Developer: Cyanide Games, Nacon
Plataforma: PlayStation 4, Xbox One, PC
Data de Lançamento: 3 de Junho 2021
Depois de um ano de 2020 bastante atribulado no mundo do ciclismo, com as principais provas a serem disputadas fora do calendário habitual, esta é uma época em que as coisas estão a voltar à normalidade e que, como é óbvio, conta com mais uma edição do jogo Tour de France. Acredito que depois da prestação dos portugueses João Almeida e Rúben Guerreiro no Giro d’Itália do ano passado e até mesmo já na edição deste ano, haja mais gente a ver ciclismo com outros olhos e talvez esta seja uma oportunidade para desfrutarem de um jogo que retrata a competição numa vertente de simulação.
Tour de France 2021 segue na roda dos jogos anteriores e por isso não esperem grandes alterações de ritmo. Para quem nunca jogou, podem passar os olhos nas análises dos últimos anos a Tour de France 2019 e Tour de France 2020, mas de forma resumida digo-vos que o jogo recria aquilo que se passa na estrada em cada etapa de ciclismo, principalmente no Tour, onde vamos ter o percurso das etapas fielmente recriadas. Nós estamos no papel de um ciclista e da sua equipa, podendo até mudar para outro colega de equipa a meio ou dar ordens específicas aos restantes. Para gerir temos barras de energia, uma para o ritmo/cadência de pedalada, representado a azul e outra para os ataques, com a cor vermelha. Para gerir o esforço, além de não poder atacar à parva, só porque sim, temos ainda o abastecimento com um gel relativo a cada uma dessas duas barras de energia.
A nível de jogabilidade, Tour de France 2021 está praticamente igual ao anterior, com excepção de uma opção ou outra adicional que nos vai deixar decidir se certo ciclista está a lutar pela camisola amarela, pela verde ou por outra conquista qualquer. Isto dá à equipa uma maior autonomia para perceber o que fazer em certas situações de corrida quando decidimos avançar mais rapidamente as etapas. Quem já está habituado a estas andanças sabe que uma etapa não tem de ser jogada na totalidade, podemos avançar em modo rápido até zonas chave em que achamos que devemos ser nós a controlar os nossos ciclistas. Ainda assim, e para que não seja tudo tão automático, o melhor é darmos as ordens certas aos nossos companheiros de equipa, tais como: atacar, seguir ataques, impor ritmo elevado, trabalhar em conjunto para apanhar a fuga, preparar o sprint ou proteger um outro ciclista do vento principalmente. Isto é fundamental para ter um bom resultado no final da etapa ou da prova em que estamos inseridos. Podem estar descansados que a IA comporta-se lindamente de acordo com o que acontece no pelotão real. Preparem-se para grandes lutas pelo Tour entre Roglic e Pogacar e, quer escolham um, ou outro, não vão ter tarefa fácil. Podemos ainda jogar em modo cooperativo offline se tivermos alguém por perto.
A nível de modos de jogo a grande novidade é o modo My Tour, mas já lá vamos, porque o resto mantém-se igual. Podemos fazer uma simples etapa, jogar o Tour de France, o Critérium du Dauphiné, o Paris-Nice, ou até as clássicas Liège-Bastogne-Liège ou Paris-Roubaix. Ainda se podem aventurar nos campeonatos do mundo, de estrada e de contra-relógio. Além disso, o jogo tem também o seu modo de gestor de uma equipa no Pro Team, onde formamos um plantel com um orçamento limitado e tentamos levar a equipa às grandes competições, principalmente ao Tour, mas antes é preciso arrecadar os pontos necessários em corridas de menor dimensão. Idêntico a este modo de jogo é o Pro Leader, que é basicamente a mesma coisa que o modo Pro Team, mas aqui criamos o nosso ciclista que vai evoluir conforme os nossos resultados.
De resto, a grande novidade deste Tour de France 2021 é o modo My Tour que permite criar o nosso próprio evento, ou grande volta com tudo aquilo que quisermos, desde que seja com as etapas que temos disponíveis. Podemos fazer um Tour clássicas por exemplo, escolher os dias de descanso, a cor da camisola do líder e até tentar imitar um Giro ou uma Vuelta, com etapas de perfil parecido, uma vez que as que podemos escolher, são aquelas que já vêm no jogo. Ao todo temos 89 corridas para escolher, o que já é bastante bom. Dá também para definir o número de ciclistas por equipa e até escolher quem vai e quem fica de fora. Inclusive dá para ir buscar as lendas do ciclismo e até o nosso Joaquim Agostinho está lá, mas com um nome diferente, isto porque o jogo a nível de licenças perdeu terreno em relação ao ano passado. Felizmente existe um editor que nos deixa guardar em 3 diferentes slots, ou seja, podemos numa ter uma equipa lendária e noutra as equipas atuais com as nossas edições. Uma boa notícia é que a grande parte dos ciclistas têm o nome correto, mas não se livram de editar os elementos da equipa da Deceuninck – Quick-Step que vem com o nosso “Almeio”, em vez de Almeida, ou “Alaphilix”, em vez de Alaphillipe. Já deu para perceber.
A nível gráfico, Tour de France 2021 chega em modo fim de geração, com as texturas bastante iguais aos anos anteriores. Há bons pormenores em algumas etapas, como por exemplo a passagem na fronteira com a Andorra, onde se vê o posto fronteiriço e a placa a anunciar o pais. As caras dos ciclistas são todas iguais, ou seja, há uma genérica e depois é tudo a mesma pessoa, só muda o nome e as estatisticas, o que acaba por estragar bastante a experiência do jogo. Esta é uma edição que vai ter uma atualização para as consolas de nova geração, quer na PlayStation 5, quer na Xbox Series X|S e digo-vos que estou bastante curioso para ver se alguma coisa muda. Há sempre esperança.
Quanto ao interface, tudo na mesma, bem como os treinos que nos ensinam a jogar, embora falte aquela vertente mais tática que só se aprende a ver nas maratonas das provas reais. E sim, sou daqueles que é capaz de ver etapas completas na televisão. É uma pena o jogo não trazer comentários em português, nem a escolha de idioma nos menus, mas talvez seja um reflexo deste desporto no nosso país que, apesar de tudo, tem vindo a ganhar adeptos. Isto acaba por ser penoso para quem quer chegar aqui e aprender mais sobre como jogar. No reverso da medalha, se já são clientes habituais é extremamente simples e igual ao que já era. Como já tinha dito na análise do ano passado, considero muito complicado aceitar que os jogos de desporto se renovem ano após ano sem novidades de maior. Se é para ter o “mesmo jogo” que o façam com o lançamento de DLCs por exemplo, mas isso são outros quinhentos.
Tour de France 2021 é para quem gosta de ciclismo e ainda não tem nenhuma das versões anteriores. Continua fiel à realidade no que acontece na estrada e faz vibrar os adeptos mais fervorosos em subidas como o Mont Ventoux que são terríveis de aguentar. O modo My Tour vem limar uma das arestas que faltava, mas ainda há muito trabalho pela frente, quer na conquista de públicos menos ligados à modalidade, quer no aspeto dos ciclistas que deviam ter “personalidade” e caras reais, em vez de terem apenas um nome num pelotão onde todos são iguais. Agora toca a pedalar porque o Tour começa em 3,2,1…