Developer: Saber Interactive
Plataforma: PS5, Xbox Series X|S, PC
Data de Lançamento: 20 de Maio de 2025
Há um conjunto de jogos que se preocupam em fazer passar um sentimento de condução real, com base na física em determinados terrenos e nisso a Saber Interactive tem conseguido especializar-se cada vez mais. Podia até recuar mais anos, aos tempos de Spintires, mas a verdade é que a consolidação deste tipo de jogo no mercado e numa certa comunidade de jogadores começou a ganhar corpo desde MudRunner, lançado em 2017.
Seguiu-se SnowRunner, que nos levou a ser camionistas na neve e já o ano passado chegou Expeditions: A MudRunner Game, um misto entre os dois últimos, mas sempre com a bandeira de ser fiel à simulação de condução de veículos em terrenos complicados. É neste contexto que aparece agora RoadCraft, que com o conceito anterior, nos coloca no papel de construtores e gestores de uma empresa capaz de reconstruir zonas que foram afetadas por catástrofes naturais.
Começamos exatamente pela criação da nossa empresa, dar-lhe um nome e ir aprendendo aos poucos o processo de condução, construção de estradas, novos caminhos, pontes, entre outras coisas. Partimos de processos simples, para outros mais complicados o que dá uma boa margem a novos jogadores que nunca tinham jogado este tipo de jogo. Se já o fizeram noutras alturas, a nível de condução as coisas não mudam assim tanto.
Vão conduzir por terrenos lamacentos, onde as nossas rodas ficam atoladas e é necessário recorrer aos ganchos para nos “salvar” de situações dramáticas, por exemplo prendê-lo a uma árvore fazendo com que o nosso carro consiga sair de uma parte mais enlameada ou de águas mais profundas em zonas completamente alagadas. Vai ser preciso usar a tração às quatro rodas, saber usar o travão de mão, entre outras mecânicas que vamos aprendendo. Além disso, o novo motor dá ao jogo uma nova física presente em zonas arenosas, na água ou mesmo no asfalto, acabando por dar ainda mais uma sensação de realismo a RoadCraft quando comparamos com outros jogos deste tipo.
Os processos de construção são demorados e se no início andamos no nosso jipe a apalpar terreno e a perceber o que está mal em cada lugar, facilmente percebemos que iremos ter de passar para outros tratores capazes de levar tudo à frente. Começamos por limpar o lixo que impede a nossa construção, depois somos capazes de conduzir camiões com material para colocar a estrada operacional e ainda acabar em tratores a passar a areia para um camião, como vemos muitas vezes nas obras reais. Isto está muito bem feito e replicado e passa-nos a sensação de estarmos mesmo no local a reconstruir uma zona completamente devastada por inundações, terramotos ou tempestades de areia.
Podemos pensar que isto se torna chato e é sempre igual, mas a verdade é que não é. Primeiro porque existem oito mapas para completar e cada um com as suas características de terreno. Vamos passar por florestas, montanhas e desertos, onde cada uma dessas zonas têm missões específicas principais que nos obrigam a seguir a história, mas também alguns objetivos secundários para recuperar totalmente as zonas e colocá-las a brilhar como antes.
À medida que passamos essas missões, vamos ganhando reputação e dinheiro que será fundamental para ir conseguindo mais equipamento e novos veículos que nos ajudam nos processos de reconstrução. Não pensem que temos de levar tudo de um lado para o outro sem ajuda, pelo contrário, RoadCraft aposta num formato que gostei. É aqui que entra a parte de gestão em que há missões de apoio logístico fundamentais para gerirmos os nossos recursos e materiais que vamos acumulando e encontrando pelo mapa.
Podemos reciclá-los e desenhar caminhos entre zonas para serem transportados de forma automática por camiões, basta ir colocando pontos de passagem no mapa. Não se esqueçam é de ter a certeza que essas são zonas em que se consegue passar, caso contrário os camiões vão ficar presos no caminho sem conseguir avançar, fazendo com que os objetivos não sejam concluídos ou com que a carga fique retida num determinado lugar.
Os veículos assumem um papel preponderante na experiência de jogar. Há mais de 40 para explorar e cada um tem a sua especificidade e dificuldade de condução. Desde os “Dozers” que levam tudo à frente, até aos “Cranes” que têm um guindaste fundamental para transportar, não só materiais de um lado para o outro, como para ajudar um veículo a sair de um caminho que se revelou apertado. Teremos de operar gruas e veículos que são autênticos “limpa tudo” para nos ajudar a varrer zonas cheias de lixo ou cobertas de areia. O sistema de mapa, permite ter uma visão geral em que podemos mudar facilmente de veículo, desde que já seja nosso. Isto permite alinhavar processos e levar qualquer um deles para a obra que estamos a fazer no momento.
Para concluir uma estrada, por exemplo, geralmente são necessários quatro tipos de veículo. Um camião de caixa aberta atrás para colocar a areia, uma escavadora para nivelar a área, uma máquina pavimentadora para despejar o asfalto quente e terminar com uma máquina de rolo para consolidar o piso. Podemos fazer isto tudo sozinhos, mas tal como nos jogos anteriores, RoadCraft permite jogar online até quatro jogadores, tornando os processos mais rápidos e eficazes. Gostava de ter tido oportunidade de jogar mais tempo online, mas infelizmente, talvez por estar a jogar numa fase em que o jogo ainda não tem muitos jogadores online, encontrar uma sessão de jogo foi uma experiência penosa. Acredito que funcione como os anteriores, às mil maravilhas e em que podemos ter sessões privadas com amigos ou públicas com outros jogadores. É possível jogar com utilizadores de diferentes plataformas o que irá alargar as hipóteses de ter ajuda e tornar o jogo mais divertido em grupo.
Mas a reconstrução vai para além das estradas. Teremos de renovar a rede elétrica, condutas de passagem de água, construir pontes para chegar a caminhos inacessíveis e limpar algumas árvores para ajudar a criar passagens seguras e funcionais para cada zona. Cada uma destas missões têm o seu encanto e acreditem que quando conseguimos fazê-las, o grau de satisfação é muito. Preparem-se para deixar cair materiais que não deviam, quase estragar uma obra inteira ou ficar frustrados por usarem as máquinas no manual e não responderem como queríamos. Felizmente existe o processo automático que nos ajuda e muito a manobrar algumas máquinas que parecem, à primeira vista, mais complicadas.
Com tudo isto e associando os mapas relativamente grandes, mais a variedade de veículos, RoadCraft pode ser jogado durante largas dezenas de horas sem que o acabemos por completo. Se quiserem completar tudo terão mais de 100 horas garantidamente, dependendo se o fazem sozinhos ou acompanhados. Agregando ainda a parte da realidade física ao grafismo, estamos perante um jogo muito interessante a esse nível. Boas imagens de edifícios destruídos e a excelente recriação de cada máquina são pontos a favor de um jogo que se foca no realismo.
O pior para mim foi o uso da câmera em que se vê o veículo por fora, porque volta e meia perdemos o controlo da mesma e faz com que alguns erros de condução sejam cometidos. Podem sempre jogar na perspectiva do interior do veículo, mas eu não sou muito bom nisso e então prefiro ver de fora. É tudo uma questão de hábito e lá me fui conseguindo orientar. Não me posso esquecer também da parte de costumização da nossa frota. Eu não sou o maior entusiasta no que toca a modificar veículos, mas ainda há algumas opções para quem quiser passar o seu tempo a editar.
RoadCraft oferece aos jogadores uma excelente sensação de condução, quer seja na física usada em terrenos complicados, quer seja na operação de máquinas para concluir uma obra. Junta ao processo um sistema de gestão que automatiza os nossos armazéns de materiais e tem conteúdo que dura e dura até que nos fartemos por completo. Os fãs do género MudRunner têm aqui mais um belo jogo e os iniciantes podem ver nele uma porta de entrada divertida para depois explorar outras hipóteses.