Developer: Space Boat Studios
Plataforma: PC
Data de Lançamento: 12 de outubro de 2023
Nos recônditos virtuais do universo dos jogos, uma metamorfose criativa está a ganhar cada vez mais força e a transformar o panorama dos títulos independentes. Emergindo como uma força poderosa e inovadora, a simbiose entre jogos de sobrevivência e construção, até então distintos, cimenta o caminho de uma nova era no mercado de estúdios menores.
No meio desse renascimento, observamos uma ascensão notável dos jogos de sobrevivência, uma categoria que transcende as fronteiras convencionais, desafiando jogadores a prosperar em ambientes quase sempre hostis. No entanto, à medida que essa tendência se aprofunda, uma fusão gradual com elementos de construção e gestão tem alterado a paisagem do género.
O que surge é um subgénero híbrido, onde a narrativa da sobrevivência se entrelaça organicamente com a criatividade de construir e gerir recursos, proporcionando uma experiência de jogo rica e multifacetada. E neste cenário de inovação, testemunhamos a ascensão de obras independentes que desafiam as convenções e abraçam a originalidade.
São projetos que se desviam dos padrões mais conhecidos, e oferecem aos jogadores não apenas a luta pela existência, mas também a oportunidade de moldar activamente o mundo ao seu redor. À medida que os pilares da sobrevivência e da construção se misturam, o resultado é uma tapeçaria digital onde a experiência de jogo vai para além da mera conquista de objetivos.
Tribe: Primitive Builder é mais um desses casos. Desenvolvido pelo Space Boat Studios, tenta acrescentar algumas ideias ao género, criando uma jogabilidade ligeiramente diferente das demais. Também aqui, os elementos de sobrevivência, construção e gestão são fundamentais, mas com pequenas diferenças na execução que tornam boa parte desta experiência como algo quase inédito, na forma como se encaixa na narrativa.
O contexto da história é-nos apresentado através de uma breve narração do protagonista. E conta como a sua visão e o seu talento para construir leva a sua vila a prosperar. No entanto, a sua ambição e devoção é traída quando decide criar um altar em homenagem aos deuses, visto que um raio irrompe do céu causando uma enorme destruição. Como consequência é banido da ilha pelos seus semelhantes, e atirado ao mar para morrer, sendo depois resgatado e recebido por um pequeno grupo de exilados.
O jogo começa a partir desse mesmo momento, e as informações sobre as suas mecânicas ser-nos-ão transmitidas pelas pessoas desta povoação. Similarmente à esmagadora maioria de títulos de sobrevivência, podemos recolher objectos, como alimentos e outros itens essenciais para a sobrevivência. Todavia, o mais importante naquele momento – e os habitantes locais deixam isso bem claro – é provar a nossa utilidade.
Como seria de esperar de um jogo de sobrevivência, somos largados um pouco à nossa vida, e teremos de aprender algumas mecânicas sozinhos, o que pode ser um pouco frustrante porque nem sempre é claro. Para piorar, somos limitados pela Tribo naquilo que podemos construir, já que quase todos os edifícios estão bloqueados inicialmente, e só por intermédio do Ritual System é que poderão ser desbloqueados.
Nesse sentido, podem esperar um ritmo muito lento no começo, onde nos vamos sentir perdidos muitas vezes, e só depois é que o gameplay propriamente dito se abre. A parte boa é que poderemos construir uma nova vila praticamente pela raiz e é algo que se desenvolve com a narrativa naturalmente. Contudo, o sistema de progressão é claramente pouco intuitivo, tornando a experiência por vezes aborrecida, dando a sensação de que muitas coisas servem simplesmente para nos ocupar por mais tempo.
Os elementos de sobrevivência deveriam ser igualmente essenciais, mas ocasionalmente até nos esquecemos delas, e parecem não ter tanta importância como noutros títulos dentro do mesmo género. Se era para nos manterem entretidos com as mecânicas de construção, talvez tivesse sido mais fácil fazê-lo com as tarefas de sobrevivência, para não parecer tão forçado. Ainda assim, tem os seus momentos de diversão e consegue deixar-nos interessados.
Vamos poder participar em actividades como missões e apanhar os itens necessários para construir estruturas, caçar, pescar, e recolher outros alimentos para nos alimentarmos. E, eventualmente, chegaremos a um ponto em que vamos até poder automatizar a criação de materiais e outros tipos de produção, utilizando os recursos humanos da ilha. É um pormenor diferenciador em jogos semelhantes, e há que dizer que resulta, poupando algum tempo para tarefas mais repetitivas, e para as quais nem sempre temos grande paciência.
O sistema de construção em si, podia estar melhor executado, ou, pelo menos, mais prático. Quando queremos construir algo, podemos ver os materiais necessários, porém, não é listado tudo o que precisamos, e apenas a quantidade básica para as blueprints. Isso significa que não conseguimos saber exactamente o número de materiais que serão necessários, levando a que várias vezes tenhamos de parar a construção e ir à procura de mais matéria prima.
É daquelas coisas que, infelizmente, prejudicam toda a experiência, já que a mecânica de construção é a componente mais aliciante do jogo, e acabamos por andar mais vezes a procurar do que a construir. Além de que cada tribo tem seu próprio bioma e os seus próprios recursos, o que se por um lado vamos poder desbloquear novos ferramentas e estruturas, por outro, também teremos de efectuar constantes deslocações de maneira a gerirmos tudo como desejamos.
Graficamente está bastante aceitável. Não nos deslumbrará, como não seria de esperar tendo em conta que é um jogo de baixo orçamento, mas o que foi conseguido visualmente é um dos pontos positivos. A parte sonora está ao mesmo nível, com sons ambientes adequados à atmosfera, tornando a experiência mais credível.
Tribe: Primitive Builder tem os seus problemas, mas para quem gosta de títulos de sobrevivência poderá gostar de descobrir algumas mecânicas que são realmente únicas. Contudo, é difícil não ficar com sentimentos mistos.