de ver o Matrix nunca mais foi o mesmo.