Toda a comunidade gaming que segue, joga ou devora a franquia Destiny há uma década, ficou surpreendido, zangado e extremamente preocupado com o futuro da Bungie, mas em particular com a última expansão – The Final Shape – que fecha a saga Light & Dark.

Depois da aquisição, por parte da PlayStation, muito se tem falado daquilo que seria o futuro da Bungie, nomeadamente no conhecimento que poderiam dar à gigante japonesa, devido ao sucesso de Destiny, no formato game as a service e, também, por ter um produto que facilmente poderia ser adaptado para as salas de cinema ou como série nas plataformas de streaming. A verdade é que tal não aconteceu até ao dia de hoje.

Depois de uma expansão como a The Witch Queen que foi tão bem recebida, como Forsaken ou The Taken King, a mais recente, Lightfall rapidamente marcou o declínio no conteúdo do jogo. Pouco mais de duas semanas após o seu lançamento, Lightfall começou a denotar uma queda a pique no número de jogadores. Isso fez com que o entusiasmo pela última expansão The Final Shape, com data de lançamento marcada para o dia 27 de Fevereiro, não tivesse gerado o hype que a Bungie esperava.

Apesar disso, diria que a comunidade não estava preparada para as notícias que viriam a seguir e às quais finalmente replicamos, pois foram confirmadas por fonte oficial da Bungie.

Este é o comunicado oficial da Equipa de Desenvolvimento de Destiny:

Esta foi uma das semanas mais difíceis da história do nosso estúdio, porque nos separámos de pessoas que respeitamos e admiramos. Passámos esta semana apoiando-nos uns aos outros, incluindo aqueles que estão no estúdio, bem como amigos e colegas que deixaram de estar.

“Queremos agradecer o feedback e as preocupações que vocês têm sobre Lightfall e as temporadas recentes, bem como as vossas reacções à revelação de The Final Shape. Sabemos que perdemos muita da vossa confiança. O Destiny tem que surpreender e encantar. Não fizemos isso o suficiente e isso vai mudar.

Para nós, o caminho a seguir é claro: precisamos fazer de The Final Shape uma experiência inesquecível de Destiny. Queremos construir algo que seja considerado ao lado dos melhores jogos que já fizemos – um culminar adequado que honre a jornada que percorremos juntos nos últimos dez anos. Forsaken, The Witch Queen e The Taken King – estes são os exemplos que pretendemos seguir.

Estamos intensamente focados em superar as vossas expectativas para The Final Shape. Destiny 2 tem mais de 650 companheiros de equipa dedicados, que dão toda a sua energia e experiência para entregar este momento épico e os episódios subsequentes.

Nas próximas semanas, vão ter mais notícias nossas sobre o que está por vir a curto prazo, começando com a nossa próxima temporada no final de novembro. Depois, começaremos a desvendar a visão maior, mais ousada e mais brilhante da nossa equipa para The Final Shape, bem como a ponte que planeamos construir para nos tirar, a todos nós, desta Darkness e levá-los para a Light.”

Apesar deste “mea culpa” da Bungie a comunidade não deixou de estar apreensiva com o futuro. Há relatos, e ressalvo, relatos, de que tanto a expansão The Final Shape para Destiny poderá ser adiada, assim como Marathon.

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As informações foram vinculadas pela Bloomberg, que costuma ser um organismo com credibilidade, o mesmo que tinha dado conta de que 8% dos funcionários da Bungie tinham sido despedidos, isto é, cerca de 100 dos seus 1.200 funcionários. Algo que foi sendo credibilizado ao longo da semana, através de tweets, dos agora ex-funcionários e vários com peso no desenvolvimento do jogo.

Segundo a mesma fonte, Pete Parssons, CEO da Bungie, terá justificado estes despedimentos devido às fracas receitas dos últimos meses de Destiny 2. Segundo o Bloomberg, há duas semanas, os gestores da Bungie informaram os funcionários que as receitas estavam 45% abaixo do previsto.

Os funcionários demitidos vão receber pelo menos três meses de indemnização e três meses de seguro saúde COBRA pago pela Bungie, para além disso também vão receber bónus rateados, embora aqueles que estavam num cronograma de aquisição após a aquisição da Bungie pelo Sony Group Corp. em Janeiro de 2022 perderão todas as ações que não foram adquiridas no próximo mês. As demissões fazem parte de uma iniciativa de reestruturação da unidade PlayStation da Sony, que também demitiu funcionários em estúdios como Naughty Dog, Media Molecule e do seu escritório em San Mateo.

O mais caricato, e preocupante, foi a forma como ficaram a saber. Os funcionários ficaram sem acesso a todas as suas contas de e-mails, antes que muitos soubessem que haviam sido demitidos, outros tiveram reuniões curtas, cerca de 8 minutos, nas quais foram informados de que foram demitidos, mas também para não contarem a ninguém. Outros descobriram que as demissões estavam a acontecer no Twitter. Muitas vezes, os funcionários não tinham permissão para se despedir de outros membros da equipa ou trocar informações de contacto, o que precisava ser feito posteriormente. Muitos líderes de equipas nem sequer sabiam que tinham menos elementos na sua equipa, até estes serem despedidos.

Mas olhar para o rol de pessoas, e nomeadamente, o cargo que ocupavam ou a área que trabalhavam, coloca-nos numa posição, ainda mais, preocupante, porque parece não existir grande sentido ou uma lógica, criando exactamente o inverso, apenas um espanto enorme.

Griffin Bennett (Social Media Lead)

Liana Ruppert (Community Manager)

Sam Bartley (Community Manager)

Jason Larsen (Senior Support Manager)

John Zelman (Illustrator & Icon Artist)

Andrew Elmore (Visual Design)

Michael Salvatori (Compositor amado pela comunidade)

Michael Sechrist (Compositor do tema adorado pelos fãs Deep Stone Lullaby)

Lorraine Mclees (Art Lead)

(Uma das artistas mais veteranas, na Bungie desde o Oni e criadora do logo de Halo. Estava na companhia desde 1998)

Lindsay Lundeen (Corporate Attorney)

Kaj Trapp (Paralegal)

Stephan Reese (Senior Producer, Publishing)

Jonathon Torone (Video Content)

Erik Carson (Software Engineer)

Aidan Nabass (Production Engineer)

Darren de Claro (Recruiting Manager)

Andres Boyer (Recruiter)

Amy Madden (Recruiter)

Joey Sopo (Recruiter)

Brian Resnik (Game Security)

Paarth Tandon (Data Scientist)

Franziska Wischmann (QA)

Lee (QA)

Alex Greenhouse (QA)

Joshua Miller (QA)

Adam Bruce (QA)

Oscar Diaz (QA)

Bryan Baker (Video & Livestream Production)

Aurora Velentine (Test Associate)

Jason Shields (Test/Q&A Lead)

O ano de 2023 está a ficar marcado por lançamentos de jogos de grande perfil, com grandes investimentos e grandes receitas também, mas, ao mesmo tempo está a ficar conhecido por vários despedimentos, até por empresas de grande escala como o Meta, a Epic Games e a Microsoft, que já despediram funcionários ao longo de 2023.

Estivemos à conversa com Filipe Dionísio, conhecido como AKA_Intruder, fundador do Clã SALVOS no Destiny, sobre algumas das preocupações da comunidade. E a sua preocupação, perante este cenário é evidente:

Na comunidade nunca houve um momento que deixasse a comunidade tão dividida com o jogo. Não entre as pessoas, mas dentro de cada um, numa espiral de dúvidas.

Muitas pessoas falam de cancelar a pré reserva da expansão The Final Shape, outras de investir mais dinheiro para evitar que mais pessoas possam ir embora, outras ainda em abandonar o jogo por completo mas não nos podemos esquecer que somos consumidores de um produto, não somos diretamente responsáveis pela má gestão de chefias desorganizadas e parece que desta vez o “queixa-te com a carteira” realmente resultou.

O que é certo é que numa altura tão complicada como esta, mandar embora a maioria dos comunicadores diretos foi um enorme tiro no pé.

Voltar ao “normal” depois disto tudo vai ser muito demorado e a Bungie tem um longo caminho a percorrer para voltar a conquistar a confiança da comunidade e dos seus trabalhadores. A próxima expansão pode ser mesmo o culminar desta saga.

De facto, como diz o Filipe, sente-se essa tensão no ar. Uma tensão que não é comparável aos tempos em que, no primeiro Destiny, recordando The Darkness Below ou House of Wolves, nesse tempo de expansões periódicas e sem temporadas, os jogadores queixavam-se da falta de conteúdo contínuo. E era verdade que o conteúdo era parco para o tempo que se esperava, e desesperava, por conteúdos significativos. No entanto, nessa altura o conteúdo era sempre competente e inovador em algum sentido, e agora, o sentido é muito escasso e áreas como o PVP ou o Gambit são esquecidas há muito tempo. E a verdade é que, por exemplo, a expansão The Witch Queen elevou as esperanças dos jogadores, mas depois Lightfall deitou tudo por água abaixo.

E vale a pena lembrar que, no fundo, estes layoffs acontecem perto do 2ª aniversário da aquisição da Bungie pela Sony e, contrariamente ao que se esperava, isso não ajudou a Bungie, aliás, nesta altura, o estúdio é visto como uma máquina de sorver dinheiro. Basta olhar que os 1.2 biliões de dólares, do negócio de 3.6 biliões, alocados para a retenção de
empregados já foi queimado. Recordo, já agora, que a própria Microsoft já tinha ponderado a aquisição da Bungie, algo que se veio a saber devido à luta judicial para a aquisição da Activision/Blizzard/King. A velocidade com que a Bungie queima recursos, foi algo que os fez voltar atrás nessa pretensão, por mais que lhe pudesse acrescentar valor, sendo o Destiny um dos jogos mais jogados, em termos de números de horas no Game Pass para consola.

O mais curioso, e apesar de já o termos dito aqui que a última expansão parecia um DLC, atirando mais perguntas do que respostas, parecendo algo que fazia parte da anterior, a Witch Queen e não uma expansão por si só; a verdade é que registou um recorde no número de vendas. Mas quando o pó assentou, acabou por ter das piores recepções dos últimos tempos, levando os jogadores a acautelarem-se na pré-reserva de The Final Shape, outros até a cancelarem essas mesmas pré-reservas.

Um estúdio que estava a contratar, deixou de contratar, acabou por despedir 8% dos seus funcionários e uma máquina de estoirar dinheiro. A pergunta impõe-se, mas afinal como é que chegou a este ponto? E chegando, não são os cargos de chefia ou o management que sofre, mas sim a “classe operária” do estúdio?

E com essa, surgem outras: terá a Bungie gerido mal a expectativa e a questão da pandemia ter aumentado tanto o número de jogadores, devido a estarem em confinamento, e agora não conseguir os fidelizar ao jogo, ou simplesmente não existir o mesmo tempo, a mesma dedicação por parte dos mesmos?

Será que os jogadores estão cansados, exaustos de um modelo de Live Game ou Game As a Service, como preferirem, e consequentemente, das novidades e actividades a conta-gotas?

Terá, este ano de 2023, repleto de jogos de enorme qualidade, e alguns deles com uma longevidade enorme, ou até Live Game’s, como Diablo IV, Starfield, The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom, Lies of P, Baldurs Gate 3, Marvel’s Spider-Man 2, entre outros; contribuído para a falta de atenção, dedicação e permanência dos jogadores de Destiny?

Pode ser um ou outro factor, e até podem ser todos ao mesmo tempo. A verdade é que a Bungie não é um estúdio sem experiência, sem conhecimento de causa e, muito menos, sem ter ultrapassado vários obstáculos desta natureza. Foi um jogo que foi mudando a sua proposta, a forma como o conteúdo era oferecido, a sua periodicidade, e mais uma vez, após o final desta saga Light & Dark, já tinham anunciado uma nova mudança no paradigma de como vão dar continuidade ao jogo, com um sistema de episódios em vez das temporadas.

O que é mais surpreendente nisto tudo, é que os jogadores já vinham a evidenciar tudo isto. E a verdade é que os developers também, apelando à mudança às chefias, de forma a trazerem os jogadores de volta ao jogo. Neste aparente beco sem saída, com redução de pessoal e um sentimento de quem fica, de revolta, tristeza e medo, a situação pode bem vir a piorar. As informações que circulam pela internet, não sendo ainda confirmadas pela Bungie, é de que a última expansão The Final Shape será mesmo adiada, já para não falar do outro IP do estúdio, Marathon, que também já estará atirado para 2025.

Este vai ser, provavelmente, o teste mais duro da Bungie de sempre, e será o também para a Sony e para a PlayStation, visto que embarcaram todos juntos nesta nova aventura, mas como disse na minha análise ao Lightfall:

Há um sentimento que percorre toda a expansão, que Lightfall não é um elemento isolado mas sim parte de algo maior, esperemos que Final Shape seja isso mesmo.

Esperemos que isto não seja uma problemática comum a muitos estúdios, porque na verdade, este ano foi incrível em termos de jogos lançados, mas é verdade também, que foram 6000 layoffs só este ano, com uma crescente aposta na Inteligência Artificial para tentar resolver todos os problemas, e com a falta de alguma inteligência em ser-se mais humano, como as declarações “menos conseguidas” do CEO Pete Parsons, ao falar internamente que “ficaram as pessoas certas para continuar o trabalho”. Veremos, se assim o é…

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Pedro Moreira Dias
Fundador do Site - Salão de Jogos, o Commodore Amiga 500 foi o seu melhor amigo durante décadas e ainda hoje sabe de cor a equipa principal do Benfica do Sensible Soccer 94/95. Nos tempos vagos ainda edita as botas dos jogadores do FIFA e do PES.