Developer: Naughty Dog
Plataforma: PlayStation 5
Data de Lançamento: 19 de Janeiro de 2024
Não é novidade que a PlayStation aposta sempre em reaproveitar os seus grandes títulos e transpô-los de geração em geração, seja em colecções, seja em formato stand-alone, a verdade é que a qualidade destas suas aventuras single player são agregadoras e não há jogador que não goste de ter mais uma hipótese de jogar o seu jogo favorito com melhor qualidade. Mas nem sempre tem sido com um leque variado de hipóteses que isso tem acontecido, por vezes as remasterizações não são mais do que apenas os gráficos actualizados e, no caso da PlayStation, por terem sido editados ou final de vida da PS4 ou para ambas as consolas, nos primeiros anos de vida da PS5.
Diria que The Last of Us Parte 2 Remastered é o primeiro de um novo paradigma que a Sony está a tentar implementar. Um jogo cujo upgrade pode ser feito para aqueles que já possuem a versão original por cerca de 10€, mas que não traz apenas melhorias gráficas, traz também um conteúdo muito alargado que passa das artes conceptuais do jogo, roupa e cosméticos, novas formas de jogar, novos filtros, a possibilidade de ter os comentários dos developers do jogo, ou até novos níveis que não foram introduzidos na versão final e ainda um novo modo de jogo, um Roguelike Survival Mode.
Devo confessar que, quando foi anunciado, pensei que seria algo “mais do mesmo”, mas fiquei agradavelmente surpreendido por essa quantidade de bónus adicionados à versão original e com o tal Modo Sem Regresso que é muito mais do que apenas um modo Survival para encher chouriços.
Comecemos por falar precisamente deste modo Sem Regresso, que é, sem dúvida, a grande adição desta edição remasterizada. Aqui vamos poder escolher a nossa personagem, no início apenas a Elli e a Abby, mas conforme vamos jogando vamos desbloqueando várias outras, como Dina, Jesse, Tommy, Joel, Lev, Yara, Mel ou Manny. Para desbloquear muitas delas, vamos ter que jogar com personagens determinadas para o efeito. Cada personagem tem as suas habilidades específicas, Ellie tem mais 50% dos suplementos, por exemplo, Abby regenera a sua vida através de ataques corpo a corpo, Dina pode colocar minas, Jesse pode fabricar silenciadores e bombas de fumo, Manny tem uma barra de energia maior por aí adiante, dando sempre formas diferentes de jogar.
Cada run é única, e tem encontros diferentes, sendo que a partir do primeiro temos sempre a opção de escolher um dos caminhos que é colocado no quadro do nosso refúgio. Temos o Modo Assalto, onde em cada uma das vagas temos que eliminar o número de inimigos que surge, temos o Modo Caçada, onde temos que sobreviver aos inimigos durante determinado período, ainda o Modo Holdout, onde temos que assegurar uma base ou ponto sem deixar que o nosso aliado morra, ou o Modo Captura onde temos que tentar roubar um cofre com items valiosos num determinado tempo. Os inimigos, esses podem variar, desde os militares da WLF, os Serafitas, Clickers, e claro, os Bosses mais monstruosos que vimos no jogo.
Em termos de jogabilidade, será muito semelhante ao que encontramos no jogo em si, isto é, esconder, observar, planear e atacar sorrateiramente usando tudo o que vamos apanhando pelo caminho. Mediante a personagem, as armas com que começamos variam, sendo que, podem roubar as armas de corpo a corpo dos outros elementos, assim como munições para as armas que temos. Depois temos ainda os habituais items de fabricação, seja de silenciadores, os med kits, de objectos de arremesso, e por aí fora.
Se quiserem levar este modo de uma forma mais “leve”, basta escolher a dificuldade adjacente, e aí terão alguma facilidade em ir de encontro aos inimigos e lutar corpo a corpo e andarem aos tiros a tudo o que se mexa, mas se, por outro lado, querem jogar da forma mais “real”, vão mesmo ter que ser furtivos e planear cada movimento meticulosamente para sobreviver e vencer cada encontro. Os mapas são variados, desde algumas zonas de Seattle, onde encontrámos cada uma das Facções do jogo, facilmente reconhecíveis e diria até que muito familiares, visto que senti que estava a fazer exactamente o mesmo do que, na mesma zona, no Modo História, até zonas mais fechadas como um antigo Salão de Jogos.
Eu diria que cada run vai demorar cerca de uma hora, uma hora e meia, sendo que há vários modificadores em cada rua, que passam desde o nosso melee atear fogo nos adversários, dos inimigos ficarem invisíveis, de ganharmos vida ao matar em modo furtivo, terminando em mudar o estilo gráfico do jogo para um dos filtros adicionados nesta versão. Tudo é randomizado em cada run, também o items que temos disponíveis para compra no nosso refúgio, que serve de base para fazermos upgrades à personagem e aos nossos items, com uma bancada para esse efeito e um armeiro para tentarmos a nossa sorte e vermos o que podemos levar para a próxima ronda. Em cada ronda vamos voltar a este local para delinear a melhor estratégia.
Por fim, cada run será categorizada no final de cada encontro, isto é, de cada ronda, dando-nos pontos de experiência, por assim dizer, para desbloquearmos novos modificadores, novos tipos de encontro, novos bosses, novas personagens, novas vestimentas, entre outros. Este Modo Sem Regresso é bastante denso, complexo e interessante, com um bom aliciante de repetição, com boas mecânicas e interesse, especialmente porque nos dá a oportunidade de jogar com outras personagens da trama, mas particularmente por termos uma nova jogabilidade com cada uma que utilizamos. Um remaster com esta adição, assim vale a pena.
Como já perceberam, estou a focar-me nas novidades que esta remasterização traz, visto que podem aceder a qualquer momento, no nosso site, à análise do jogo original. Por isso, agora dou conta dos Lost Levels, isto é, 3 níveis que não fizeram parte da versão original e que a equipa da Naughty Dog quis incluir aqui, para mostrar o que tinham “quase” feito e onde tinham colocado estas partes, com a gameplay a ser narrada pela própria equipa.
O que eu gostei substancialmente foi a introdução dos comentários durante a campanha. O diretor Neil Druckman e a chefe de narrativa Halley Gross, além dos atores Troy Baker (Joel), Ashley Johnson (Ellie) e Laura Bailey (Abby), estão presentes em determinados momentos, desconstruindo a visão de cada plano, de cada traço de carácter das personagens, dos sentimentos que cada imagem transparece, tal como acontece nas versões Director’s Cut dos filmes. Eu sei que muitos se calhar não ligam muito a esta questão, mas para alguém que, nos seus filmes favoritos vê sempre uma segunda vez com essa opção, tentando mergulhar na mente de quem criou a obra, para mim foi incrível perceber o sentido, o sentimento e a expressão de cada momento do jogo. E isso é ainda mais interessante quando ouvimos os actores principais a escalpelizar isso mesmo, para um fã de videojogos, como eu, vale logo o upgrade.
E já que falo de upgrade, para que fiquem esclarecidos sobre como o podem fazer, se tiverem uma cópia do jogo original, dizer que basta irem à PS Store assim que o jogo for lançado a 19 de janeiro para fazerem a atualização. Os proprietários de cópias de discos da PS4 devem inseri-los na sua PS5 com uma unidade de disco para baixar e reproduzir a versão digital. O preço pode variar de acordo com o país, em Portugal é 10 euros.
Outro dos elementos introduzido nesta Remasterização prende-se com o Modo de Free Guitar, isto é, de podermos tocar a guitarra, tal como acontecia no jogo com Ellie, mas agora, podemos-o fazer com várias personagens e de forma livre, tentando tocar tudo aquilo que imaginarmos. Foi algo que os jogadores acabaram por ficar viciados no jogo original, a tentar recriar os clássicos, e agora é possível até tocar banjo com o próprio Gustavo Santaolalla, o músico que criou a banda sonora do jogo. Para além disso, agora podem escolher que guitarra querem usar, da acústica à eléctrica, passando pelo banjo ou uma com o corpo metálico, tudo, para conseguirem tocar a vossa música favorita. Esta mecânica continua a ser desafiante, mas ao mesmo tempo viciante porque é possível tocar singularmente em cada uma das cordas no touch pad ou em strum. Por fim, dizer ainda que agora podem escolher entre vários locais para tocar, desde ao teatro até à antiga loja arcade.
Há ainda mais algumas coisas que fazem parte desta remasterização, entre as quais a possibilidade de vermos os dois trailers de bastidores do jogo, mas também os 4 episódios do podcast oficial com a participação de Neil Druckmann, Halley Gross, da Naughty Dog e os actores Troy Baker, Ashley Johnson e Laura Bailey. Têm ainda um QR Code associado, se quiserem ouvir num dispositivo móvel estes episódios.
Depois temos ainda uma série de artes conceptuais do jogo, divididas pelos capítulos e localizações que vamos encontrar no jogo, assim como de algumas vestimentas novas que foram implementadas para esta remasterização e como a equipa criativa chegou até elas.
Por fim, destaque para a parafernália de cosméticos que podemos desbloquear para todas as personagens e para as suas armas, com destaque obviamente para Ellie e Abby, jogáveis no Modo História, mas com as restantes personagens jogáveis no Modo Sem Regresso a também terem direito a algumas alternativas. Dizer ainda que também existe uma grande variedade de filtros gráficos, desde a pintura a aguarela, o pixel art, o noir, entre tantos outros.
A remasterização traz ainda gráficos melhorados e duas opções de modos visuais: Fidelity, que tem resolução nativa 4K, ou Performance, com resolução 1440p com upscale para 4K, mas a taxa de quadros sem limite em TVs que suportem VRR (taxa de atualização variável). As melhorias visuais incluiem uma maior resolução nas texturas, objetos mais detalhados a longas distâncias, sombras melhores, animações mais fluídas entre outros pormenores.
Falta-me, obviamente, referir o jogo em si, isto é, o Modo Historia e, para isso, o melhor a fazer é recuperar aquilo que disse quando analisei o jogo na sua versão original: “The Last of Us Parte II é um marco na história da PS4, é também um marco para a Naughty Dog que se superou nesta aventura, superando todas as expectativas que colocámos nas nossas mentes quando olhávamos para as vastas paisagens com as girafas a passar na primeira parte do jogo. Conseguiu trazer toda essa imensidão ao jogo, com uma tensão constante, abordando temas como o ódio, como a homossexualidade, a fraternidade, o desespero, a vingança e a obsessão, sem medo de arriscar e de ferir susceptibilidades. Um jogo que arriscou em todas as fronteiras, até a pedir aos Pearl Jam os direitos da sua canção “Future Days” para ser utilizado com o jogo, e até isso conseguiu. São histórias como estas que nos fazem acreditar que os jogos não apenas momentos de descontracção e divertimento, são cultura, são momentos de reflexão e aprendizagem que nos podem levar a sermos pessoas melhores, e nesta altura bem que o precisamos.”
Deixem-me ainda acrescentar que esta remasterização é claramente das melhores que a PlayStation já ofereceu dos seus títulos. A introdução de um novo Modo de Jogo, de artes conceptuais, com níveis que não tinham sido editados, juntamente com um Modo Free Guitar e a narração dos produtores e actores do jogo durante a narrativa, são acrescentos verdadeiramente interessantes e compensatórias, não pelo salto gráfico qualitativo, que é notótior, mas não estonteante, mas pelo valor que traz, especialmente para aqueles que já têm o jogo e que por 10 euros, podem aceder a este conteúdo, ou para aqueles que ainda hoje não jogaram este jogo, e esta opção será a melhor do mercado. Por isso, se quiserem ler a minha análise à versão original basta seguir este link, onde olhamos para toda esta verdadeira epopeia que deu origem num dos jogos mais marcantes da vida da PlayStation.