Developer: Stoic Studio
Plataforma: PC
Data de Lançamento: 10 de setembro de 2024
A Stoic Studio, um nome bem conhecido no universo dos jogos indie, ganhou grande notoriedade com a trilogia The Banner Saga. Lançada entre 2014 e 2018, estes jogos destacaram-se pelo seu combate tático baseado por turnos, e com um grafismo bastante característico, além de uma narrativa envolvente.
Depois destes projetos, só voltámos a ouvir falar do estúdio em 2023, quanto anunciaram Towerborne, mostrando que o estúdio decidiu arriscar em algo novo, já que ao contrário dos jogos anteriores, este agora terá um modelo de live service. Permitindo assim criar um jogo com uma evolução contínua através de atualizações regulares e conteúdos novos.
Estamos a falar de um jogo narrativo estilo beat ‘em up cooperativo que irá necessitar de um suporte contínuo por parte do estúdio. Para isso, certamente a parceria com a Xbox Game Studio teve um peso importante na decisão da Stoic Studio de dar um passo diferente do habitual. Além de, certamente, o jogo vir a ter uma visibilidade bastante maior, em comparação com os seus jogos anteriores.
É importante também deixar claro que o jogo se encontra ainda em Early Access no Steam, o que permite, além de receber já algumas verbas com as compras dos jogadores, ter também o importante feedback por parte dos mesmos. Desde modo, têm a possibilidade de melhorar o jogo, fazer as alterações devidas e assim, ter um produto bastante estável e que agradará aos jogadores.
A história de Towerborne transporta os jogadores para um mundo devastado onde a humanidade se encontra em constante luta pela sobrevivência. O jogo inicia-se com uma bonita cutscene, onde mostra uma cidade a ser destruída por completo, com os sobreviventes a refugiaram-se numa imponente torre conhecida como a Belfry. Esta colossal torre funciona como o último bastião da civilização humana, abrigando a maioria da população restante e servindo como o centro da resistência contra as ameaças que assolam o mundo exterior.
O enredo do jogo anda à volta dos Aces, isto é, as personagens criadas pelos jogadores. Os Aces são espíritos que regressaram à vida com o objetivo de proteger a Belfry e enfrentar as criaturas monstruosas que andam pelas terras devastadas. A narrativa desenvolve-se enquanto os Aces tentam acabar com os perigos em volta da Belfry, e assim, aumentar os limites de segurança daquela zona, ao mesmo tempo que vão salvando alguma população que ainda não conseguiu chegar até Belfry.
Os Aces têm quatro classes com armas distintas, cada uma com seu próprio estilo e combos específicos, permitindo uma ampla variedade de abordagens durante as batalhas. Elas são:
- Sentinel: Usa uma espada e um escudo. O Sentinel é o tanque do grupo, ideal para proteger aliados e lidar com inimigos de forma equilibrada. Fazendo os jogadores usarem de forma interessante os ataques de espada e o escudo para a sua defesa.
- Pyroclast: Equipado com uma gigantesca moca de fogo, o Pyroclast tem um grande alcance e consegue fazer bons ataques de área, dando um dano bastante interessante. Sendo uma moca de fogo, consegue fazer ataques de fogo que causam danos substanciais, mas também podem incinerar grupos de inimigos, tornando-o ideal para combates com grande número de inimigos.
- Rockbreaker: Usando socos para atacar, esta classe é especializada em ataques rápidos, poderosos e eficazes para eliminar grupos de inimigos. As habilidades são projetadas para causar grandes quantidades de dano em pouco tempo.
- Shadowstriker: Bastante rápido com duas espadas nas mãos, o Shadowstriker destaca-se pela sua agilidade e velocidade. Com uma combinação de ataques rápidos e teletransporte, é ideal para quem prefere um estilo de combate mais ágil e evasivo.
Quanto ao combate, este é mais profundo do que a maioria dos beat ‘em ups tradicionais, já que adiciona uma variedade de combos que misturam ataques leves e pesados, saltos e habilidades especiais. Por outro lado, também é necessária alguma cautela na altura de fazer um ataque pesado ou uma habilidade que demore mais tempo, já que não é possível cancelar um ataque, o que por vezes pode fazer com que inimigos mais rápidos nos consigam acertar nesses momentos. O sistema de combos e a possibilidade de combinar movimentos com outros jogadores está muito interessante e adiciona uma camada estratégica ao jogo, diferenciando-o de outros títulos deste género.
Outro elemento que faz o jogo ser diferente dos habituais beat ‘em ups são os elementos de RPG de Towerborne. A progressão das classes é um dos principais aspectos, permitindo-nos evoluir as habilidades e fortalecer o nosso Ace ao longo do tempo. Cada classe tem o próprio caminho de progressão, com habilidades e combos que podem ser melhorados conforme avançamos no jogo.
O sistema de equipamentos também desempenha um papel crucial. Já que ao longo da aventura, como por exemplo nas missões, vamos encontrar diferentes peças de armas, assim como armaduras e armas, que têm níveis diferentes. Estes itens não só alteram as habilidades dos Aces, mas também podem ser personalizados com Aspects, que adicionam bónus e modificam as habilidades da personagem.
Belfry será a nossa base, e serve como centro de personalização e melhoramento dos Aces, sendo que podemos equipar e modificar o equipamento, bem como aceitar novas missões. A capacidade de personalizar completamente os Aces, desde a aparência até às habilidades, cria a sensação de conseguirmos colocar o nosso Ace de maneira a gostarmos mesmo do personagem e também a adaptar-se ao nosso estilo de jogo.
O sistema de exploração do jogo não é dos mais aprimorados, é baseado num mapa hexagonal, que oferece uma abordagem estruturada. Cada hexágono representa uma área que pode ser desbloqueada e explorada, oferecendo missões onde teremos diversas batalhas num sistema de side-scroll.
Embora o sistema hexagonal permita uma exploração metódica e estruturada, leva-nos a sentir uma certa monotonia e repetitividade, especialmente durante as missões mais simples que acontecem entre as batalhas principais. Algumas áreas são bastante idênticas, e quando jogamos sozinhos a sensação de monotonia torna-se ainda mais evidente. Falta claramente mais variedade, quer dos cenários, como também dos inimigos em áreas que estão perto uma das outras. No entanto, a possibilidade de jogar em cooperação com amigos ou outros jogadores ajuda bastante a mitigar essa repetitividade, tornando a exploração mais dinâmica e envolvente.
Antes de nos aprofundarmos no sistema de cooperação, é importante focarmo-nos no sistema de loot, que precisa definitivamente de ajustes. Embora cada Ace possa mudar de classe quando bem entende, é normal os jogadores focarem-se em uma ou duas para as melhorarem, tal como subirem-nas de nível e até focarem-se em melhores equipamentos para elas. E é exatamente aqui que consiste o problema, já que os itens que encontramos durante as missões são completamente aleatórios, e por vezes forçando-nos a fazer diversas missões, com a frustração de não sair um único item interessante para a classe que estamos a usar.
Outra mecânica que acredito que vá ser adicionada, mas ainda não existe, é um sistema de crafting para a criação de armas. Embora seja possível melhorar os equipamentos e as armas que temos, a verdade é que é impossível criar novos equipamentos, e num jogo como este é algo essencial, até para dar mais entusiasmo aos jogadores de quererem explorar os diversos locais do jogo.
Falando no sistema de cooperação, diria que a base que fará Towerborne ter sucesso é exatamente esta possibilidade. Da maneira que o jogo foi desenhado, parece implícito que esta é uma parte fundamental da experiência do jogo. E para isso, basta chegarmos a níveis mais desafiantes para perceber que é crucial a cooperação para ultrapassarmos diversos obstáculos, como também para explorar as áreas mais complexas do jogo. Até porque as classes de armas têm habilidades e combos que se complementam, permitindo criarmos estratégias com outros jogadores para maximizar a eficácia em combate.
Quando a quantidade de inimigos é bastante grande, ou temos um boss pela frente, a mecânica de combos também é mais eficaz em modo cooperativo. As combinações de ataques em sequência podem desferir danos enormes nos inimigos, e isso cria oportunidades para estratégias complexas e momentos de grande satisfação entre os membros da mesma equipa.
É também por o jogo ser muito melhor em modo cooperativo que apresenta uma enorme falha, ou seja, a impossibilidade de jogar com outros jogadores que não são nossos amigos. Sendo Belfry o “Hub Social”, seria normal ser este o local onde poderíamos interagir e até convidar outros jogadores para a nossa equipa, mas infelizmente isso não é possível. Diria mesmo que essa falta de comunicação com os outros jogadores estraga bastante a imersão de um jogo que deve funcionar como live service. Não existe um sistema de chat, não existe uma maneira de enviar convites diretamente a partir do hub, nem opção de trocar os itens que foram recebidos no final das missões entre jogadores. E isto são opções básicas para que um jogo deste género funcione e consiga ter sucesso.
Em termos gráficos estamos perante um jogo que adota um estilo visual cel-shaded em 3D, utilizando uma palete de cores vibrante e saturada que cria uma aparência visualmente atraente e única. A escolha do cel-shading contribui para uma sensação de profundidade e tridimensionalidade, mantendo um aspeto estilizado que lembra as animações tradicionais.
As animações são um dos pontos fortes do jogo. Os movimentos das personagens e os efeitos de combate são fluidos e bem elaborados, com animações que realçam a sensação de impacto e dinamismo durante as batalhas. O mesmo acontece com os inimigos, que apresentam ataques e até reações aos golpes recebidos, todos muito detalhados. O jogo ainda apresenta diferentes biomas e tipos de inimigos, cada um com a sua palete de cores característica, o que ajuda a criar um mundo visualmente interessante e estimulante.
A componente sonora desempenha um papel importante na construção da atmosfera do jogo. A banda sonora é composta por uma mistura de temas épicos e melodiosos que reforçam o ambiente de fantasia e aventura. As músicas são projetadas para acompanhar a intensidade das batalhas e o ritmo das explorações, criando uma experiência sonora que complementa bem o visual vibrante do jogo.
Os efeitos sonoros, por outro lado, são eficazes em destacar ações e eventos no jogo. Sons como os impactos dos ataques, os gritos dos inimigos e os efeitos ambientais são bem produzidos, no entanto, depois de uma horas a jogar, começamos a notar que falta alguma diversidade de certos efeitos, especialmente em batalhas prolongadas onde os mesmos sons podem tornar-se repetitivos.
Towerborne apresenta aspetos bem positivos, assim como algumas falhas significativas. o que é normal para um jogo em Early Access. Diria que é um passo em frente da Stoic Studio, aventurando-se em algo diferente do habitual e num modelo de live service que cada vez se vê mais no mercado. É um jogo que apresenta bastante potencial, mas que necessita bastante de feedback do público e de algumas melhorias no que tem para oferecer para não se tornar demasiado repetitivo. Além da componente cooperativa ter de ser melhorada em vários aspetos, entre ele uma maior interação entre jogadores quando estão em Belfry. É um jogo que vale a pena deixar debaixo de olho, para ver até onde consegue chegar.