Developer: Big Ant Studio, NACON
Plataforma: PlayStation 5, Xbox Series X|S, PlayStation 4, Xbox One, PC
Data de Lançamento: 22 de Agosto de 2024
Se há ano que está a ser bom para os jogadores fãs de ténis é 2024. Depois de um hiato de jogos deste desporto, eis que no espaço de seis meses chegam duas propostas, que se podem considerar válidas. Um deles foi o Top Spin 2K25, lançado em abril e agora é a vez de TIEBREAK tentar ganhar o seu espaço.
O jogo esteve em Early Access no PC desde o início deste ano, mas só agora foi lançado oficialmente chegando também às consolas. A minha experiência é numa PlayStation 5 e nunca peguei em nenhuma das edições de acesso antecipado, que a julgar pelos patches, foram sete, as grandes atualizações que melhoraram o jogo ao longo deste tempo.
Com o selo da NACON e desenvolvido pelo Big Ant Studio, os mesmos responsáveis por AO Tennis 2, de 2020, de referir que há algumas semelhanças, não só dentro do campo, mas também fora dele, com algumas mecânicas idênticas, funções do modo carreira, entre outras coisas que quem jogou, vai certamente achar familiar.
Vou começar pela grande força deste TIEBREAK que se assume como o jogo oficial do ATP e do WTA, as organizações responsáveis pelos torneios masculinos e femininos do ténis mundial. Com isso, o jogo apresenta uma boa vantagem em relação à concorrência com mais de 90 torneios oficiais e 120 jogadores profissionais representados, divididos pelo WTA e pelo ATP. É claro que podemos contar com os nomes fortes masculinos, nos quais não faltam nomes fortes como Djokovic, Nadal, Alcaraz e até o nosso Nuno Borges lá está representado. No plantel feminino podem contar com a norte-americana Coco Gauff, Sabalenka, Iga Swiatek, Azarenka, entre muitas outras. Opções não faltam na hora de escolher quem queremos levar a jogo e isso é um dos pontos fortes do jogo.
A nível de torneios podem contar com mais de 90 no modo carreira, mas com os Grand Slam a ficarem de fora desta onda de licenças. Eles estão presentes no jogo, mas com os nomes das cidades onde se realizam e não com as designações oficiais. Enquanto Top Spin apresenta os quatro maiores torneios da temporada de forma fiel: Australian Open, Roland Garros, US Open e Wimbledon, aqui temos todos os Masters 1000 mais conceituados: Indian Wells, Miami, Madrid, Roma, entre outros. Também os torneios ATP Finals e WTA Finals, que levam os melhores do ano a um último torneio de temporada, estão representados e podem ser jogados de forma individual no modo torneio. Na carreira, os torneios designados como 500, 250 ou 125 também fazem parte do calendário.
Apesar de nem tudo estar licenciado, isso não significa que não haja maneiras de colocar as arenas e os torneios parecidos com a realidade. Existem as criações de comunidade, onde nós próprios podemos criar um estádio, um logo ou um atleta e partilhá-lo com o mundo. Escusado será dizer que mais dia, menos dia, aparece algum criador capaz de fazer um trabalho impressionante e parecido com as arenas que vemos nesses Grand Slam e quando for o caso, podemos aproveitá-los no nosso modo carreira. Lembra-me um pouco os editores do PES, que durante muitos anos não tinha os clubes oficiais, mas as suas opções de edição eram tantas que nos perdíamos horas a fio a colocar tudo como na realidade. Outros tempos.
Voltando ao ténis e dando um salto até ao que se passa dentro do court, posso dizer que é uma relação de quase amor/ódio. Na minha primeira sessão de jogo, onde passei pelos tutoriais que deixam muito a desejar, fiz algumas partidas, mas confesso que detestei a experiência de jogo. Além de não me estar a adaptar bem, era difícil perceber alguns movimentos dos tenistas que não me pareciam naturais. Depois e já com acesso a um primeiro patch de atualização, as coisas mudaram. De certeza que não teve só a ver com isso, mas ajudou a melhorar a minha percepção sobre a jogabilidade. Vai melhorando com o tempo.
Daí em diante lá me fui habituando a um estilo de maior simulação, bastante diferente daquilo a que estava habituado em Top Spin 2K25. Não é que um seja um simulador e o outro totalmente arcade, nada disso, mas em comparação, TIEBREAK apresenta geralmente pontos mais curtos e com erros não forçados mais comuns, tal como podemos assistir nos jogos que vemos na TV.
Os novatos vão passar por algumas dificuldades para ultrapassar as barreiras impostas pelo próprio jogo. Pouco intuitivo na hora de passar a bola para o outro lado da rede, a maior adaptação que vão ter de fazer é por causa de um sistema de gatilhos que permite que o vosso tenista faça movimentos com maior precisão. Em vez do habitual carregar num único botão, tal como acontece na grande maioria dos jogos de ténis, desde que me lembro, onde cada botão corresponde a um tipo de pancada na bola, como o top spin, o slice, o chapéu ou o chamado forehand, aqui terão de acrescentar os tais gatilhos.
A pancada certeira requer colocação, força que não seja demasiada e balanço. É preciso ficar a carregar num dos botões para batermos com mais impacto na bola e não se podem esquecer de uma boa colocação no court. Nem sempre é fácil pela velocidade que cada pancada tem, principalmente se o nosso adversário apanhar a bola a jeito. Não raras vezes levamos com aces nos serviços ou com bolas que nem as conseguimos ver bem, tal é a sua potência.
Com algum hábito, lá acabamos por perceber como funciona a jogabilidade deste TIEBREAK e a importância que os gatilhos têm, não só para correr no L2 para a esquerda, ou no R2 para a direita, mas também para posicionar o corpo de uma determinada forma, para conseguir dar pancadas mais fortes e eficazes. Vão percebendo qual a melhor maneira de o fazer e qual o timing certo para as dar, mas o que isto provoca à vista, são movimentações inusitadas e estapafúrdias, quer no ataque à bola, quer na reação da IA adversária. Parece que bloqueiam e não sabem bem como reagir em determinada situação. Para quem está a jogar ou mesmo a ver, acaba por ser estranho alguns tipos de movimento que assistimos. Ora se viram para outro lado que não interessa, ora correm já depois do ponto ter terminado e por aí fora… Isto muda um pouco quando já sabemos jogar melhor porque já sabemos a colocação certa e que pancada devemos dar na bola.
Há também algumas animações estranhas ao longo da partida. É certo que podemos reagir bem ou mal a cada ponto, mas antes de o fazer parece que há quase sempre um bug de posicionamento dos nossos jogadores. Outra coisa muito estranha é o facto de num ponto ganho, quando a bola bate na rede e passa para o campo adversário, é normal pedir-se desculpa, mas TIEBREAK ignora isso e chega a ter festejos demasiado exorbitantes para um ponto ganho naquela situação.
Em contrapartida a isso, cada atleta está bem representado no que toca aos seus movimentos e tics próprios. Nadal, por exemplo, no seu serviço faz aquele ritual de passar com os dedos na cara antes de servir, o que acaba por dar alguma imersão à partida. A ajudar a isso, também gosto da moeda ao ar com cara ou coroa no início de cada partida, para escolhermos entre campo ou serviço. Não é daquelas coisas que mude um jogo, mas cria uma maior envolvência.
A IA parece ir-se habituando à nossa maneira de jogar, mas também me parece condenada à repetição de jogadas para nos ganhar os pontos. Sobre o nível de dificuldade que podem jogar, vai desde o mais fácil ao especialista, o que me parece bastante satisfatório. Fico apenas com o receio que se torne demasiado previsível, uma vez que evolui rapidamente nos níveis de dificuldade que fui impondo a mim mesmo.
Ainda dentro do court senti falta de um público mais vivo e com mais distrações nas arenas demasiado simplistas ou de uma rede mais realista, já que a que divide o campo parece de ferro, dando a sensação de maior peso em relação aquilo que devia ter. Outra das coisas que não gosto no jogo é a ausência de jogabilidade associada ao piso. Pareceu-me exatamente igual jogar em terra batida ou em pavilhão. Talvez no futuro isso possa mudar.
Voltando ao lado de fora do court, existem vários modos de jogo. Além do tradicional jogar agora, onde podemos fazer jogos amigáveis contra os nossos amigos ou contra o CPU, jogar partidas de duplas ou até colocar alguém a jogar e simplesmente ficar a ver. Existe um modo muito interessante que é o Djokovic Slam Challenge, onde percorremos 25 encontros históricos de Novak Djokovic desde 2008, até aos Jogos Olímpicos de 2024, onde o sérvio venceu a medalha de ouro.
Cada jogo é um desafio que nos dá um enquadramento histórico e um resultado específico, onde a partir daí é connosco. Há objetivos principais para cumprir, onde ganhar é o que mais importa, mas há ainda umas motivações extra com objetivos adicionais do género: não perder nenhum set, ou ganhar uma partida com uma pancada específica. Gostei bastante deste modo até porque os movimentos de Djokovic são muito idênticos aos que vemos na realidade.
O online também cá mora com partidas amigáveis ou torneios com duração específica até certa data em que os jogadores podem ir jogando para subir no ranking. A boa notícia é que existe crossplay e podemos encontrar jogadores de todas as plataformas para jogar, a má é que o ping das partidas que joguei nunca foi muito estável, o que me estragou um bocado a experiência.
O que também não podia faltar neste TIEBREAK é o tradicional modo carreira, no qual podemos jogar com um atleta oficial dos circuitos ou optar por criar o nosso próprio jogador. Na primeira opção temos logo acesso aos torneios de maior renome e permite-nos lutar pelo lugar mais alto do ranking em pouco tempo, mas a nossa evolução está feita e os nossos atributos não vão mudar muito, para não dizer nada. Na minha primeira vez escolhi a Madison Keys do WTA, atual número 14 no ranking, mas o facto de já ser uma atleta feita, retira algumas das coisas boas que este modo carreira tem para oferecer. É certo que tinha na mesma acesso aos patrocinadores com propostas que iam chegando, mas não tive as dificuldades iniciais que vão encontrar com um jogador criado.
Por isso mesmo decidi criar um atleta, no caso, eu próprio, como tenista virtual, já que na vida real não jogo lá muito bem. Somos recebidos com algumas cutscenes, onde estamos a assistir a um jogo importante num dos Masters. Isto cria uma maior história e envolvência com a nossa própria carreira que queremos construir. Depois podemos escolher o nosso estilo de jogo, se é mais de contra-ataque ou mais de dominador com pancadas fortes por exemplo. Vamos ter de responder a jornalistas em conferências de imprensa, lidar com as notícias que dão conta do nosso sucesso ou insucesso e claro, subir no ranking mundial, onde existem 1000 jogadores. Já vos disse que mais de 60 são originais, e os restantes são genéricos, se bem que podem criar e depois adicioná-los nos torneios.
À medida que subimos então no ranking, vamos ganhando mais reputação em torneios e vamos ter acesso a patrocinadores que podemos escolher conforme o que for mais vantajoso para nós. A nossa agenda é feita por semanas e podemos escolher em que torneios queremos participar, desde que tenhamos reputação para tal. O modelo desses torneios são idênticos aos da realidade e teremos de passar várias rondas até chegar aos quartos de final, por exemplo. Não existem grandes componentes de treino para fazer, é a jogar em cada encontro que se pode evoluir o nosso tenista, ir contratando treinadores, nutricionistas, melhores transportes para não nos cansarmos tanto nas viagens, entre uma data de outras coisas que estão presentes neste modo bastante completo.
A minha crítica aqui vai para dois pontos, a primeira são os menus pouco intuitivos e a falta de informação que temos em relação ao cansaço que vai gerar uma ida a um torneio. Outro aspeto que deixa a desejar é que o jogo apesar de estar traduzido em grande parte, há coisas que continuam em inglês, sejam textos, notícias ou frases aleatórias nos menus. Parece que está aqui algo ainda por acabar.
Para terminar, uma palavra para o grafismo deste jogo, que me deixa a desejar, tal como Top Spin já me tinha deixado. Para uma geração capaz de criar gráficos muito competentes, é uma pena vermos que tal não está a ser aproveitado nestes novos jogos de ténis. Talvez a limitação se deva com o facto dos jogos ainda saírem para as gerações anteriores, mas mesmo assim, não devia ser desculpa.
Sei que se estão a perguntar, mas TIEBREAK é melhor ou pior que Top Spin 2K25? E mesmo não querendo comparar eu digo-vos que depende do que quiserem e do que gostarem mais. Lembra-me quando era mais novo e jogava PES pela jogabilidade, mas queria ter o FIFA por causa das licenças. Aqui é um bocado isso, eu prefiro a jogabilidade do Top Spin, mas queria tê-la com o conteúdo de TIEBREAK, nomeadamente as licenças, o modo carreira e os desafios do Djokovic. Portanto considero que ambas são soluções válidas para um jogador fã de jogos de ténis em que nenhum é perfeito, mas também nenhum é mau.
TIEBREAK tem enorme potencial para crescer e subir posições no ranking. Com o selo oficial do ATP e do WTA, consegue um winner com o conteúdo que oferece para ficar entretido durante horas a fio. Desde um modo carreira bastante competente e um modo de desafios especiais em jeito de homenagem a Djokovic, há muito para explorar. No entanto, comete alguns erros não forçados na jogabilidade e por vezes o melhor é mesmo mandar a raquete ao chão. A esperança é de que a Big Ant Studio não deixe de lado o jogo e continue a lançar melhorias como tem acontecido desde o início do Early Acess. Se assim for, o jogo tem tudo para se tornar o melhor jogo de ténis da atualidade. Para já, divide o reinado com o seu “adversário”.