Com o lançamento da primeira parte da Trilogia de Transformers – War For Cybertron: Siege, decidimos não só fazer uma análise desta série de desenhados animados da Netflix, mas recuar no tempo e recordar a série original, o seu percurso e os videojogos que a acompanharam.
Para quem ainda não viu ou desconhece a série da Netflix, basicamente trata-se de um reboot da série original de 1984, não podemos dizer que é um remake porque há muita coisa que foi alterada nesta história, mas também não podemos dizer que é uma nova série porque a lógica continua a ser a mesma da famosa série dos anos 80. Neste primeiro capítulo a acção centra-se em Cybertron, a terra natal dos Transformers que neste momento estão a ser liderados por Megatron, o líder dos Decepticons, uma das facções criadas depois da morte de Alpha Trion, enquanto que os Autobots, liderados por Optimus Prime, são uma fação de resistência contra o poder instituído. Até aqui as coisas estão muito equiparadas aos primeiros dois episódios da série original, mas a partir deste momento serão mais as diferenças do que as semelhanças, Bumblebee não faz parte dos Autobots, é apenas um mercenário, um pilhador de energon, Ratchet também não faz parte e tenta cuidade de todos os transformers feridos por esta guerra sem fim, Rodimus não aparece, mas Ultra Magnus ou Darcee, já da terceira geração da série original surgem como aliados de Optimus Prime. Aliás é nos Autobots que vemos uma maior descrepância com a série original, visto que os lacaios de Megatron, continuam a ser o ambicioso Starwcream, Soundwave ou Shockwave, apenas com Jetfire a surgir como comandante dos Seekers, a classe voadora dos Decepticons, a ser diferente do original, apesar do seu fim e da sua história, acabar por ser idêntica.
No entanto vamos nos focar na série em si, é claro que nos vamos lembrar da série original de vez em quando, mas olhemos com olhos de principiante para Siege. O primeiro capítulo desta guerra que parece infindável é centrada nos diálogos, muito mais do que na acção, é uma perspectiva da capacidade e da qualidade da criação destas personagens que nos leva a uma maior riqueza dos diálogos e até das analogias que vamos encontrar durante a série. É em muitos momentos uma reflexão sobre a guerra, sobre os bons e os maus, sobre o caminho da paz e da união dos seres, independentemente da facção que escolham. E não poderia ser mais actual, na verdade vamos ver muitos diálogos onde se evoca o bem comum, bem comum partilhado em outros tempos por Megatron e Optimus Prime, por guerras travadas juntos, pelo bem de Cybertron. Se olharmos por exemplo para Bumblebee que aqui não faz parte de nenhuma facção, vemos que estamos a falar da opção de escolha de cada um de nós em sermos o que quisermos. E, de facto, Bumblebee fará essa escolha, mas por que quis e não porque foi obrigado ou exilado, tal como Jetfire que também ele fará a mesma escolha, mas este por compreender que a Guerra é feita de honra, de valores e de moral, e não apenas uma história contada pelos vencedores, por uma vitória baseada na traição.
Voltando à série original dos anos 80, os Autobots fogem de Cybertron em busca de energia para reanimar o seu planeta e são perseguidos pelos Decepticons, e numa luta feroz pela galáxia acabam por danificar as suas naves a ponto de irem colidir no planet Terra. Aí a série baseou-se durante 3 temporadas nas aventuras em Terra das duas facções e na sua busca por energia, o tal energon, não só para voltarem a Cybertron mas especialmente para reanimarem o seu povo. E é com estes desenhos animados dos 80 que surgem os primeiros videojogos da série. Um ano depois da série estrear e ser um enorme sucesso, sai o primeiro jogo para o Commodore 64 na altura, desenvolvido pela Denton Designs e editado pela Ocean, um jogo super básico, onde mal se distinguiam as personagens e onde o objectivo era super básico, mas era o que havia.
Seria um ano depois que a Activision tomaria conta dos jogos dos Transformers durante duas décadas, e tudo começou com The Transformers The Computer Game Vol. 1: Battle to Save the Earth, um action role playing game, onde havia 9 cidades que tínhamos de defender dos decepticons com os nossos Autobots.
No mesmo ano mas do outro lado do mundo saia para a Famicom dois jogos, The Transformers: Mystery of Convoy, onde Ultra Magnus era a única personagem jogável, e Transformers Head Masters, que ao contrário do anterior não podíamos escolher e mudar entre robot e veículo, aqui era pré-determinado pelo nível, mas já era mais elaborado e divertido.
Apesar do enorme sucesso da série dos dois lados do continente, curiosamente muitas derivações foram surgindo da série e aquilo que aconteceu é que um jogo baseado na série original de 84 apenas voltaria a surgir em exclusivo no mercado japonês em 2003 e para a PlayStation 2.
Transformers Assault como foi apelidado pelos fãs era já muito mais complexo, até pela plataforma onde se inseria, e graficamente superior também, mas, mais uma vez fugia à história original, com a busca por parte dos Autobots de um companheiro desaparecido no planeta Zel, só que pelo meio são ludibriados pelos Decepticons que estão também no planeta para roubar todos os recursos e destruir o planeta. Neste jogo comandamos Optimus Prime, Jazz, Wheeljack, Rodimus Prime, Arcee e Kup do lado dos Autobots e do lados dos Decepticons, Megatron, Starscream, Soundwave, Galvatron, Cyclonus e Scourge.
Foi talvez através deste jogo que os restantes se seguiriam com a mesma fórmula, isto é, jogo em terceira pessoa, com ondas de inimigos e alguns objectivos, num mundo semi aberto. Apesar deste jogo não ter tido uma versão oficial americana ou europeia, o jogo acabou por chegar a muitas mãos deste lado do continente porque tinha legendas em inglês e portanto houve muita gente que mandou vir o jogo ou que forma mais ilegal, o acabou por sacar, e aqui devo dizer que eu fui um deles, tal era a vontade de jogar um jogo dos Transformers.
A verdade é que depois disto, e antes de Transformers Devastion, só saiu um jogo em formato mobile derivado da série original, e foi Transformers G1: Awakening, um turn-based tactics game, onde controlamos as nossas unidades de Autobots ou Decepticons defendendo o nosso posto e atacando o posto adversário. Podemos ficar na forma de veículo e movermo-nos mais rapidamente, sofrer menos danos, mas não podemos atacar, ou podemos ficar na versão Robot, onde nos deslocamos mais lentamente mas podemos atacar, e também sofrer mais danos. Basicamente era isso, com um rol de 23 personagens da série animada, e o verdadeiro Transformers de bolso.
Há dois jogos que ainda quero destacar, mas para dar seguimento a esta história dos videojogos dos Transformers e da série original, na verdade apenas temos mais um, e é bastante recente. Editado pela Activision e criado pela PlatinumGames, Transformers Devastion é a verdadeira memória da série de desenhados animados a ganhar vida em videojogos, não só pela sua qualidade gráfica através do cell-shading mas a manter o mesmo traço da animação, mas também por dar a hipótese de vivermos mesmo as transformações, os ataques e os movimentos das nossas personagens favoritas. É uma obra-prima para os fãs da série, com as vozes originais e tudo, e que podem recordar através da nossa análise aqui.
Mas falta então dois jogos que quis deixar para o fim, porque em certa medida não seguem os traços da história dos desenhos animados, e que por outro estão bastante mais perto desta nova trilogia da Netflix. Na verdade até são mais porque saíram versões para a Nintendo DS e Nintendo Wii U, mas vou me focar em War For Cybertron e Fall of Cybertron que saíram nas versões PS3, Xbox 360 e PC.
O primeiro encontra-se no espaço tempo da primeira parte desta nova trilogia da Netflix, a parte Siege, e é antes da partida dos Transformers para a Terra. Passa-se em Cybertron, na Guerra Civil entre Autobots e Decepticons, onde escolhemos a nossa facção, cada uma com uma campanha diferente e cronologicamente diferente também, na busca por uma nova forma de Energon, muito mais poderosa e perigosa, chamada Dark Energon. Com a possibilidade de transformar Cybertron e retomar toda a sua vida como na chamada Era Dourada, os dois líderes vão batalhar por a encontrar e dar o devido uso.
War for Cybertron era jogado na terceira pessoa, mais uma vez, aqui com as personagens a serem divididas por classes, Leader, Soldier, Scientist, e Scout, cada uma delas com as suas armas, habilidades e transformação em veículo, assim como a missão para cada um deles também era diferente e consoante à sua classe. Aqui já podíamos nos transformar sempre que quiséssemos. A grande novidade deste jogo, para além do grafismo, como é óbvio, era o facto de podermos jogar em single player ou em modo cooperativo online. O jogo surpreendeu pelo mundo rico e vivo que apresentava e com a verticalidade que oferecia.
No entanto seria o seu sucessor, Fall of Cybertron que ganharia o estatuto de culto. Com a mesma dinâmica, mais uma vez produzido pela High Moon Studios e editado pela Activision, o jogo elevou a fasquia tanto a nível gráfico como das mecânicas já apresentadas. Continuou com o formato em terceira pessoa, mas agora com a possibilidade de comandar vários elementos do mundo exterior, como era o caso de Optimus Prime que comandava Metroplex à distância, ou a combinação dos Combaticons no poderoso Bruticus que originavam verdadeiras cenas de acção cinematográficas e de um verdadeiro esplendor. A história dava seguimento à anterior, aqui com os últimos dias desta batalha a culminar numa luta titânica entre Megatron e Optimus Prime na tentativa de salvação ou destruição de Cybertron.
Para além da introdução de Metroplex e de Triptycon, também havia um grade foco na história dos Dinobots, nomeadamente de Grimlock, o seu líder, que era também uma personagem jogável. O jogo tinha, tal como o seu antecessor, um modo multiplyer online, um Escalation Mode que viria a ser mandado abaixo já este ano, com o fecho dos servidores por parte da Activision. Aliás não conseguimos encontrar estes jogos em formato digital em lado algum, visto que as relações azedaram, com a Activision a tirar o jogo das plataformas digitais.
Voltamos assim, depois desta viagem pelos videojogos, a esta primeira temporada da série da Netflix, Transformers War for Cybertron: Siege.
Atenção Spoilers!!!
Acabada a primeira temporada, e agora atenção aqui aos Spoilers, percebemos facilmente que este primeiro pedaço de história, foi um tentar de apresentar as personagens, o que faz sentido, porque, fora a geração nascida em 80 ou antes disso, é que se lembra da história original. Para alguns mais puristas poderá fazer alguma comichão não haver uma ligação tão umbilical aos desenhos animados dos anos 80, mas há vários easter eggs para esses fãs, como eu, há várias menções à serie em pormenores, há por vezes um desviar na forma, mas não no conteúdo. Um dos exemplos é Jetfire que aqui por razões diferentes passa de Decepticon para Autobot. A história vai acabar na mítica fuga dos Autobots através da sua nave, The Arc, aqui por razões diferentes, na tentativa de tirar das mãos de Megatron, o All Spark, a própria fonte de vida do planeta Cybertron, enviando através da Ponte Espacial para uma outra galáxia, e com os Autobots a fugirem através dessa ponte também. Não sendo dessa forma que acontece na animação original, acaba por fazer muito mais sentido assim.
Fim de Spoilers
Graficamente a série é um espanto, é de lacrimejar com facilidade por ver a qualidade que aqueles desenhos animados de sábado de manhã se transformaram na magnitude 3D, meio Anime de uma qualidade que nunca vimos na vida. É uma pena que não conte com as vozes originais, apesar das utilizadas não estarem drasticamente longínquas do original, mas é uma pena à mesma. Sabe a pouco, mas sabemos que há mais duas temporadas, mas ficamos com o sentimento que não queremos que acabe nunca. Agora só espero que venha efectivamente videojogos desta série e que a possam imortalizar condignamente também nesse campo, é esperar para ver.
Transformers War for Cybertron: Siege, é a primeira das três temporadas e já está disponível no Netflix.