Developer: Naughty Dog
Plataforma: PC
Data de Lançamento: 3 de abril de 2025

Se existe jogo capaz de gerar polémica e sentimentos contraditórios, é The Last of Us Parte 2. Bem sei que existe uma boa franja de jogadores em que a obra da Naughty Dog é a ultima Coca-Cola no deserto, mas fica o aviso desde já que a minha visão é bastante mais equilibrada – embora não deixe de reconhecer que grande parte da experiência é verdadeiramente incrível.

Lançado em 2020 como um exclusivo para a PlayStation 4, o jogo chegou à PlayStation 5 o ano passado e, agora, estreia-se também no PC. The Last of Us Parte 2 Remastered é, acima de tudo, uma versão com gráficos melhorados, com conteúdos mais optimizados e com novos modos de jogo, que prolongam novas experiências e mais horas de jogo.

Quando os jogos foram lançados, tivemos a oportunidade de os analisar, seja a parte da história e jogabilidade com a análise de The Last of Us Parte 2, mas também as novidades introduzidas em The Last of Us Parte 2 Remastered. Ainda que essas análises não tenham sido escritas por mim — e nem sempre concorde com tudo o que nelas se diz —, são bastante completas e detalhadas, oferecendo um retrato fidedigno do que podem esperar. Assim, esta análise servirá como um resumo geral de todo o conteúdo e experiência que vão encontrar, focando-se na experiência vivida no PC, tal como o seu desempenho e funcionalidades.

A história dá continuidade direta ao primeiro jogo. Passaram-se alguns anos, e Ellie tem agora 19 anos, já é uma jovem adulta, e vive numa colónia em Jackson, Wyoming. A sua relação com Joel está longe de ser a mesma, e percebe-se bem a distância entre os dois principais protagonistas do primeiro jogo. A razão para isso é clara: Ellie cresceu e percebeu que, muito provavelmente, Joel lhe mentiu sobre os eventos do final do primeiro jogo.

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O jogo começa exatamente a focar-se nesse ponto, com Joel a revelar ao seu irmão Tommy o que aconteceu no fim do primeiro jogo. Para salvar Ellie, ele impediu que a humanidade tivesse uma cura para o flagelo que devastou o mundo e, para isso, matou o único médico capaz de encontrar essa cura. Este é um ponto essencial para compreender-se o desenrolar da história. Esse médico tinha uma filha praticamente com a mesma idade que Ellie – Abby Anderson – que, movida pelo desejo de vingança, decide procurar quem matou o seu pai e fazer justiça pelas próprias mãos.

A partir daí, o jogo tenta elucidar-nos como a comunidade onde Joel e Ellie estão enquadrados, tentando viver uma vida em sociedade, de maneira relativamente feliz, dadas as circunstâncias do mundo em ruínas. Eles realizam patrulhas ao redor da colónia para garantir a segurança, o que nos mostra que, dentro do possível, a sociedade está a tentar reconstruir-se. Observamos crianças a brincar, momentos de alegria, o que sugere que, mesmo nestes tempos difíceis, a humanidade tenta sempre voltar à “normalidade”.

No que diz respeito a Ellie, ela já tem uma relação com outra jovem e vive os típicos dilemas dos jovens adultos, com a dinâmica entre amigos a ser uma parte importante da sua jornada. Esse início de jogo estabelece laços e mostra como, apesar das adversidades, a amizade continua a ser essencial para termos força de vontade para continuar a viver.

Em contraste, temos Abby, que ao longo da sua juventude se dedicou inteiramente à vingança pela morte do pai. Isso é evidente não só no seu físico, que reflete o corpo de uma soldada bem treinada, mas também na sua atitude. Ela, juntamente com um grupo de amigos e aliados da WLF (Washington Liberation Front), procuram implacavelmente o homem que matou o seu pai.

A primeira hora de jogo serve para mostrar tudo isto que relatei, ou seja, voltar a relembrar-nos os comandos do jogo, e também mostrar um evento crucial que muda o rumo do jogo de forma verdadeiramente impactante. Depois desse acontecimento, Ellie e a sua namorada Dina, partem para Seattle, onde uma série de eventos irão revelar-nos uma história de ódio, vingança e loucura. Durante o jogo, teremos sequências em que jogamos com Ellie e outras com Abby, oferecendo uma visão mais ampla e complexa dos acontecimentos.

Além disso, continuamos a ter a fórmula habitual de sobrevivência que caracteriza a série, com ameaças constantes, tanto de grupos humanos hostis quanto de infectados. Contudo, o mais marcante é a carga emocional que permeia a história. O que nos é apresentado pode muitas vezes causar algum choque ou mesmo ser polémico, mas é também profundamente complexo, fazendo-nos questionar constantemente o que é certo ou errado.

Mas nem tudo é perfeito, – e aqui já entra uma opinião mais pessoal – mesmo com uma história incrivelmente envolvente, não posso deixar de me lembrar de uma frase que a minha mãe costumava dizer: “Tudo o que é demais não presta.” The Last of Us Parte 2 peca, a meu ver, ao forçar certos temas de forma excessiva e, o final, apesar de ser ousado, acaba por decepcionar, ou se preferirem não fazer o mínimo sentido, rivalizando, por exemplo, com a decepção que foi a sétima temporada de Game of Thrones.

Com o lançamento da versão remasterizada de The Last of Us Parte 2, foram introduzidos novos modos de jogo, começando pelo Lost Levels. Este modo inclui segmentos de níveis que acabaram por ser cortados da versão final do jogo. Antes de cada um, o diretor Neil Druckmann explica as razões por trás dessas decisões e quais eram os objetivos originais, assim como dentro dos próprios níveis, temos locais onde os produtores do jogo vão descrevendo a ideia deles e porque aqueles segmentos estavam construídos daquela maneira.

Ao todo, temos três pequenos segmentos, cada um jogável em poucos minutos. O primeiro, Festa em Jackson, pretendia a uma fase inicial do jogo e pretendia mostrar o ambiente social da colónia e aprofundar o início da relação entre Ellie e Dina. O segundo, O Esgoto de Seattle, estaria diretamente ligado a uma fase intermédia do jogo onde Ellie cairia de uma janela, acabando num esgoto, e teria de encontrar a sua saída. Por fim, A Caçada que nos coloca no encalço de um javali, tentando destacar o estado emocional perturbado de Ellie.

Apesar de curtos, estes segmentos oferecem uma visão interessante sobre as ideias originais dos produtores — algo que raramente temos a oportunidade de explorar nos jogos.

Outro modo que promete agradar aos jogadores e prolongar a longevidade do jogo é Sem Regresso, um roguelike que combina elementos da campanha com desafios. O objectivo será irmos enfrentamos ondas de inimigos em cenários ligados ao jogo, recolhendo recursos pelo caminho, e melhorando as características das armas ou da personagem que estamos a jogar, conforme vamos progredindo de nível para nível. Os desafios são variados e exigem diferentes abordagens, incluindo resistência, caça e combate.

Inicialmente, apenas Ellie e Abby estão disponíveis, mas, ao cumprir certos objetivos, novas personagens são desbloqueadas. Diria que o sistema está desenvolvido de maneira a encorajar a experimentação, permitindo jogar com uma grande variedade de personagens, cada uma com habilidades únicas que se adaptam a diferentes estilos de jogo. Além disso, permite-nos jogar com uma variedade imensa de personagens nunca antes possíveis em nenhum The Last of Us.

Além dos novos modos, a versão remasterizada traz adições interessantes. Agora é possível personalizar as roupas das personagens, escolhendo os outfits que combinam com as nossas preferências. Também foi expandida a funcionalidade de tocar viola, que agora pode ser utilizada fora do modo história. E, certamente, para felicidade de mitos jogadores, é possível desbloquear diferentes instrumentos, cenários e personagens para tocar — embora, sejamos honestos, não seja nada fácil dominar o sistema (pelo menos, eu nunca consegui adaptar-me).

Por fim, foram adicionadas várias opções de acessibilidade que permitem modificar profundamente a jogabilidade. Desde impedir que reféns se soltem, reduzir a oscilação das armas, ou até diminuir a velocidade do jogo em tempo real com um simples botão. Há uma grande variedade de ajustes para melhorar a experiência, dando assim a possibilidade de qualquer jogador ter a oportunidade de finalizar. Esta versão inclui também conteúdos extra, como trailers e o podcast oficial do jogo, dando um vislumbre dos bastidores do seu desenvolvimento.

Em termos de jogabilidade, The Last of Us Parte 2 Remastered continua a ser uma experiência incrível. O jogo é extremamente fluido e responsivo, com um desempenho consistente em todos os momentos. Uma das características mais marcantes da franquia sempre foi a ambientação detalhada, com objetos estrategicamente colocados que podem cair ou fazer barulho ao interagir com eles — um detalhe fundamental na componente furtiva do jogo.

Além da exploração essencial para obtermos recursos, há muitos momentos em que a furtividade é a nossa melhor aliada. Atacar inimigos por trás, realizar eliminações sem que ninguém perceba ou simplesmente escapar sem ser notado são mecânicas bem desenvolvidas e essenciais durante todo o jogo.

No entanto, um ponto que poderia ter sido melhorado — e que também mencionei na análise do remake de The Last of Us Parte 1 — é a inteligência artificial. Os inimigos, por vezes, têm comportamentos incoerentes, ignorando barulhos óbvios que denunciam a nossa presença, seguindo rotas previsíveis ou vindo pelo mesmo caminho repetidamente, tornando-os alvos fáceis de eliminar.

O jogo pode ser jogado com teclado e rato ou com um comando, e aqui o DualSense merece destaque, pois torna a experiência ainda mais imersiva graças às suas funcionalidades, quer seja o feedback háptico, o áudio a sair pelo comando, como os gatilhos adaptativos.

Em termos gráficos, o jogo é impressionante desde os primeiros instantes. As texturas e os cenários são incrivelmente detalhados, e os modelos das personagens apresentam um nível de realismo impressionante. Um dos aspetos mais surpreendentes é a fidelidade na representação da pele — é possível ver poros, manchas e variações de tonalidade. O desgaste das roupas, a vegetação e os edifícios devastados também são extremamente bem trabalhados.

A iluminação é outro ponto essencial, especialmente num jogo que aposta na furtividade. Os efeitos de luz e sombras dinâmicas trazem um toque de realismo e naturalidade ao ambiente. A luz do sol a penetrar pelas frestas das janelas e construções abandonadas cria efeitos visuais incríveis, enquanto os reflexos em superfícies molhadas mostram um trabalho técnico como existem poucos.

A versão para PC traz algumas vantagens adicionais em relação à PlayStation 5. Uma das mais evidentes é o suporte para monitores ultrawide, permitindo um campo de visão muito mais amplo. Além disso, dependendo do modelo da placa gráfica utilizada, os jogadores podem tirar partido de tecnologias como NVIDIA DLSS 3, AMD FSR 3.1 e AMD FSR 4.0, que melhoram o desempenho quer com upscaling ou mesmo geração de frames.

Em termos de optimização, o jogo pareceu-me sempre a correr de maneira fluida, obviamente que isto também difere consoante a máquina que estiverem a usar, mas com alguns ajustes, certamente conseguem arranjar a configuração perfeita para conseguirem desfrutar dele de maneira fluida como merece ser jogado.

Quanto à qualidade sonora, esta é essencial neste jogo. Os efeitos sonoros são incrivelmente realistas: o som dos passos varia conforme o tipo de superfície, os ecos dos disparos ajustam-se ao ambiente, e os impactos dos combates transmitem uma brutalidade impressionante.

As armas possuem sons distintos tanto no manuseio como nos disparos, e o uso de silenciadores altera o som de maneira realista. Pequenos detalhes, como o som da chuva a bater nas diversas superfícies e até o ranger de portas antigas, ajudam a criar uma atmosfera envolvente e constantemente tensa.

A banda sonora também é simplesmente incrível. Cada música foi escolhida para aparecer no momento certo, sendo a maioria composta por guitarra clássica que intensifica as emoções da narrativa. Outro aspecto usado de forma brilhante também foi o silêncio — há momentos em que a ausência de música amplifica a sensação de solidão e desolação, tornando a experiência ainda mais impactante.

Outro aspeto que merece destaque e que não podia deixar de mencionar é o voice acting, que está simplesmente incrível. E isso não se aplica apenas à versão original em inglês — a dobragem em Português de Portugal também está excecionalmente bem feita. É difícil não mencionar alguns dos atores portugueses que deram voz a certas personagens, como Marcantonio Del Carlo (Joel), Joana Ribeiro (Ellie), Pedro Laginha (Tommy) e Joana Castro (Abby), entre muitos outros. Além da qualidade da dobragem, destacar que o jogo está completamente traduzido para Português de Portugal — um esforço que a PlayStation tem feito de forma impressionante na maioria dos seus exclusivos.

The Last of Us Parte 2 Remastered é o que podemos chamar de versão definitiva do jogo. Os jogadores do PC podem preparar-se para uma jogabilidade refinada, gráficos impressionantes e uma narrativa intensa e emocional que poucos jogos conseguem oferecer. Embora possamos não concordar com alguns acontecimentos na história, não há dúvidas, este é um jogo altamente recomendado e imperdível.

REVER GERAL
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Rui Gonçalves
Desde o tempo do seu Spectrum+2 128k que adora informática. Programador de profissão nunca deixou de lado os jogos, louco por RPGs e jogos de futebol. Adora filmes de acção e de ficção científica, mas depois de ver o Matrix nunca mais foi o mesmo.
analise-the-last-of-us-parte-2-remastered-pc<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Jogabilidade imprecionante</li> <li style="text-align: justify;">Graficamente incrível</li> <li style="text-align: justify;">O modo rogue lite Sem Regresso</li></ul> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Incorrência em alguns momentos da narrativa</li> <li style="text-align: justify;">A inteligência artificial ainda apresenta algumas falhas</li> </ul>