Sir Clive Sinclair, o inventor do popular computador ZX Spectrum morreu aos 81 anos devido a doença prolongada.
Através das suas empresas, Sir Clive Sinclair ajudou a popularizar diversos produtos eletrónicos na sua terra-natal, a Grã-Bretanha. Foi na década de 1970, que o inventor banalizou o conceito de calculadoras de bolso através da sua empresa, a Sinclair Radionics.
No entanto o verdadeiro sucesso, veio nos anos 1980, quando entrou para o mercado de computadores com a empresa Sinclair Research. Os seus dois primeiros produtos foram o ZX80 e ZX81, e foram pioneiros por serem os primeiros computadores pessoais vendidos por menos de 100 libras.
Em 1982, Sinclair lançou sua máquina mais popular e icónica, o ZX Spectrum, que implementou cores ao sistema, e que pela década seguinte vendeu 5 milhões de unidades, ajudando a popularizar e normalizar a ideia de computadores domésticos.
É inegável a preponderância de Sir Clive Sinclair no mundo dos videojogos e no desenvolvimento da tecnologia para aquilo que conhecemos hoje, tornando os computadores um objeto normal nas casas das pessoas, de uma maneira acessível e dando às famílias a possibilidade de desenvolvimento pessoal e criativo, não só para utilizar software, mas para criar o seu próprio software.
Isso levou a que grandes companhias que conhecemos hoje, começassem precisamente por aqui, pelas criações de Sir Clive Sinclair, como é o caso da DMA Design, um grupo de developers amadores de Spectrum, que juntavam-se numa espécie de um clube de computação, onde viriam a criar coisas como o Lemmings e mais tarde o Grand Theft Auto, sim é verdade, estamos a falar da Rockstar North, e o resto é história.
No entanto há outros exemplos famosos como a Rare, na altura apelidados de Ultimate Play The Game que fizeram um dos jogos mais revolucionários da data, o Knight Lore para o ZX Spectrum, ou até mesmo a Ocean Software que começou com Jon Woods e David Ward como Spectrum Games, e que nos deu jogos como o Frogger ou o Missile Command. Foi uma altura extremamente profícua em termos de videojogos, basta lembrar-nos ainda da Bug Byte e do Manic Miner ou do Twin Kingdom Valley, Bug Byte que depois viria a transformar-se na Imagine com o seu jogo Arcadia, e depois a multiplicar-se por exemplo na Denton Designs que nos deu, por exemplo, Shadowfire ou o primeiro jogo dos Transformers que me lembro; e também na origem da Psygnosis, o estúdio por detrás de tantos jogos do Commodore Amiga ou da Mega Drive. Como já perceberam, a importância de Sir Trevor Sinclair está intrinsecamente ligada à historia dos videojogos.
Nem sempre tudo correu bem, à parte dos videojogos, a Sinclair Research também produziu o TV80, uma mini televisão portátil de tela plana que utiliza um tubo de raios catódicos; no entanto, a tecnologia de televisão LCD estava em desenvolvimento avançado e o Sinclair FTV1 (TV80) foi um fracasso comercial, apenas 15 000 unidades sendo produzidas. Em 1983 acabou por formar a Sinclair Vehicles e lançou o Sinclair C5, um veículo elétrico a bateria que também foi um fracasso comercial. Desde então, Sinclair dedicou-se ao transporte pessoal, incluindo a A-bike, uma bicicleta dobrável para passageiros que pesa 5,5 kg e dobra-se para baixo o suficiente para ser transportada em transporte público.
Com o titulo de Sir concedido em 1983, Clive Sinclair será sempre recordado como um homem a olhar para um futuro que ninguém via, até mesmo em termos dos veículos elétricos, que só hoje começa a ser uma realidade. Sir Clive Sinclair morreu a 16 de setembro deste ano, aos 81 anos de idade, em Londres, vítima de um cancro com que se debatia há 10 anos. O nosso pequeno tributo e homenagem vem em formato de memórias que ajudou a criar, nomeadamente com o ZX Spectrum, e aqui ficam algumas delas.
Nuno Mendes e o Bomb Jack
É praticamente impossível pensarmos no Spectrum e não nos recordarmos imediatamente de Bomb Jack. Foi um dos primeiros hits do PC de culto e um dos mais divertidos também. Era um jogo que facilmente juntava famílias à frente da televisão, e ao qual nem os mais adultos eram capazes de resistir.
Lembro-me de quando o vi pela primeira vez em casa de uns amigos de infância; aquela esfinge excecionalmente desenhada como cenário de fundo me agarrou logo a atenção. Os meus olhos – ainda sem óculos na altura – fixaram automaticamente a TV, e a necessidade de saber mais instalou-se.
– Isso é o quê?
– Bomb Jack. – respondeu o Marco, com toda a naturalidade.
Como alguém era capaz de ficar tão quieto e disciplinado enquanto estava a testemunhar um momento de história? Era quase insultuoso, até porque a minha ansiedade era quase sentida no prédio inteiro. Era a primeira vez que eu via um Spectrum a funcionar e o Bomb Jack acabou por marcar a experiência, sendo um jogo que nunca esquecerei.
Foi igualmente a minha apresentação à configuração de teclas “O, P, Q, A, Space”, e tudo nesse episódio acabou por ser evolucionário. A qualidade gráfica e a jogabilidade de Bomb Jack eram diferentes de tudo o que conhecia, e soube naquele momento que um dia teria de ter um Spectrum também.
Ainda hoje é um nome que não é esquecido e demonstra bem o legado que deixou na indústria.
Pedro Moreira Dias e o Batman The Movie
Acho que este jogo acaba por sumarizar todas as memórias que tenho do ZX Spectrum 128k que os meus primos tinham em casa.
De cor cinzenta, com aquele magnífico deck de K7’s embutido, estendido em cima de uma mesa da máquina de costura SINGER da minha tia, o Spectrum era o nosso recreio. Um recreio que tinha uma componente lúdica, fosse por aprender o mítico Load “”, ou por passarmos horas a gravar K7’s na aparelhagem dos meus tios para não ficarmos sem o mítico jogo, e por vezes fazer umas cópias para os amigos, é verdade.
O Batman The Movie é um jogo de 1989 publicado pela Ocean Software e é baseado, precisamente, no primeiro filme de Tim Burton, e demorava cerca de 2 horas para fazer o loading. Isso queria dizer duas coisas, a primeira era que tínhamos que virar a K7 quando ela chegasse ao fim de um lado, e a segunda é que a hipótese de correr mal era alta, e perdíamos aquelas horas para nada. No entanto queria dizer também que a expectativa era enorme, não só pelo efetivo tempo de espera, mas porque nos dava a sensação de “vai ser incrível”. E de facto era.
As memórias que tenho do jogo era a sua diversidade, até antes nunca vista, com níveis de plataformas, mas com níveis em que conduzíamos o Batmobile pelas ruas de Gotham, onde para fazermos as curvas tínhamos de disparar o gancho para se agarrar a um poste, ou mais à frente onde pilotávamos o Bawtwing, era incrível.
É nostálgico pensar como antes tínhamos tanta mais paciência com loadings e agora se demorar mais do que 2 segundos a fazer um time travel já ficamos a bufar.
Rui Gonçalves e o Advanced Dungeons & Dragons
O ZX Spectrum, seja ele que modelo for, marcou uma geração, e os jogadores com mais de trinta e cinco anos provavelmente vão ter para sempre recordar as memoráveis tardes que passaram a fazer Load “” para depois um um chato e barulhento loading, poderem finalmente começar a jogar o tão desejado jogo que tinham na vossa cassete – fosse ela pirata ou não!
Um dos jogos que mais me marcou no ZX Spectrum foi Advanced Dungeons & Dragons: Heroes of the Lance, e este era daqueles em que o loading bem demorava. Felizmente, tinha um 128k+2 que dava para carregar o jogo todo na memória da máquina, e assim não ter de andar a fazer loadings atrás de loadings.
Provavelmente, foi com este jogo que tive o primeiro impacto com um RPG – um género que hoje tanto adoro. Este jogo era tão à frente do seu tempo que já tínhamos a possibilidade de jogar com oito personagens, um de cada vez, mas também podíamos trocar de personagem a qualquer altura, o que era interessante. Os personagens já tinham bastantes detalhes para a altura (estamos a falar de pixeis e de máquinas quase sem memória), e além disso, todos eles apresentavam um tamanho acima do normal, quando comparávamos com os outros jogos. Era uma daquelas componentes que chamava rapidamente a atenção dos jogadores na altura.
Para terem uma noção, era um jogo em 2D onde íamos andando de sala em sala, encontrando inimigos que obviamente tínhamos de eliminar. Para isso, entre os oito personagens jogáveis, existiam personagens com arco e flechas, feiticeiras, uma guerreira com espada, e até o mítico dwarf não faltava em Advanced Dungeons & Dragons. O jogo já apresentava na altura as características dos personagens e até a sua força, agilidade, carisma, entre outras características que hoje em dia todos os RPG usam.
Era um jogo cheio de pormenores e o sucesso foi tão grande que teve versão para PC, NES, Amiga, Atari, Master System, entre outras plataformas que existiam na altura. Quem teve a possibilidade de o jogar, certamente não se esqueceu dele, e é um daqueles jogos, juntamente com outros, que ficaram marcados nas minhas memórias do ZX Spectrum.
Obviamente que falando de ZX Spectrum é impensável não deixar umas palavras ao tão hilariante jogo português, Paradise Café. Onde além de termos meninas sempre prontas a oferecer serviços ao nosso personagem (caso não tivéssemos dinheiro para pagar), lá aparecia o famoso Reinaldo para abrir o túnel do rossio (se é que me percebem). Para não falar dos negócios que podíamos fazer para ganhar dinheiro.
E por aqui me fico nas bonitas lembranças do ZX Spectrum, local onde escrevi as primeiras linhas de código, para hoje ser programador de profissão… maldito ZX Spectrum!