Developer: Square Enix, xeen Inc.
Plataforma: PlayStation 5, Nintendo Switch PC
Data de Lançamento: 24 de outubro de 2024
O ano de 2024 tem sido bastante rico para quem gosta do género JRPG. Desde Like a Dragon: Infinite Wealth, passando por Persona 3 Reload e o mais recente Metaphor: ReFantazio, jogos não faltam para entreter os entusiastas deste género. A fasquia está alta para novas entradas, mas nem por isso a Square Enix se inibe de relançar alguns dos seus jogos antigos de sucesso em formato remake. Este ano já o fez com Final Fantasy VII Rebirth e traz agora o “esquecido” Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven, um remake completo de um jogo de 1993 que só saiu no Japão, naquela altura.
Esta é uma franquia que tem bastantes fãs e certamente que agora, alguns deles poderão reviver vários momentos de nostalgia ao recordar certas situações do jogo. Infelizmente isso não me vai acontecer, porque eu sou novo nestas andanças. Nesta análise, a minha perspectiva vai para aqueles que podem sair daqui com curiosidade de experimentar Romancing SaGa 2 pela primeira vez e quem sabe tornarem-se fãs desta série no futuro.
É óbvio que o jogo tem uma data de novas funções que há mais de 30 anos eram difíceis de implementar e claro, gráficos que não eram possíveis nos anos 90, embora não sejam nenhum portento. Ainda assim, há bases que se mantém inalteradas, como a essência da sua história que se mantém praticamente intacta, bem como o seu sistema de linhagem ao longo de vários séculos, que explicarei mais tarde.
A história de Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven passa-se no Império de Varennes e conta-nos os feitos de Sete Heróis que em tempos foram aclamados como salvadores, protegendo a Terra de forças malignas. No entanto, acabaram banidos pelos moradores antigos e enviados para outra dimensão. Várias lendas e mitos foram criados acerca deles com a esperança que um dia eles voltassem para salvar a Terra mais uma vez. No entanto, a história é outra e devido ao esquecimento da população pelos sacrifícios que fizeram, eles regressam sim, mas como vilões à procura de vingança.
No início assumimos o papel de Gerard, filho do Rei Leon, que o levava para treinos fora do Reino para o tornar mais forte e capaz de defender o seu povo um dia mais tarde. É após um desses treinos que quando regressam ao Castelo de Avalon que se deparam com um ataque de um dos Sete Heróis que deixou um rasto de destruição total e pior que isso acabou por matar o irmão de Gerard e filho de Leon. Perante os factos ambos juraram vingança, mas Leon também acaba por falecer, deixando Gerard no comando.
É aqui que começa verdadeiramente o jogo com Gerard a herdar os poderes do seu pai graças a um feitiço que aprendeu. É isto que se vai suceder em todo o jogo, isto porque se pensam que vão jogar sempre com o mesmo personagem, estão enganados. Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven usa um sistema de linhagem que consiste em “passar a pasta” de x em x anos e o que vamos ver são vários séculos a passar por um império que será reconstruído com vários responsáveis ao longo da história. Esta é uma maneira interessante e diferente daquela a que estou habituado em JRPGs que normalmente se baseiam numa personagem, mudando apenas os que andam à sua volta. Aqui é diferente e isso tem os seus prós e contras.
Primeiro é bom saber que existe a tal mecânica de passar os poderes entre personagens, o que significa que quando tiverem de renunciar ao cargo e passar para outro Rei, nem tudo se perde, nem têm de começar do início. Também o nosso grupo de seguidores que nos ajuda nos combates são substituídos por personagens parecidos, com as mesmas habilidades, mas com nomes diferentes. Algo que achei interessante foi quando um desses personagens secundários morre, não volta mais e teremos de o substituir por outro. Se esta é a parte boa, a má é que não criamos grandes ligações com quem quer que seja, até porque sabemos que é algo temporário.
Além disso, fica difícil acompanhar uma história que passa por várias gerações e se no início ela é contada com bastantes pormenores, num ritmo lento, até para nos dar contexto do que estamos ali a fazer, a partir de certa altura deixa de ser muito densa e basicamente o que importa é ir até ao local “x”, matar os inimigos, eliminar os bosses e seguir em frente, sem grandes desafios pelo caminho exceptuando as batalhas com os demónios que invadiram Avalon. Isto não significa que não existem outras missões secundárias, o que quero dizer é que apesar de estarem lá e ajudarem a compreender o que se está a passar no Reino, não são assim tão memoráveis quanto isso. A melhor parte é que somos nós os responsáveis por decidir o rumo de muitos acontecimentos através de escolhas que temos de fazer. Isso pode tornar a dinastia diferente de jogador para jogador ou dar motivação para repetir o jogo um dia mais tarde com outro tipo de escolhas.
Existem várias áreas do jogo que podemos explorar para encontrar tesouros, alguns deles traiçoeiros e evoluir os nosso personagens nos mais diversos atributos. Convém até perder algum tempo com isto, tal como noutros jogos do género, caso contrário, arriscam-se a seguir apenas o caminho principal da história e a serem derrotados por qualquer um dos bosses. É óbvio que caí nesta armadilha, mas que atire a primeira pedra quem nunca se importou apenas e só pelo guião principal. Esta parte só é chata porque quando se morre num boss, caso não se tenha gravado antes, nem poder suficiente, tem de se passar toda a zona de novo até chegar lá outra vez e ter uma nova oportunidade. E algumas zonas são bastante longas.
À medida que a história avança, vamos expandido o nosso Reino, mas para isso acontecer vão ter de passar grande parte do jogo a lutar. Esses combates são por turnos. Dizia eu na análise de Metaphor: ReFantazio que o estilo de combate por turnos era coisa cada vez menos usada, mas Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven não nega as origens como Final Fantasy VII Remake fez ao atualizar as suas mecânicas. Eu não me queixo do combate por turnos porque até gosto e se calhar como não joguei assim tantos jogos deste estilo ao longo da vida, ainda não me fartei como grande parte das pessoas. É importante referir que existe bastante variedade nessas lutas, quer seja pelas mais de 30 classes de combate que existem, quer seja pela diversidade e combinações que podem fazer com a comitiva que levam. Este é também um salto em relação ao jogo original que não tinha tantas classes para se escolher. Normal naquele tempo.
A nossa equipa é composta por cinco personagens que convém serem diferentes umas das outras de forma a podermos usar vários tipos de armas, diversas magias e esconder ao máximo as nossas fraquezas. Apesar do combate ser em equipa convém olhar de forma individual para os itens que cada um tem, porque na sua grande parte não podem passar de uns para os outros.
Ora os combates são bastante táticos e para nos ajudar a ter uma noção da ordem de ataques, podemos ver uma linha do tempo que nos diz quem é que vai poder ter a ação nas próximas rondas. Esta função ajuda-nos a planear e a gerir aquilo que gastamos nas habilidades, para que não se corra o risco de usar logo tudo e depois cair em desgraça. Com esta linha conseguimos prever e anular ações dos inimigos, podemos defender os nossos personagens calculando um ataque mais perigoso do outro lado, entre outras coisas. Neste tipo de luta normalmente usamos dois tipos de barra nos personagens, uma de energia de vida que é importante para não deixar morrer ninguém, correndo o risco de perder o personagem para sempre e a outra ligada às magias que temos acesso e que se vai gastando conforme as usamos. Há ainda outra função que praticamente junta todos os personagens para fazer um ataque unido. Nem sempre está disponível e por essa razão é preciso saber usar o recurso apenas quando for necessário e não assim que fica disponível.
Refrescante e diferente nas lutas por turnos, Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven usa também um sistema que premeia o tipo de ataque que usamos porque o desenvolvimento dos personagens não é feito de forma geral, mas sim agregado às habilidades que utilizamos. Quanto mais insistirmos numa certa magia, por exemplo, mais forte fica esse ataque ao longo do tempo. Enquanto se usarmos um poder de forma esporádica, acaba por demorar mais tempo a evoluir. Ainda assim, o melhor é encontrar o equilíbrio e ir diversificando os ataques, porque só assim nos tornamos mais fortes e aprendemos mais sobre os diversos estilos de combate que vamos vendo. E não se esqueçam que tudo o que aprenderem será passado para a geração seguinte quando tiverem de renunciar ao cargo.
Entre muito combate, exploração e expansão de áreas podemos ir evoluindo o nosso Reino e melhorar as nossas infra-estruturas, dando melhores condições, por exemplo, ao nosso laboratório de magias ou ao nosso departamento de desenvolvimento de armaduras. Isto leva-nos o dinheiro que ganhamos em combate e por isso, não se preocupem de estar sempre a fazê-lo. Dependendo das nossas escolhas também podemos chegar a situações mais vantajosas financeiramente. Outra forma de ganhar dinheiro é testar o que já vimos da história em testes universitários, onde nos apresentam uma série de perguntas de escolha múltipla para respondermos. Além de ser vantajoso, ainda nos pode dar acesso a materiais necessários para desenvolver as infra-estruturas do nosso Castelo.
Já vos disse que os gráficos são bons, mas não deixam ninguém de queixo caído, sobretudo para uma geração atual. Se jogarem na Nintendo, provavelmente até está muito bom, mas para mim, que joguei numa PlayStation 5, podia estar melhor. Ainda assim, destaco a direção de arte dos vários inimigos e demónios que vamos encontrar, embora se repitam muito ao longo da narrativa. A banda sonora que nos acompanha foi remasterizada, mas dá aos mais saudosistas a possibilidade de trocar para as faixas originais do jogo de 1993. Infelizmente o jogo não está traduzido para português e nestes jogos com muito texto, por muito simples que sejam as linhas de diálogo, acaba sempre por escapar qualquer coisa que pode ser importante numa das escolhas que teremos de fazer. Temo que tenha feito algumas menos positivas por causa disso, mas a culpa é toda minha e para a próxima tenho de estar mais atento.
Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven é claramente um bom remake de um jogo que poucos devem conhecer deste lado do Atlântico. Esta é uma boa oportunidade para os fãs de RPGs entrarem na franquia e descobrir mais um belo jogo deste género a juntar aos muitos que saíram durante 2024. Tem a vantagem de ser diferente dos outros na questão da sucessão de personagens ao longo de vários séculos e mantém vivo o combate por turnos com mecânicas únicas, cada vez mais raro neste tipo de jogo.