Developer: Illusion Ray Studio, Ultimate Games
Plataforma: Nintendo Switch
Data de Lançamento: 30 de outubro de 2024
Originalmente lançado para o PC, The Beast Inside chegou à Nintendo Switch, trazendo a promessa de um jogo de terror psicológico e mistério que mistura dois períodos históricos distintos. A versão de consola da Nintendo destaca-se pela forma como equilibra a jogabilidade e o grafismo, sem comprometer a experiência que se espera neste tipo de jogos.
A narrativa, que é sem dúvida um dos pilares do jogo, explora dois períodos: a década de 1970 e o século XIX. É através dessas duas linhas temporais entrelaçadas que mergulhamos nos seus mistérios e numa casa isolada marcada por segredos sombrios.
O jogo começa connosco a assumirmos o papel de Adam Stevenson, um criptógrafo da CIA em 1979, que se muda para uma casa isolada com a sua esposa, Emma. A mudança tem como objetivo escapar à agitação da vida urbana e concentrar-se no trabalho de decifração de códigos para o governo. A decisão de viver nesta propriedade é motivada pelo desejo de começar uma nova fase da vida, mas também por o próprio ter medo de que espiões soviéticos possam estar a vigiá-lo.
Logo após a chegada, Adam encontra um diário antigo pertencente a Nicolas Hyde, um homem do século XIX que também viveu na mesma casa. À medida que lê as páginas do diário, Adam começa a descobrir que a casa tem uma história perturbadora, com eventos paranormais e sinais de algo mais nefasto à espreita. Ao mesmo tempo, coisas inconcebíveis começam a acontecer: objetos a mexerem-se sozinhos, sombras inexplicáveis, e até indícios de que alguém ou algo está a observá-lo. Conforme vamos avançando, Adam começa a por diversas coisas em causa e até a questionar a sua própria sanidade.
A segunda linha temporal apresenta Nicholas Hyde, e é contada através de flashbacks no diário, onde ficamos a conhecer um homem que vive um tormento psicológico bastante intenso. A sua infância é marcada por eventos abusivos e traumáticos que moldaram a sua visão do mundo, mostrando a crescente desconexão da realidade. É fácil perceber que Nicholas é um protagonista complexo, cuja sanidade é constantemente colocada em causa à medida que enfrentamos os seus demónios interiores.
Os capítulos onde jogamos com Nicholas são mais intensos e aqueles onde o terror psicológico mais aparece, contrastando com os momentos de investigação. Através da sua perspectiva, vamos descobrir os vários segredos da casa e dos terrenos circundantes, incluindo uma estalagem próxima e uma mina, ambas com passados macabros.
As duas histórias estão intrinsecamente ligadas, e é um dos pontos fortes do jogo, já que é através da descoberta do diário de Nicolas que Adam vai desvendando os segredos da casa. Embora os dois protagonistas não interajam entre si, é fácil perceber que a história de um afeta diretamente o destino do outro, criando um ciclo de mistério que nos prende até ao fim. A natureza do mal que assombra a casa e a ligação com o passado de Nicolas são revelações que mantêm a tensão elevada em grande parte dos momentos.
Em termos de jogabilidade, é um jogo de terror na primeira pessoa focado na exploração e resolução de puzzles. A mecânica de explorar a casa e os arredores está bem implementada, com detalhes no ambiente que ajudam a criar uma atmosfera opressiva. A introdução de alguns recursos da Nintendo Switch foram feitos de forma inteligente, como a possiblidade de usar o touch screen da consola quando estamos a jogar em modo portátil.
A jogabilidade de Adam está muito focada na investigação, exploração e decifração de códigos, enquanto as secções de Nicolas são mais focadas em experiências de terror psicológico, onde teremos de lidar com visões perturbadoras e eventos sobrenaturais. É muito interessante termos estas duas perspectivas na mesma casa, oferecendo um contraste de jogabilidade, que torna The Beast Inside uma experiência diferente de outros jogos do mesmo género.
Os puzzles estão bem desenhados e, embora simples, exigem atenção a certos detalhes, especialmente no que diz respeito ao uso do diário de Nicolas e dos objetos espalhados pela casa. A necessidade de procurar no ambiente para descobrir pistas e resolver enigmas é uma das características que mais contribui para o sentimento de imersão.
Em relação à performance, a versão para a Nintendo Switch apresenta algumas limitações gráficas devido às exigências visuais do jogo. As texturas foram simplificadas e a iluminação é menos detalhada em comparação com outras plataformas. Ainda assim, o jogo consegue manter uma atmosfera imersiva, sem perder o mais importante e que é esperado de um jogo focado no terror psicológico.
No modo portátil, o jogo disfarça melhor as texturas mais simples, enquanto no modo dock, a menor resolução é mais evidente. Apesar disso, a otimização do port garante uma experiência fluída na maior parte do tempo, embora em algumas cenas mais intensas, especialmente durante os momentos de maior ação ou terror, existam ligeiras quedas de desempenho. Estas falhas não comprometem o jogo, mas são notáveis em alguns pontos.
É importante mencionar que mesmo com estas limitações, os cenários continuam a transmitir uma atmosfera de constante tensão, como é o caso da sensação de isolamento, a casa ter aqueles lugares mais escuros e até as florestas sombrias e os túneis subterrâneos causarem-nos sempre aquela sensação de insegurança.
A componente sonora, que é parte essencial num jogo de terror, é um dos seus maiores trunfos. A banda sonora, é composta por uma série de músicas inquietantes e impactantes nos diversos momentos do jogo, contribuindo de forma significativa para a imersão. Os efeitos sonoros, como o ranger das tábuas, portas que se abrem sozinhas, e os murmúrios distantes, ajudam a construir uma tensão crescente, essencial num jogo de terror psicológico.
Outro ponto interessante é que conforme avançamos, o áudio ajuda a aumentar todas as sensações, exemplo disso é a paranoia de Adam. Diria que, neste caso, o áudio é mesmo um aliado indispensável para a construção da atmosfera aterradora. O som é eficaz ao criar momentos de grande impacto e de perigo, e isso é gratificante.
The Beast Inside na Nintendo Switch é uma adaptação sólida de um ótimo jogo de terror psicológico. E, apesar de esta versão apresentar algumas limitações gráficas, o desempenho e a imersão não são comprometidos. A narrativa bem estruturada, com os seus mistérios e reviravoltas, e a atmosfera tensa, continuam a ser os maiores atrativos, garantindo uma experiência de terror eficaz. Se são fãs deste género, e esta é a vossa plataforma de eleição, então vale a pena jogá-lo.